terça-feira, 16 de abril de 2013

Leitura terapêutica

Biblioterapia clínica recomenda livros para aliviar sintomas decorrentes de tratamentos de saúde, como angústia, solidão e insônia


14/04/2013 Rodolfo Stancki


A leitura engrandece a alma, escreveu uma vez Voltaire. A frase do pensador iluminista mostra o potencial do livro para agregar conhecimento, abrir portas para a imaginação e servir de refúgio para os problemas diários. Entusiastas de biblioteca defendem que ler tem poderes mágicos e pode ajudar a curar. A realidade não está muito longe disso. Médicos e psicólogos indicam a leitura para aliviar sintomas de diversas patologias. A prática recebe o nome de biblioterapia clínica, definida como a recomendação de livros para aliviar angústias pessoais, estimular emoções, promover o diálogo e ajudar pessoas com insônia. 

“A biblioterapia mostra um cuidado com o ser humano, que se manifesta ao ler, narrar ou dramatizar histórias”, diz a professora Clarice Caldin, do departamento de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista no tema, ela explica que as narrativas literárias buscam proporcionar a catarse, considerada por alguns autores como uma purificação do corpo e da mente.
Por meio da leitura, as pessoas podem se identificar com personagens ficcionais, refletindo suas próprias atitudes. “O objetivo da biblioterapia é favorecer a expressão dos pensamentos aflitivos, como uma descarga emocional, uma purgação”, observa.

Histórias

A administradora Roseli Bassi percebeu esse potencial terapêutico da leitura e criou a ONG História Viva, que conta com um time de 200 voluntários especializados em ler e contar histórias para pacientes de hospitais. “Nosso trabalho é apaziguar os sentimentos de pessoas que estão lidando com realidades difíceis. Tiramos crianças e adultos de suas doenças ao abrir um mundo de imaginações”, afirma. 

Julia Dutra, 10 anos, luta contra o câncer desde 2008. Durante alguns dias da semana, em seu quarto no Hospital das Clínicas, em Curitiba, ela recebe a visita de um contador de histórias, que lê para a menina por cerca de uma hora. No período, suas preocupações se tornam disputas entre monstros, desafios de leões e castelos de princesas. A narrativa vira uma distração, que a anima. “É uma parte do dia que adoro”, diz a menina.

Antes de sair, o voluntário deixa um recado para os pais de Julia. “É recomendado que vocês leiam para ela também, isso ajuda a fortalecer o interesse dela.” Além de distrair e relaxar, a biblioterapia por meio de contadores de histórias incentiva a aproximação com o livro.

Benefícios

Na realidade hospitalar, a leitura tira o paciente de sua rotina, de sua espera. Existem pessoas que usam livros, revistas e jornais para enfrentar a cadeira antes de serem atendidos em um consultório. “É importante que cada um saiba o tipo de leitura que o ajuda. Geralmente são as que mais agradam”, aponta Ítala Duarte, psicóloga clínica do Hospital Erasto Gaertner. O efeito terapêutico depende da disposição do paciente diante da leitura.

Um livro antes de dormir, por exemplo, pode ajudar pessoas com insônia. O médico Attilio Melluso Filho, do Centro de Distúrbios do Sono de Curitiba, diz que quanto menos alarmante e repetitiva for a narrativa, melhor a condução para a latência do sono, período que antecede o adormecer. A leitura engrandece a alma e também faz bem para a saúde.

Companhia para a solidão
Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Na sala de diálise da Santa Casa de Curitiba, Florisbal Costa passa algumas tardes lendo livros e jornais. Em tratamento por conta de um problema de rim há três anos, ele usa a leitura para combater a solidão. “Ler direciona o cérebro das pessoas sozinhas. Faz a gente pensar no que é bom”, diz.

Com 101 anos, o vendedor aposentado vive na companhia de uma enfermeira, que o ajuda. Há vários anos, pratica a rotina diária de ler jornais e revistas. “Assim me conecto com o mundo.” Como passa mais da metade da semana no hospital, a companhia dos livros também o mantém distraído. 

A leitura é estimulada para pacientes em diálise. O médico Georgio Sfredo Bertuzzo, da Santa Casa, diz que as narrativas literárias ajudam a conter a ansiedade. Afinal, são várias horas em que os pacientes não fazem nada a não ser esperar. Costa faz a sua parte, além de ler muito, ele troca livros com outros pacientes. 

Recuperação por meio de livros
Letícia Akemi/Gazeta do Povo


Para Victor D’Ambrós, 12 anos, os livros são mais importantes do que os filmes. Prefere histórias de ação, que tenham alguma coisa a ver com os videogames que joga. A prática da leitura é bastante útil no período em que fica no hospital ou em casa, se recuperando de quimioterapias. 

