quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Sempre leia o original

O artigo é de 2003, faz uma reflexão sobre bibliotecas, escolas, professores, alunos, livros e leitura. O tema é sempre atual. Coisas que presenciamos no cotidiano de escolas, faculdades e universidades. Boa leitura! 

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Stephen Kanitz*

*Stephen Kanitz é administrador por Harvard (http://ww.kanitz.com.br)

 "Na próxima aula em que seu professor fizer o resumo de um livro só, ou lhe entregar uma apostila mal escrita, levante-se discretamente e vá direto para a biblioteca"


Uma greve geral dos professores alguns anos atrás teve uma conseqüência interessante. Reintroduziu, para milhares de estudantes, o valor esquecido das bibliotecas. Os melhores alunos readquiriram uma competência essencial para o mundo moderno – voltaram a aprender sozinhos, como antigamente. Muitos descobriram que alguns professores nem fazem tanta falta assim. Descobriram também que nas bibliotecas estão os livros originais, as obras que seus professores usavam para dar as aulas, os grandes clássicos, os autores que fizeram suas ciências famosas. 

Muitos professores se limitam a elaborar resumos malfeitos dos grandes livros. Quantas vezes você já assistiu a uma aula em que o professor parecia estar lendo o material? Seria bem mais motivador e eficiente deixar que os próprios alunos lessem os livros. Os professores serviriam para tirar as dúvidas, que fatalmente surgiriam. 

Hoje, muitas bibliotecas vivem vazias. Pergunte a seu filho quantos livros ele tomou emprestado da biblioteca neste ano. Alguns nem saberão onde ela fica. Talvez devêssemos pensar em construir mais bibliotecas antes de contratar mais professores. Um professor universitário, ganhando 4.000 reais por mês ao longo de trinta anos (mais os cerca de vinte da aposentadoria), permitiria ao Estado comprar em torno de 130.000 livros, o suficiente para criar 130 bibliotecas. Seiscentos professores poderiam financiar 5.000 bibliotecas de 10.000 livros cada uma, uma por município do país. 

Universidades são, por definição, elitistas, para a alegria dos cursinhos. Bibliotecas são democráticas, aceitam todas as classes sociais e etnias. Aceitam curiosos de todas as idades, sete dias por semana, doze meses por ano. Bibliotecas permitem ao aluno depender menos do professor e o ajudam a confiar mais em si. 

Nunca esqueço minha primeira visita a uma grande biblioteca, e a sensação de pegar nas mãos um livro escrito pelo próprio Einstein, e logo em seguida o de cálculo de Newton. Na época, eu queria ser físico nuclear. 

Infelizmente, livros nunca entram em greve para alertar sobre o total abandono em que se encontram nem protestam contra a enorme falta de bibliotecas no Brasil. Visitei no ano passado uma escola secundária de Phillips Exeter, numa cidade americana de 30.000 habitantes, no desconhecido Estado de New Hampshire. Os alunos me mostraram com orgulho a biblioteca da escola, de NOVE andares, com mais de 145.000 obras. A Biblioteca Mário de Andrade, da cidade de São Paulo, tem 350.000. A bibliotecária americana ganhava mais do que alguns dos professores, ao contrário do que ocorre no Brasil, o que demonstra o enorme valor que se dá às bibliotecas nos Estados Unidos. 

Não quero parecer injusto com os milhares de professores que incentivam os alunos a ler livros e a freqüentar bibliotecas. Nem quero que sejam substituídos, pois são na realidade facilitadores do aprendizado, motivam e estimulam os alunos a estudar, como acontece com a maioria dos professores do primário e do colegial. Mas estes estão ficando cada vez mais raros, a ponto de se tornarem assunto de filme, como ocorre em Sociedade dos Poetas Mortos, com Robin Williams. 

