sábado, 27 de outubro de 2012

O maravilhoso prazer de ler

Carlos Eduardo

Vários são os prazeres e as funções da leitura. Com ela, pode-se obter mais informação mais saber, refletir sobre algo, entre utras utilidades. A leitura pode ser comparada como o alimento, pois por meio dela pode-se saborear, mastigar, engolir determinado texto e se nutrir de informações e conhecimentos.

Há inúmeros prazeres que uma leitura pode trazer, depende do objetivo de cada leitor, pois por meio desse ato, o ser leitor está buscando aquilo que necessita para suprir o que sente. Caso esteja se sentindo só, a leitura é uma das mais belas e seguras companhias, já que por meio dela pode-se viajar para os lugares nunca dantes conhecidos.

Ainda sobre a questão do alimento, pode-se alimentar através do ato de ler,  se estiver com fome de saber, e pode-se até mesmo fazer a pergunta do tipo "que necessidade se tem? Está com vontade de 'comer' que tipo de leitura?"

Através desses questionamentos, pode-se escolher o 'alimento' correto, ou seja, a leitura correta, de acordo com as necessidades de cada um.

O prazer de ler é uma das ferramentas mais importantes paa se obter sucesso no ato da leitura, mas esse processo precisa também obter um trabalho social, ou seja, as letras, as palavras, frases, textos dos mais variados padrões e funções estão espalhaos pelo mundo, de forma a ajudar aos cidadãos a terem uma vida mais plena e digna.

E o mais interessante de tudo issoé que esse prazer em ler está associado a uma ligação entre os seres leitores, que desde crianças podem aprender e ter a oportunidade de usufruir desse prazer desde pequenos, quando os adultos leem para os seus filhos, ou os professores leem para seus alunos e, dessa forma, os pequenos que ainda não conseguem ler sozinhos, para si, obtêm esse prazer através do outro ser.

Esses contadores de histórias, por sua vez, facilitam o começo da leitura para essas crianças, que mais tarde farão o mesmo por outras e assim por diante, é um ciclo.

Todos os seres humanos possuem o direito de saber ler e escrever, é sabido que nem todos podem usufruir desse direito, mas a cada dia está se percebendo o crescimento e a cionscientização de que ler precisa fazer parte da vida de todos os meninos, meninas, homens e mulheres, visto que estes possuem a capacidade de pensar, refletir, memorizar, aprender, obter o conhecimentoe as informações de que precisam.

Através desse direito, acontece uma dinâmica bem interessante, ou seja, aquilo que uma pessoa escreve, outra supostamente lerá e fará uso daquilo, seja para uma informação, na leirtura de um mapa, nos preços dos supermercado, bulas de remédio, na legenda do cinema, nos recados dos professores na agenda escolar, no letreiro do outdoor, nas placas de avisos, nos cartazes em geral, nas campanhas publicitárias, na lousa das escolas, no jornal, nas revistas, nas cartas, nas mensagens enviadas pelos celulares, ou bips, nas internet, enfim, vários são os modos de se relacionar , fazendo com que esse direito de cidadania, que é a leitura, possa realmente acontecer no dia a dia das pessoas.

Então, está esperando o que para começar uma bela e interessante leitura?

Carlos Eduardo, Especialista em Língua Portuguesa aplicada na sala de aula, coordenador do Programa O POVO na Educação do Jornal O POVO - Fortaleza-CE e professor de Língua Portuguesa de ensino fundamental e médio.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Como a biblioteca ajuda na formação de jovens leitores

 A leitura para as crianças é importante para formar adultos leitores, com mais facilidade para escrever e se comunicar. Quase todos os brasileiros concordam com isso

Foto: Cintia Sanchez / Divulgação


A leitura para as crianças é importante para formar adultos leitores, com mais facilidade para escrever e se comunicar. Quase todos os brasileiros concordam com isso, mas apenas 37% costuma ler para as crianças, segundo pesquisa realizada pela Fundação Itaú em parceria com o Datafolha. Uma visita à biblioteca pode ajudar a mudar essa realidade.

Na biblioteca, há muito mais variedade de obras, além de espaços especiais para realizar a leitura. Para as crianças, ter o hábito de frequentar uma biblioteca, além de trazer grande aprendizado, pode ser uma grande diversão.

No entanto, essa também não é uma realidade no Brasil. Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro, 67% dos entrevistados declararam a existência de uma biblioteca pública no bairro ou na cidade em que moram e, entre esses, 71% a classificaram como de "fácil acesso", porém apenas 24% afirmaram frequentá-las e somente 12% costumam ler em bibliotecas. Uma possível explicação para essa "impopularidade" das bibliotecas está na representação desses espaços no imaginário da população. A maioria as associa a lugares para estudar (71%) ou pesquisar (61%). Poucos veem as bibliotecas como espaços de lazer (12%) ou para passar o tempo (10%). Um outro dado que chama a atenção é que 33% afirmaram que "nada" os faria frequentar uma biblioteca.

Para falar sobre a importância e as possibilidades das bibliotecas, conversamos com Maria Antonieta Cunha, diretora do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas da Biblioteca Nacional, e Marcos Afonso Pontes de Souza, diretor da Biblioteca da Floresta, uma biblioteca especializada em assuntos e autores da Amazônia e do Acre, criada pelo Governo do Estado do Acre.