Victor descobriu que tem sarcoma de Ewing, um tipo de câncer que atinge os ossos, em julho do ano passado. Está reagindo bem ao tratamento, mas precisou se afastar da escola e dos amigos. “A leitura o ajuda a passar o tempo e o deixa animado”, conta a mãe, a professora Kátia D’Ambrós. 

“Gosto de ler à noite, antes de dormir”, diz o menino. A ficção literária o leva para outros mundos, que envolvem vilões, guerras mundiais e as aventuras de crianças em escolas. Apesar de colocar os livros na frente dos filmes, quando não está no hospital coloca os jogos de videogame no topo da lista de preferências. O que não deixa de ser uma distração terapêutica.

Fonte: Gazeta do Povo

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Leitura: um hábito para a vida inteira que pode começar antes de nascer

  Edição: Tereza Barbosa



A escritora Alessanda Roscoe defende o Aletramento Fraterno (Portal de Notícias do Senado / www.senado.gov.br)

Brasília - Iniciativas de incentivo à leitura se espalham por todo o país. No Distrito Federal, a escritora Alessanda Roscoe defende o Aletramento Fraterno que consiste em ler para os filhos ainda durante a gravidez. O nome tem uma razão de ser: estimular o hábito da leitura em uma criança é uma tarefa que pode envolver toda a família.

Autora de 17 livros, a escritora conta que, desde a primeira gravidez, lê em voz alta para os filhos. Quando ficou grávida pela terceira vez, a parceria com o marido e os filhos se intensificou. “Aos poucos, meus filhos mais velhos e meu marido foram entrando no ritual e tivemos excelentes momentos lendo para a barriga”, diz.
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Alessandra faz oficinas sobre o assunto e orienta “casais grávidos”. É dela também a ideia do clube de leituras para bebês, o Uni Duni Ler. “É maravilhoso ver como eles curtem, interagem e adquirem intimidade com as histórias e os livros”.

O clube surgiu em 2010 na creche da filha, Luiza. Cada um dos responsáveis pelas crianças comprou dois livros de uma lista de 30 para que o acervo fosse montado. Mesmo com a participação ativa dos pais, quem escolhe o que levar para casa são as crianças, nas cirandas literárias promovidas semanalmente. Alessandra esclarece que os bebês não leem, mas olham e folheiam os livros e até contam as histórias do seu jeito.

Atualmente, o clube tem 21 sócios efetivos e conta com os amigos do Uni Duni Ler, cerca de 200 pessoas. “O espaço do clube é restrito porque funciona em uma creche, mas promovemos encontros festivos, dos quais todos podem participar”. A escritora ressalta que nesses encontros, muitas vezes são trazidos convidados, no caso, os autores dos livros lidos no clube.

Segundo ela, é preciso respeitar o ritmo dos pequenos, que pedem para ler sempre as mesmas histórias. “Os estudos explicam que a repetição faz parte do desenvolvimento das crianças na primeira infância, elas pedem para ouvir a mesma história infinitas vezes por quererem ver se tudo será como da primeira vez, sentem-se seguras quando já conhecem o final”, ressalta.

A bancária Fernanda Martins Viana é mãe de dois sócios do clube: Carlos, mascote do grupo, de um ano e dez meses e Gabriel, de cinco anos. Para ela, a iniciativa tem que ser copiada. “Nós nos tornamos também leitores. Eu espero ansiosamente o dia do encontro, que me leva para o universo infantil.”

Segunda ela, o filho mais velho já expressa o quanto gosta e o mais novo já está totalmente à vontade nesse mundo. “Ele senta no colo de um pai, ouve um pouco, depois vai para outro. Carlos começa a ter uma intimidade com o livro, que não se torna uma obrigação.”

A criança que é incentivada a ler desde cedo vai criar com o livro uma relação de afeto, diferente daquele que é obrigada a ler. Por isso, a escritora defende que a ideia do clube do livro seja replicada. “É fácil, basta apenas ter uma mala com livros”.

As histórias da escritora surgem de situações que vive com os filhos e com outras crianças. Entre as obras publicadas estão A Fada Emburrada; O Jacaré Bile; O Menino que Virou Fantoche; A Caixinha de Guardar o Tempo e o Guia de Leitura Para Bebês e Pré-Leitores Uni Duni Ler, que já foi distribuído em creches e escolas públicas no Rio Grande do Sul.

Um dos livros de Alessandra, escrito com a filha Beatriz quando tinha 5 anos de idade, inspirou o curta-metragem de animação A Menina que Pescava Estrelas, de 2008.

Fonte: EBC