Na próxima aula em que seu professor fizer o resumo de um livro só, ou lhe entregar uma apostila mal escrita, levante-se discretamente e vá direto para a biblioteca. Pegue um livro original de qualquer área, sente-se numa cadeira confortável e leia, como se fazia 500 anos atrás. Você terá um relato apaixonado, aguçado, com os melhores argumentos possíveis, de um brilhante pensador. Você vai ler alguém que tinha de convencer toda a humanidade a mudar uma forma de pensar. 

Um autor destemido e corajoso que estava colocando sua reputação, e muitas vezes seu pescoço, em risco. Alguém que estava escrevendo apaixonadamente para convencer uma pessoa bastante especial: você.

Fonte: Veja , São Paulo, ano 36, n. 19, p. 20, 14 maio 2003. 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O livro é uma opção

Pesquisa aponta diminuição do índice de leitura no país. Para parte da população, seria impensável, no tempo livre, ler uma obra em vez de ver TV ou navegar na internet. Confira entrevista no ‘Alô, Professor’ com coordenadora do estudo. 
 
Por: Thiago Camelo/ Ciência Hoje On-line
Publicado em 04/10/2012 | Atualizado em 04/10/2012
 
O livro é uma opção
Como fazer com que mais pessoas se interessem pela leitura? A socióloga Zoara Failla, coordenadora da pesquisa, responde ao 'Alô, Professor'. (foto: Georg Mayer/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0) 
 
Os números não deixam espaço para o otimismo. É a conclusão a que se chega quando se toma conhecimento dos dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pela Fundação Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência. O estudo, que está na sua terceira edição e envolveu 5.012 pessoas em 315 municípios do país, traçou um panorama preocupante: houve uma queda de 9% de leitores em comparação a 2007, o último ano em que a pesquisa foi feita.

Estatisticamente, seria possível afirmar que 50% da população do país, ou 88 milhões de pessoas, não leem sequer um livro por ano. Ao mesmo tempo, aumentou o número de pessoas que afirmaram passar o tempo de lazer na internet ou vendo televisão – para esses entrevistados, a leitura não seria uma opção de passatempo.

Nesse cenário pessimista, conquistar novos e jovens leitores seria essencial. Mas como? É uma das perguntas que a socióloga Zoara Failla, coordenadora do estudo, tenta responder em entrevista abaixo ao ‘Alô, Professor’.
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A socióloga Zoara Failla com sua pesquisa, Retratos de Leitura no Brasil, em mãos: o estudo virou livro e foi lançado na Bienal deste ano em São Paulo. (foto: divulgação)

‘Alô, Professor’: A pesquisa aponta que o número de pessoas que preferem ver TV e navegar na internet nas horas de lazer vem aumentando. Como fazer para o livro ser também uma forma de entretenimento?
 

Zoara Failla: Primeiro, entendo que a internet e a TV não roubam leitores. As pessoas que vão navegar na internet ou ver TV não desenvolveram o hábito de ler por prazer. E isso, sem dúvida, começa na escola. As escolas em geral não desenvolvem práticas de leitura. Na verdade, o que se faz é apresentar a leitura como tarefa, como a obrigação que o estudante terá quando sair da escola. Toda a questão começa com o despertar do interesse pela leitura.

Já que aumenta o número de pessoas navegando na internet, não seria o caso de incentivar a leitura nessa plataforma? Livros digitais, por exemplo, poderiam ajudar a aumentar o número de leitores?Quem não gosta de ler não vai procurar livros digitais. A pessoa só vai fazer isso se gostar de ler. Do contrário, vai para as redes sociais ou para alguma plataforma de interação. Em geral, o que se lê na internet? Recados, mensagens cifradas e sem conteúdo. As pessoas se comunicam, disso eu não tenho dúvida. Mas existe uma diferença grande entre informação e conhecimento. Quem usa a internet dessa forma não desenvolve conhecimento.