A função da biblioteca: O objetivo de uma biblioteca é colocar à disposição dos usuários materiais do seu interesse, mas foi-se o tempo em que as bibliotecas eram lugares chatos e empoeirados. "A biblioteca é extremamente dinâmica e progride cada vez mais com o desenvolvimento da própria ideia da ciência da informação", diz Maria Antonieta. "Em uma biblioteca, coexistem, por exemplo, o computador, a internet e outras artes que estabelecem um diálogo importante com a literatura para a formação da cabeça do cidadão".

A biblioteca não pode ser vista apenas como um lugar de consulta e pesquisa para complementar o currículo da escola.

Formando leitores: Para aproximar a população dos livros, a biblioteca não deve se limitar a suas quatro paredes. "Dá para criar uma série de atividades seja na empresa, na escola, na praça pública ou no presídio e aí a biblioteca estará cumprindo o seu papel que é ajudar a formar cidadãos leitores", explica Maria Antonieta. Para a diretora, a biblioteca cria leitores ao desenvolver neles o gosto pelo conhecimento e o gosto pela literatura e artes em geral. No entanto, no geral, as bibliotecas não estão preparadas para isso. "Os bibliotecários e os espaços que nós temos, muitas vezes, não facilitam essa ação", diz.

A biblioteca e as crianças: As crianças estão sempre em busca de conhecimento. Por isso, a biblioteca é o lugar ideal para os pequenos. Algumas bibliotecas têm atividades especiais para as crianças. A Biblioteca da Floresta, por exemplo, desenvolveu uma série de atividades na Semana da Criança, como contações de histórias e fantoches, jogos online educativos e jogos de tabuleiros, cantigas de roda e piquenique.

Fazer rodas de leitura, trazer autores de livros, inventar histórias ou até mesmo deixar a criança se movimentar livre para a biblioteca são bons exemplos de atividades, segundo Maria Antonieta. "Fazendo da biblioteca um espaço não só de leitura, mas de criação, nós conseguimos fazer a criança se interessar tanto pelo espaço da biblioteca quanto pela leitura, que é o objetivo maior", explica.

Como aproveitar a biblioteca: São os adultos, professores e pais, que despertam o interesse da criança pela biblioteca. No entanto, ir à biblioteca não deve ser um castigo ou uma obrigação. "É preciso fazer uma visita não burocrática, mas de sensibilização do espaço", diz Marcos Afonso. Para Maria Antonieta, "a biblioteca deve ser apresentada como um espaço de escolha de leituras. É um lugar para desvendar um mundo".

Pensando na comunidade: A biblioteca deve atender a comunidade. Nesse sentido, a Biblioteca da Floresta é inovadora por ser temática. O acervo é voltado para a história da região, com material sobre os índios, os seringueiros, a floresta e a trajetória da luta socioambiental da Amazônia. Maria Antonieta explica que algumas bibliotecas estão inseridas em espaços onde é importante ter essa especificidade, como é o caso de Rio Branco. "Conforme a localização e o interessa da comunidade, deve haver sim uma linha dentro do arquivo que contemple o tema que é uma grande demanda daquela comunidade". Porém, mesmo nas bibliotecas temáticas, é importante que o acervo também seja variado, para atrair e conquistar novos leitores.

domingo, 21 de outubro de 2012

30 mandamentos para ser leitor, escritor e crítico

Decalógo do leitor

Por Alberto Mussa

I - Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.

II - Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinqüenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves.

III - Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ônibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que você não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.

IV - Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que você vai ler.

V - Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.

VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.

VII - Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos. Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.

VIII - Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.

IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, em no máximo 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.

X - Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental. O fato de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento, você será um leitor.
 Decálogo do autor

Por Miguel Sanches Neto

Depois de leitor, você pode se tornar, então, escritor– embora, pasme, muitos hoje pulem a leitura, por julgá-la dispensável, e já desejem publicar

I - Não fique mandando seus originais para todo mundo.Acontece que você escreve para ser lido extramuros, e deseja testar sua obra num terreno mais neutro. E não quer ficar a vida inteira escrevendo apenas para uma pessoa. O que fazer então para não virar um chato? No passado, eu aconselharia mandar os textos para jornais e revistas literárias, foi o que eu fiz quando era um iniciante bem iniciante. Mas os jovens agora têm uma arma mais democrática. Publicar na internet. Há muitos espaços coletivos, uma liberdade de inclusão de textos novos e você ainda pode criar seu próprio site ou blog, mas cuidado para não incomodar as pessoas, enviando mensagens e avisos para que leiam você.

II - Publique seus textos em sites e blogs e deixe que sigam o rumo deles. Depois de um tempo publicando eletronicamente, você vai encontrar alguns leitores. Terá de ler os textos deles, e dar opiniões e fazer sugestões, mas também receberá muitas dicas.

