sábado, 7 de maio de 2016

Amor de mãe: uma história sobre carinho, dedicação e livros

“Todas as noites, antes de dormir, apesar do cansaço por ter trabalhado o dia todo, ela me contava histórias”. A escritora Sônia Barros, uma das colaboradoras no projeto Leia para uma criança, relata como sua mãe adotiva contribuiu para o despertar do interesse pela leitura ;-)

Por Sônia Barros
Este depoimento é uma homenagem à minha mãe adotiva, mulher especial que se fez ponte entre mim e o mundo maravilhoso dos livros. Além de leitora apaixonada, eu acabei me tornando escritora. E quando me perguntam se alguém me influenciou nessa escolha profissional, a resposta sempre causa espanto e emoção.
Minha história pessoal é prova viva de que ler para uma criança pode, sim, mudar o mundo. O meu foi totalmente transformado e iluminado por esse ato de amor, ritual inesquecível que marcou minha infância e minha memória afetiva.
Fui adotada aos três meses de idade por uma mulher solteira, que se fez minha família. Além de me salvar a vida, foi essa mulher — que mal frequentou escola e trabalhou a vida toda como empregada doméstica — quem plantou em mim a semente do amor pelos livros.
Todas as noites, antes de dormir, apesar do cansaço por ter trabalhado o dia todo, ela me contava histórias. Algumas sabidas de cor, da memória; outras, lidas de um livro; outras, ainda, inventadas. Muitas vezes, no meio de uma história ou poema, minha mãe acabava pegando no sono. Mas eu a chamava e ela, então, novamente me oferecia o céu de seus olhos e de sua voz.
E não era apenas à noite que ela me encantava com histórias, poesia e cantigas. Durante o dia, também, enquanto lavava, cozinhava, passava… E ainda mais: nas horas de folga do trabalho, me levava à Biblioteca Municipal de Santa Bárbara d´Oeste, cidade do interior de São Paulo, onde cresci e moro até hoje.
Mesmo sem ter livros meus em casa, pois não podíamos comprar, havia sempre um ou dois emprestados da biblioteca. Apesar da dificuldade em decifrar as palavras, minha mãe lia para mim. Lembro-me, principalmente, dos livros de poesia. Foi assim que conheci alguns dos grandes poetas que me acompanham até hoje: Cecília Meireles, Manuel Bandeira, José Paulo Paes…
Aos oito anos de idade ganhei um prêmio por ser a criança que mais retirava livros da biblioteca. E então pude levar para casa um livro só meu, que não precisaria devolver depois. Foi como ganhar um tesouro.
Nessa época, já alfabetizada, eu também lia para minha mãe. E ela sempre me ouvia com atenção, valorizando aquele momento tão especial. Seu olhar era de afeto e estímulo!
O livro era meu brinquedo preferido, caixa-surpresa que me fazia sonhar. Hoje, sou eu quem confecciono caixa-surpresa para que outras crianças possam sonhar. E ofereço ao meu filho o mesmo presente precioso que recebi de minha mãe, essa mulher que não me gerou, mas amparou-me na queda e cultivou minhas asas.
Fonte: Itaú