E como se desenvolve o conhecimento?É importante acessar conteúdos mais complexos, de maior qualidade, que leve a pessoa a desenvolver capacidade crítica e de concentração. O livro é um conteúdo mais complexo. Este é o grande problema da informação pasteurizada: ela não dá vazão ao pensamento crítico. Rouba o tempo da pessoa.

Qual seria a importância da leitura num sentido prático e mais funcional?A leitura é importante na vida social e profissional. Na prática profissional, por exemplo, quem tem capacidade crítica se diferencia, consegue ter um pensamento mais estratégico, faz relação entre as coisas e tem aptidão para usar aquilo que aprendeu. Essas qualidades podem ser levadas para a vida pessoal também.

Como você avalia as campanhas de leitura promovidas pelo Estado?Toda campanha de leitura é importante. Há essa tendência de seguir modismos, e é inegável que uma celebridade dizer que o livro é importante traz leitores. Você percebe que as pessoas que são formadoras de opinião têm influência. É legal fazer o livro entrar na moda. Além de ter bijuteria da celebridade, a pessoa passa a querer ler a obra que a celebridade está lendo. É como torcer por um time de futebol: ninguém nasce com um time, ninguém nasce gostando de futebol. Mas o pai incentiva a criança o tempo todo, estimula-o a gostar de futebol. Dá bola, camisa – o pai valoriza o esporte, a família valoriza. De algum jeito é passado para a criança que gostar de futebol é bom. Isso deveria acontecer com o livro e com questões culturais como um todo.

De que maneira?É importante ler na frente da criança, presenteá-la com livros, criar jogos de perguntas sobre o livro que ela está lendo. É importante criar esse espaço da leitura na vida da criança.

A pesquisa aponta o professor como a pessoa que mais influencia a pessoa a ler. Qual seria o papel da escola na promoção da leitura?
A escola é um espaço privilegiado. E o professor deve saber ler bem, gostar de ler. Senão, ele não saberá fazer o marketing correto. Os clássicos são maravilhosos, mas você tem que ter compreensão do que está lendo para poder ensinar. E os clássicos exigem conhecimento. Machado de Assis é maravilhoso, mas é complexo. Pode ser difícil para o aluno ler Machado de Assis. O importante é tentar identificar do que o adolescente gosta, o que ele quer ler.
O importante é desenvolver o hábito da leitura, divulgar que há pessoas que não conseguem dormir sem ler!

E há ‘o livro certo’?
Não! Pode ser Harry Potter, Crepúsculo... Pode ser gibi! O importante é desenvolver o hábito da leitura, divulgar que há pessoas que não conseguem dormir sem ler! Com o tempo, o jovem acha o seu caminho, desenvolve o seu gosto.

Como o professor deve lidar com a diferença de gostos em sala de aula na hora de passar uma obra para ser lida no semestre?O professor deve conhecer a sua sala de aula. É preciso escolher o livro que contemple a maioria. Ou, quem sabe, dar algumas opções, apresentar cinco ou seis livros. As crianças não são tão diferentes assim. A maioria tem gosto e interesse parecidos.

A pesquisa aponta que o índice de leitura aumentou no Nordeste e caiu no Sul e no Sudeste. A que a senhora atribui esse fato?A principal explicação é o envelhecimento da população no Sul e no Sudeste em comparação ao Nordeste. No Nordeste, há mais jovens nas escolas. E é justamente no período escolar, dos 5 aos 17 anos, em que mais se lê. Por outro lado, na pesquisa, notamos que se lê mais espontaneamente – sem incentivos externos, como o do professor – no Sul e no Sudeste.

Você é mais otimista ou pessimista quanto ao cenário de leitura no país?Não dá para ficar otimista com os números que temos. O ponto positivo é que esses números podem gerar inquietação nos governantes, incentivar ações mais efetivas. Não só nos governantes, mas também nos pais e nos educadores. São importantes também essas ações individuais: o pai dar livros de presente para o filho, o professor desenvolver atividades em torno da leitura, indicar livros na biblioteca... São ações muito simples que geram enorme resultado.