III - Leia os contemporâneos, até para saber onde é o seu lugar. Existe um batalhão de internautas ávidos por leitura e em alguns casos você atingirá o alvo e terá acontecido a magia de um texto encontrar a pessoa que o justifica. Mas todo texto escrito na internet sonha um dia virar livro. Sites e blogs são etapas, exercícios de aquecimento. Só o livro impresso dá status autoral. O que fazer quando eu tiver mais de dois gigas de textos literários? Está na hora de publicar um livro maior do que Em busca do tempo perdido? Bem, é nesse momento que você pode continuar sendo um escritor iniciante comum ou subir à categoria de iniciante com experiência. Você terá que reduzir essas centenas e centenas de páginas a um formato razoável, que não tome muito tempo de leitura de quem, eventualmente, se interessar por um livro de estréia. Para isso,
você terá de ser impiedoso, esquecer os elogios da mulher e dos amigos e selecionar seu produto, trabalhando duro para que fique sempre melhor.

IV - Considere apenas uma pequenina parte de toda a sua produção inicial, e invista na revisão dela, sabendo que revisar é cortar. O livro está pronto. Não tem mais do que 200 páginas, você dedicou anos a ele e ainda continua um iniciante. Mas um iniciante responsável, pois não mandou logo imprimir suas obras completas com não sei quantos tomos, logo você que talvez nem tenha completado 30 anos. Mas você quer fazer circular a sua literatura de maneira mais formal. Quer o livro impresso. E isso é hoje muito fácil. Você conhece um amigo que conhece uma gráfica digital que faz pequenas tiragens e parcela em tantas vezes. O livro está pronto. E anda sobrando um dinheirinho, é só economizar na cerveja.

V - Gaste todo seu dinheiro extra em cerveja, viagens, restaurantes e não pague a publicação do próprio livro. Se você fizer isso, ficará novamente ansioso para mandar a todo mundo o volume, esperando opiniões que vão comparar o seu trabalho ao dos mestres. O livro impresso, mesmo quando auto-impresso, dá esta sensação de poder. Somos enfim Autores. E podemos montar frases assim: Borges e eu valorizamos o universal. Do ponto de vista técnico, Borges e eu estamos no mesmo nível: produzimos obras impressas; mas a comparação não vai adiante. Então como publicar o primeiro livro se não conhecemos ninguém nas editoras? E aí começa um outro problema: procurar pessoas bem postas em editoras e solicitar apresentações. Na maioria das vezes isso não funciona. E, mesmo quando o livro é publicado, ele não acontece, pois foi um movimento artificial.

VI - Nunca peça a ninguém para indicar o seu livro a uma editora. Se por acaso um amigo conhece e gosta de seu trabalho, ele vai fazer isso naturalmente, com alguma chance de sucesso. Tente fazer tudo sozinho, como se não tivesse ninguém mais para ajudar você do que o seu próprio livro. Sim, este livro em que você colocou todas as suas fichas. E como você só pode contar com ele...

VII - Mande seu livro a todos os concursos possíveis e a editoras bem escolhidas, pois cada uma tem seu perfil editorial. É melhor gastar seu dinheiro com selos e fotocópias do que com a impressão de uma obra que não será distribuída e que terá de ser enviada a quem não a solicitou. Enquanto isso, dedique-se a atividades afins para controlar a ansiedade, porque essas coisas de literatura demoram, demoram muito mesmo. Você pode traduzir textos literários para consumo próprio ou para jornais e revistas, pode fazer resenhas de obras marcantes, ler os clássicos ou simplesmente manter um diário íntimo. O importante é se ocupar. Com sorte e tendo o livro alguma qualidade além de ter custado tanto esforço, ele acaba publicado. Até o meu terminou publicado, e foi quando me tornei um iniciante adulto. Tinha um livro de ficção no catálogo de uma grande editora. E aí tive de aprender outras coisas. Há centenas de livros de iniciantes chegando aos jornais e revistas para resenhas e uma quantidade muito maior de títulos consagrados. E a maioria vai ficar sem espaço nos jornais. E é natural que os exemplares distribuídos para a imprensa acabem nos sebos, pois não há resenhistas para tantas obras.

VIII - Não force os amigos e conhecidos a escrever sobre seu livro. Não quer dizer que eles não possam escrever, podem sim, mas mande o livro e, se eles não acusarem recebimento ou não comentarem mais o assunto, esqueça e não lhes queira mal, eles são nossos amigos mesmo não gostando do que escrevemos. Se um ou outro amigo escrever sobre o livro, festeje mesmo se ele não entender nada ou valorizar coisas que não julgamos relevantes em nosso trabalho. E mande umas palavras de agradecimento, pois você teve enfim uma apreciação. E se um amigo escrever mal de nosso livro, justamente dessa obra que nos custou tanto? Se for um desconhecido, ainda vá lá, mas um amigo, aquele amigo para quem você fez isso e aquilo.

IX - Nunca passe recibo às críticas negativas. Ao publicar você se torna uma pessoa pública. E deve absorver todas as opiniões, inclusive os elogios equivocados. Deixe que as opiniões se formem em torno de seu trabalho, e talvez a verdade suplante os equívocos, principalmente se a verdade for que nosso trabalho não é lá essas coisas. O livro está publicado, você já pensa no próximo, saíram algumas resenhas, umas superficiais, outras negativas, uma muito correta. Você é então um iniciante com um currículo mínimo. Daí você recebe a prestação de contas da editora, dizendo que, no primeiro trimestre, as devoluções foram maiores do que as vendas. Como isso é possível? Vejam quantos livros a editora mandou de cortesia. Eu não posso ter vendido apenas 238 exemplares se, só no lançamento, vendi 100, o gerente da livraria até elogiou – enfim uma vantagem de ter família grande.

X - Evite reclamar de sua editora. Uma editora não existe para reverenciar nosso talento a toda hora. É uma empresa que busca o lucro, que tem dezenas de autores iguais a nós e que quer ter lucro com nosso livro, sendo a primeira prejudicada quando ele não vende. Não precisamos dizer que é a melhor editora do mundo só porque nos editou, mas é bom pensar que ocorreu uma aposta conjunta e que não se alcançou o resultado esperado. Mas que há oportunidades para outras apostas e, um dia, quem sabe...Foi tentando seguir estas regras que consegui ser o autor iniciante que hoje eu sou.

Decálogo do crítico

Por Michel Laub

Ler por obrigação, ganhar pouco, ser odiado por autores criticados ou ignorados por você. Ante tantos dissabores, saiba para que serve, afinal, fazer crítica literária

I - Um bom começo pode ser a leitura de O imperador do vinho, de Elin McCoy, a biografia do americano Robert Parker. Trata-se da figura mais polêmica do universo milionário da enologia. Uma nota alta na The Wine Advocate, sua newsletter, é capaz de enriquecer um fabricante; uma nota baixa pode significar a falência. O olfato de Parker é segurado em cerca de US$ 1 milhão. Ao longo dos anos, percebeu-se que ele gostava de vinhos frutados. Muitas propriedades, até algumas tradicionais da França, passaram a chamar especialistas para estudar o solo, mudar a forma do plantio e da colheita, tudo para colher uvas que originassem vinhos adequados a esse gosto.

II - Saiba que esse talvez seja o exemplo máximo de crítico bem-sucedido no mundo de hoje – rico de fato, influente de fato, uma presença de fato essencial em seu meio. Quase todos os outros profissionais da categoria, trabalhem eles com música, cinema, gastronomia, televisão ou concursos de beleza, estão bem mais próximos da figura descrita por George Orwell em Confissões de um resenhista: “Trinta e cinco anos, mas aparenta cinqüenta(...) [trabalha num] conjugado frio, mas abafado (...). Dos milhares de livros que aparecem todo ano, é quase certo que existam 50 ou 100 sobre os quais teria prazer em escrever. Se for de primeira categoria na profissão, pode conseguir dez ou vinte. É mais provável que consiga dois ou três”.

III - Ou seja, prepare-se para uma atividade enfadonha e mal-remunerada. Você lerá só por obrigação. Nunca mais irá atrás de um livro indicado por um amigo. Nunca mais fechará um livro com a sensação de que, para o bem ou para o mal, não há nada a dizer sobre ele. Porque sempre haverá o que dizer. Se não houver, as contas não são pagas.

IV - Não se preocupe, porém. Há muitos truques para encher essas páginas em branco. Se você quer desancar um livro e não sabe como, recorra a alguns adjetivos algo abstratos em se tratando de literatura, mas ainda assim úteis numa resenha. A timidez, por exemplo. Argumente que o autor não explora suficientemente os conflitos de sua obra. Afinal, explorar conflitos é uma tarefa que não tem fim, e há um momento em que todo autor, por mais extrovertido que seja, precisa parar. Outros chavões sempre à mão: excesso de objetividade,excesso de subjetivismo, excesso de frieza, excesso de dramaticidade. A categoria das “idéias fora de lugar”, deslocada de seu contexto original, também ajuda bastante. Um romance correto, instigante e envolvente pode ser atacado por reproduzir um modelo “burguês” de contar histórias, incompatível com o nosso tempo. Um romance sem essas características pode ser destruído, justamente, por ser mal-escrito e não envolver o leitor.

V - Para o caso contrário, isto é, se você quer elogiar um livro que acha ruim – o das linhas finais do item IV, por exemplo –, há dois recursos clássicos: a) em relação à prosa desagradável, escatológica e/ou ilegível, diga que ela reproduz o incômodo e a irredutibilidade de sentidos do mundo contemporâneo; b) em relação à trama caótica e fragmentária, quando não se entende o que é início, o que é fim e do que é mesmo que estamos falando, afirme que a maçaroca reproduz, como uma “metáfora estrutural”, o caos fragmentário da sociedade pós-industrial.

VI - Usando desses truques, você está pronto para fazer nome devido à afinação com o vocabulário crítico de sua época. Mas se, por um desses acasos raros, você está decidido a realmente dizer o que pensa, há também dois caminhos a seguir. O primeiro é confiar cegamente nos seus juízos pessoais, não temendo a exposição de seus preconceitos íntimos em público. Assim, você terá mais chances de ser considerado um sujeito ranheta, excêntrico e/ou pervertido.