Fonte: Ciência Hoje

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um papo sobre o processo de leitura

 
A leitura é mais do que uma atividade e traz grandes benefícios ao ser humano. Leitura é lazer, prazer, conhecer, viajar, sociabilizar e enriquecer culturalmente. Ler contribui para o sucesso da criança na formação escolar.

Então, vamos bater um papo sobre o processo de leitura?

Como iniciar o processo de leitura?

Ler é decodificar símbolos, é compreender a expressão escrita. A melhor maneira de se começar o processo de leitura é através do próprio livro. Uma criança, desde a primeira infância, tem que estar rodeada por livros. E não é só isso: Os bebês devem pegar apertar, morder, experimentar, devolver, pegar de volta, olhar, abrir e fechar. Não tem problema se vai estragar, ficar babado, virar a página de um jeito brusco ou se está de cabeça para baixo: o importante é que este livro, que chamamos de ‘livro-brinquedo’, faça parte das primeiras descobertas do seu filho. Eles podem ser de travesseiro, de banho, cartonados, o que importa é que farão parte da vida da criança e certamente ele se lembrará disso na vida adulta.

Quando iniciar o processo de leitura?

Certo dia, li uma matéria com a grande escritora Russa Tatiana Belinky, que tem livros espetaculares para crianças em fase de processo de leitura. Tatiana contava que, quando sua filha estava com três meses de idade, perguntou a um psicólogo:
Quando iniciar o processo de leitura?
E ele respondeu: Já deveria ter começado!
Então, mãos a obra!

E na escola?

O ato de aprender a ler é, sem dúvida, o maior desafio que todas as crianças enfrentam nas fases iniciais da escolarização. Como desenvolver a capacidade leitora?
Vejo na leitura um salto para a formação de cidadãos e esse é um dos papéis essenciais da escola. Alguns modelos e métodos de ensino favorecem menos ou mais a criança, no entanto existem desenvolvimentos em todos eles. O desenvolvimento ocorre através do estímulo, das cores, das ilustrações. Um professor, acima de tudo, deve envolver o seu aluno em um “campo literário”, onde a imaginação e a curiosidade devem ser uma grande janela aberta e é lá onde o livro deve estar!
E o processo vai ocorrer naturalmente…
Vocês conhecem “O menino que aprendeu a ver”, da escritora Ruth Rocha? É uma belíssima demonstração de como a criança pré-leitora vê o mundo, um livro que vale a pena ser entendido pelos adultos.

Como os pais devem incentivar a leitura?
  • A primeira coisa que você, como pai ou mãe, deve fazer para estimular a leitura nas crianças “é ler”! Os pequenos refletem muito do que nós somos.
  • Os livros ilustrados e com poucas palavras podem ser usados porque chamam a atenção das crianças. Ela aprenderá sobre a estrutura da linguagem!
  • Conte histórias! Questione seus filhos, dê espaço para que ele também coloque suas questões, você vai se surpreender com o resultado da leitura compartilhada. É também uma ótima maneira de você estar perto do seu filho, conhecê-lo e entendê-lo.
  • Existem ótimos programas de leitura nas bibliotecas, espaços públicos e livrarias. Acompanhe seu filho em um desses. Pesquise!
  • Tenha sempre disponíveis materiais como lápis coloridos e papéis. Faça com que a criança se expresse através deles.
  • Que tal a aquisição de um dicionário infantil? Comece a procurar os de imagens, use a descoberta de significados!
Então, compartilhamos aqui no Bloguito uma das fases mais lindas que a criança pode ter. Você pode incentivar, estimular e crescer junto com o seu pequeno. Lembre-se que nesse processo, todos nós saímos campeões.

Aproveitem!
Um grande beijo de livro,
Cris Quintas
www.cristianequintas.com

Fonte: Bloguito