VII - O segundo caminho é considerar-se portavoz de um “sistema”, para o qual são válidas mesmo obras que não são do seu agrado (por questões sociológicas, por exemplo). Mesmo que os motivos sejam nobres – sua humildade para não se considerar o juiz definitivo sobre o que é ou não relevante em termos estéticos –, há boas probabilidades de você ser visto como um crítico sem alma, sem coragem, sem graça.

VIII - Independentemente de sua escolha, é inevitável que você seja desprezado. Todos dirão que seu desejo secreto era ser ficcionista ou poeta, que você é leviano demais, complacente demais, que tem algum interesse obscuro – ascender na carreira, agradar aos pares da universidade, arrumar um(a) namorado(a) – ou está a soldo de alguma entidade obscura – grupos literários rivais, editores, maçons, seitas religiosas, partidos políticos de esquerda (se você escrever numa pequena publicação) ou de direita (se receber salário de alguma corporação de mídia).

IX - Mais que isso: você será odiado. Pelos autores que você desanca. Pelos autores que você ignora. Pelos autores que você elogia (os motivos serão sempre os errados, na opinião deles). Pelos outros críticos. Por boa parte do público, mesmo por aquele que o lê com freqüência.

X - Mas se, apesar de tudo isso, você ainda insiste em abraçar a profissão, é bom se perguntar o motivo. Quando criança, usando o olfato, Robert Parker era capaz de listar todos os ingredientes dos pratos que estavam sendo cozinhados na vizinhança, habilidade que o tornaria um campeão absoluto dos “testes cegos” de identificação de uvas e safras. Isso se chama vocação. É o seu caso? Você se sente preparado para conjugar erudição e capacidade interpretativa em tamanha escala? Sendo a resposta afirmativa, trata-se de uma ótima notícia. Não só para você, que talvez tenha achado um modo honesto de ganhar a vida, mas para o próprio meio literário. Porque não há nada de que ele necessite mais, hoje ou em qualquer tempo: alguém que o ajude a firmar tendências, corrigir rumos, separar o joio do trigo. Diferentemente do que se diz, um crítico autêntico não é apenas o advogado do público. Ele é, em última instância, o maior defensor da própria literatura.

Fonte: Entre Livros 
 

5 dicas para despertar o desejo de ler nas crianças

Matéria publicada em 23/04/2012

Hoje, 2 de Abril, é comemorado o "Dia Mundial do Livro Infantil". Esta data foi escolhida como forma de homenagear um dos maiores ícones deste categoria, o autor dinamarquês, Hans Christian Andersen, que nasceu neste dia no ano de 1805. Andersen, dentre outros clássicos, escreveu "O Patinho Feio", "A Pequena Sereia" e "O Pequeno Soldadinho de Chumbo". Aproveitando a data e atendendo ao pedido da leitora da nossa Fan Page, Fátima Carvalho, vamos dar 5 dicas para lhe ajudar a despertar o desejo de ler no seu filho e nas crianças em geral.
"Antes de continuar lendo a postagem, siga O Vendedor de Livros no Twitter e curta nossa Fan Page no Facebook, e mantenha-se informado e atualizado sobre o que de melhor acontece no Mundo Literário". 
Não sei se sabem, mas os livros destinados a crianças e adolescentes, em volume de vendas, era o segundo nicho editorial mais vendido no Brasil, só perdia para as obras didáticas adquiridas pelo governo. Hoje, segundo pesquisas, caiu para terceiro, pois também foi ultrapassado pelos livros de auto-ajuda.

Independente da posição, os livros infantis sempre foram muito bem vendidos, muitas editoras aproveitaram o momento e criaram selos e equipes específicas para atenderem esta demanda que cresce ano-a-ano.

Mesmo vendendo milhões de livros por ano, os livros infantis ainda estão longe de fazerem parte da realidade de muitas crianças Brasil a fora. Os principais responsáveis (tirando o governo, que não investe em políticas para propagar e divulgar os benefícios da leitura no Brasil) são os pais e educadores, que por negligência, falta de interesse e preparo ou talvez por não acharem importante o ato de ler, podam seus filhos e alunos deste prazer e oportunidade de terem acesso a um Universo, até então, desconhecido. 

Mas tem o outro lado da moeda, existem aqueles pais e professores que gostariam que suas crianças lessem, mas não sabem como fazerem isso. Se você se enquadra nesta categoria, leia abaixo estas 5 dicas, tenho certeza que vão lhe ajudar:

1 - Ler histórias: na minha opinião, esta é a dica principal, pois você começa pelo exemplo (a criança ver você lendo) e interação que o ato de ler gera nas outras pessoas, pois possibilita, além da leitura, a dramatização da história com mímicas, diferentes entonações na voz, desenhos, ilustrações, e tudo isso, com a participação da criança;

2 - Criar um ambiente: compre livros, pode ser até aqueles de pintar, e espalhe pelo quarto dela ou no espaço onde ela costuma brincar, faça com que os livros comecem a fazer parte do dia-a-dia do seu filho;

3 - Respeite o gosto dela: não force nada, deixe as coisas acontecerem naturalmente e com o tempo. Tente perceber aqueles livros, histórias e personagens que mais chamam a atenção deles, e a partir daí, direcione o interesse dos seus filhos ou alunos para estes livros, a chance deles gostarem é bem maior;

4 - Frequente livrarias e bibliotecas: como você quer que seu filho se torne um leitor, se você não o chama para ir a uma livraria ou biblioteca contigo. Crie este hábito, se ele disser não, que não está afim, insista um pouco, porém sem ser agressivo. Fale que lá tem um espaço só para "gente da idade dele" (a maioria das livrarias o possuem), repleto de brinquedos, livros e outras crianças para ele brincar e ler junto;


5 - Associe a leitura com brincadeiras: sempre que for ler para seus filhos, pegue também bonecos, carrinhos, bichos de pelúcia e outros materiais, e crie encenações das histórias. Escolha um personagem e faça-o escolher outro (caso ele já saiba ler), e juntos, encenem a drama, criando assim um pequeno teatro da narrativa. Existem outras ideias, tais como: promover jogos, leituras em voz alta, rodas de leitura, e aquilo que a sua imaginação quiser fazer, para brincar e aprender, não há limites. Lembre-se que os brinquedos e as atividades lúdicas fazem parte da vida e mundo das crianças.

Creio que com estas 5 iniciativas, já será possível conseguirmos plantar a "semente" do desejo e interesse nos livros e leitura dentro do coraçãozinho dos nossos pequenos. Tudo vai depender de como estas dicas serão aplicadas, e principalmente da proatividade dos pais em monitorar, acompanhar e encorajarem seus filhos conforme a evolução e desenvolvimento de cada um. Só lembrando que, dica não é regra e muito menos lei, portanto, adapte-as de acordo com a sua necessidade, condição e ambiente.  Você, e principalmente seu filho, só tem a ganhar.
Ah, e se você quiser algumas indicações, estou às ordens.

Amigo leitor, o que você achou destas ideias, já pratica alguma delas com seu filho, tem alguma outra que você tentou e deu certo? 

Deixe um comentário e compartilhe as suas experiências e opiniões conosco, elas são muito importantes para mim.

Um abraço e boas leituras!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Há uma princesa preocupada com a iliteracia

Matéria públicada em 15/10/2012

Rita Pimenta
 
Um em cada cinco europeus tem dificuldade em ler o mundo. Frase escolhida para título de um relatório sobre literacia na União Europeia. E a princesa Laurentien da Holanda, que liderou os peritos, não se conforma. "É preciso agir já", diz. Os europeus de que se fala têm 15 anos.

Ler e escrever "não são apenas competências técnicas", são "a chave para os cidadãos sentirem que fazem parte da sociedade", diz Laurentien van Orange



Na Holanda, 10 por cento da população têm problemas de iliteracia funcional. Isto é, baixo desempenho na leitura e na escrita, o que impede uma participação activa na sociedade. "Não se esperaria este tipo de problemas num país como a Holanda, pois não?", diz a princesa Laurentien, que veio a Lisboa para a VI Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura.

Empenhada em provar que a iliteracia não é "um exclusivo dos países em desenvolvimento", Laurentien van Oranje diz que "a Europa precisa de acordar para este problema". Por isso, dirigiu o Grupo de Peritos de Alto Nível sobre Literacia da Comissão Europeia que fez o relatório. Um em cada cinco europeus tem dificuldade em ler o mundo (publicado em Setembro) e apresentou-o no final da semana passada aos ministros da Educação da UE, no Chipre.

Antes, em Portugal, teve oportunidade de o mostrar a Nuno Crato e, durante a sua comunicação na Gulbenkian, acabou por provocar risos na plateia ao sugerir ao ministro da Educação: "Diga ao seu colega das Finanças que investir na literacia compensa. Falem disso quando forem de férias juntos." Isto porque a princesa Laurentien acredita que, "mobilizando os diferentes ministros para o assunto e pondo a literacia no centro de todas as políticas, o problema se resolverá mais facilmente".

Lembra que "é a primeira vez que a literacia é analisada a nível europeu desta forma e que a Europa tem muitas políticas segmentadas que, por não contemplarem a questão, não vão conseguir alcançar os objectivos". E dá ao PÚBLICO dois exemplos: o combate à pobreza ("se não se tiver competência para ler e escrever, torna-se quase impossível sair da sua espiral") e o investimento no digital ("não haverá pessoas conectadas se não souberem ler bem nem escrever"). Reforça a ideia de que este relatório é "um sinal de alerta". Ou seja: "Acordai." Segundo Laurentien, temos de encontrar caminhos para chegar a estas pessoas e descobrir o que precisam. Depois, há que insistir em argumentos adequados para as convencer a superarem-se e a colaborarem no seu próprio crescimento.

Mas os governos desejam mesmo uma população informada e exigente? "Todos os discursos dizem: 'Queremos uma Europa competitiva e inovadora'. Não podemos consegui-lo sem ser com base no conhecimento, no saber", disse ao PÚBLICO na véspera da conferência. "Nós falámos com os diferentes países da União e todos nos revelaram que não se tinham apercebido da importância da literacia. Há dez anos que trabalho sobre o assunto e foi muito difícil pô-lo na agenda política. Na Holanda, já conseguimos. Tem de ser passo a passo."

Mesmo quando os governos estão obcecados com o défice, o PIB, as dívidas? "Temos de fazer com que entendam que a ideia não é investir em política social 'em vez de' na literacia ou em políticas educativas 'em vez de' na literacia. A literacia é um componente de todas as áreas e tem de atravessar as diferentes políticas." Empresas, empregadores e outros actores sociais ficarão a ganhar: "Os empregadores ficarão com trabalhadores mais motivados, mais saudáveis, que faltam menos e são mais atentos à segurança. Sabemos que é assim. E precisamos de conquistar as empresas para a causa da literacia. Continua a ser o dinheiro a mover o mundo".

A influência de Laurentien multiplica-se em diversas actividades e instituições. Em 2004, criou a Fundação Ler e Escrever dos Países Baixos. Em 2009, tornou-se enviada especial da UNESCO da Literacia para o Desenvolvimento e foi patrona de Amesterdão Capital Mundial do Livro. É também presidente da Fundação Cultural Europeia e deu "uma grande ajuda no início do Plano Nacional de Leitura" português, lembrou Isabel Alçada, a primeira comissária, substituída entretanto por Fernando Pinto do Amaral.

Mas o que faz uma princesa empenhar-se tanto no combate à iliteracia? "Eu não mudei por me ter tornado princesa, por me ter casado com um príncipe [príncipe Constantino]. Sou a mesma pessoa que era antes, só que tenho mais responsabilidade. A de ser figura pública."

Laurentien, com apelido de solteira Brinkhorst, é formada em Ciências Políticas pela Universidade de Londres, fez mestrado em Jornalismo na Universidade da Califórnia e trabalhou na CNN.

Uma experiência pessoal dura, de "isolamento" e "exclusão", na juventude terá ampliado a sua sensibilidade para situações semelhantes às que sentem as pessoas "que não sabem ler o mundo". Foi assim: "Quando tinha 16 anos, fui para o Japão com os meus pais. Saí de um sistema holandês para um sistema francês e não sabia pronunciar uma única palavra. Foi muito difícil não conseguir comunicar com os meus colegas na escola, que também não estavam muito interessados em entender-me. Senti-me muito isolada. Não tive pena de mim própria, mas foi uma experiência muito forte."

A partir de então, fez tudo o que podia para que "toda a gente se sentisse incluída". E agora pode mais. "O desconhecimento de uma língua leva uma pessoa a sentir-se muito só e infeliz. O mesmo se passa com quem não sabe ler ou lê mal. Tem vergonha, esconde-se, torna-se insegura e desconfiada. Não quero isso para ninguém."

Ler pode ser uma chave

Outra história pessoal: "Alguém muito próximo de mim admitiu, há dois anos, que não conseguia ler em condições. Sentia-se tão triste que, ao revelá-lo, se desfez em lágrimas. Eu conheço-a há anos e nunca desconfiei."

A princesa Laurentien não tem dúvidas de que "ler e escrever não são apenas competências técnicas que se aprendem e pronto", são "a chave para os cidadãos sentirem que fazem parte da sociedade". Por isso continua a empenhar-se tanto. "Se de alguma forma conseguirmos passar-lhes o sentimento de que realmente importam, a sua confiança aumentará e passarão a acreditar que é possível. É isso que quero para toda a gente. Confiança e capacidade de acreditar. Mesmo do ponto de vista estratégico e político, fazem-se imensos progressos assim."

Mas não será fácil convencer um miúdo de que ler e escrever é importante e que o conhecimento é precioso quando este vê a profissão dos pais, professores ou jornalistas, por exemplo, ser completamente desvalorizada. "O que se pode dizer a esse miúdo é que, queira ele ser bombeiro, operário numa fábrica ou ter qualquer outra profissão, será sempre mais fácil conseguilo se dominar a palavra escrita. Tenho consciência da situação difícil que se atravessa, mas não podemos desistir. No momento em que começarmos a desistir da educação, estamos perdidos. A palavra escrita é central nas sociedades actuais."

Olhar a literacia a partir do berço é o caminho e já se sabe que se deve começar logo por aí. Mas há equívocos. "Os programas de leitura dirigem-se quase sempre para as crianças e no pressuposto de que haverá um adulto que lhes irá ler uma história ao deitar, por exemplo. No entanto, muitas vezes há uma percentagem elevada de adultos que não conseguem ler para as crianças. E o programa vai por água abaixo", conclui.

A justificação para a Europa se ter deixado chegar a estes níveis "inesperados" de iliteracia encontra-a na excessiva confiança que se depositou nos sistemas: "Nós pensámos que, tendo tudo a funcionar, como o acesso alargado à educação, os infantários, as creches, as escolas, os professores qualificados, o trabalho estava feito. Mas enganámo-nos." Uma série de aspectos importantes foram ignorados: "Não pensámos em qualidade, não pensámos no que fazer com culturas diferentes. Tomámos tudo por garantido. E criámos um tabu: as pessoas que começaram a ter estes problemas não falavam disso. Pensavam que eram as únicas e foram-se escondendo. Temos de acordar a Europa e derrubar esse tabu."

O poder das crianças

A terminar o encontro com o PÚBLICO, a princesa Laurentien da Holanda quer falar sobre o seu livro para crianças Mr. Finney e o Mundo de Pernas para o Ar (ilustração de Sieb Posthuma, edição da Esfera do Caos). E falou. "Se me tivesse perguntado o que espero do papel de Mr. Finney em Portugal, ter-lheia dito que espero que motive as crianças a conversar sobre problemas ambientais com os pais. Acredito no poder do discurso das crianças, é muito coerente e eficaz. Elas vão obrigar os pais a verem-se ao espelho e a questionarem-se."

Também quer levar este diálogo para as escolas, por isso visitou a Escola Francisco Arruda, em Lisboa. "Não se pode ensinar apenas como funciona a Natureza. Mr. Finney questiona mais do que explica." Conta ainda que fez um pacto com os alunos que conheceu. "Pedi-lhes que, da próxima vez que vissem lixo no chão, o apanhassem. Selámos o acordo com um aperto de mão. E eles comprometeram-se a cumpri-lo."

Nuno Crato também se comprometeu a, nas próximas férias, mostrar o relatório a Vítor Gaspar.

Fonte: Jornal "Público"

Ler ajuda a criança a entender o mundo; conheça maneiras de incentivar seu filho

Simone Sayegh
Do UOL, em São Paulo

 Ler para seu filho que ainda não se alfabetizou
fará com que ele tome gosto pela leitura

O livro infantil, antigamente limitado a raras e pouco atraentes edições, tem ganhado cada vez mais espaço nas grandes livrarias. Os lançamentos se multiplicam e as publicações tornam-se cada vez mais sofisticadas. Livro infantil virou até presente de aniversário, coisa impensada há 30 anos, quando muitas crianças só tinham acesso às histórias na escola.

Apenas uma coisa não mudou nesses anos todos: a importância da leitura na formação da criança.  De acordo com a pedagoga Clélia Cortez, orientadora da educação infantil da Escola Vera Cruz, de São Paulo, e coordenadora do programa Formar em Rede, do Instituto Avisa Lá (ONG de formação continuada de educadores), independentemente da época, os livros inserem as crianças pequenas em um mundo de sentidos e de significados que permite a ampliação e a construção da cultura. 

Dicas para formar leitores
  • Sempre que possível leia para seus filhos: mesmo crianças pequenas podem participar de situações de leitura;
  • Evite comprar o livro pela beleza da edição. Invista na escolha de narrativas que tragam questões que ajudem a lidar com sentimentos e ampliem a relação com a cultura;
  • Descubra se a escola do seu filho considera a leitura uma modalidade de ensino e procure colaborar  com as práticas de leitura desenvolvidas lá;
  • Crie o hábito de levar os filhos, desde pequenos, para passearem em livrarias;
  • Leve as crianças a eventos de contação de histórias;
  • Não restrinja as escolhas de títulos ao sexo do seu filho. Meninos e meninas podem ler os mesmos livros.
“As boas narrativas podem ajudar as crianças a pensarem muito sobre si mesmas e sobre os outros. É um ponto de encontro com a expressão humana”, afirma Clélia. Segundo a pedagoga, os valores surgem nas relações que as próprias crianças estabelecem entre essas histórias, sua cultura, casa e escola. 
 
De acordo com a psicóloga Débora Rana, coordenadora pedagógica da escola socioconstrutivista Projeto Vida, e também formadora do Instituto Avisa lá, a criança precisa ter o material escrito à disposição, assim como tem brinquedos, para entrar em contato sempre que desejar.

Os pais devem proporcionar opções de leitura variadas e evitar divisões por gênero. Assim como não existe brinquedo de menino e de menina, não existe livro para um sexo ou outro. Não ofereça à sua filha apenas histórias de princesas e a seu filho só as de piratas. “Crianças que só leem o mesmo tipo de livro acabam ficando sem repertório”, fala Débora. A variedade de assuntos contribui para o crescimento da rede de relações da criança e para o entendimento de seu próprio mundo.

Dentre os temas apresentados às crianças na literatura infantil, os contos maravilhosos –como as histórias dos Irmãos Grimm, na Alemanha, de Hans Cristian Andersen, na Dinamarca, ou de Garret e Herculano, em Portugal– sempre foram uma das narrativas mais importantes. Segundo a professora Cristiane Madanêlo de Oliveira, mestre em literatura brasileira e especialista em literatura infantil e juvenil pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), essas histórias fantasiosas exploram situações que ocorrem em locais indeterminados e apresentam fenômenos que não obedecem às leis naturais que regem o planeta.

Os clássicos originais, além de possuírem riqueza de linguagem, ajudam as crianças a pensarem sobre questões da existência humana desde muito cedo.
  
Um livro para cada criança

Faixa etária Como deve ser o texto Ilustrações Tipos de livro e formas de contar
De 1 a 2 anos As histórias devem ser rápidas e curtas Uma gravura em cada página, mostrando coisas simples e atrativas Prefira os livros de pano, madeira e de plástico. É recomendado o uso de fantoches
De 2 a 3 anos As histórias devem ser rápidas, com textos curtos que se aproximem das vivências da criança Gravuras grandes e com poucos detalhes Os fantoches continuam sendo o material mais adequado. Música exerce fascínio e pode ajudar a envolver a criança no enredo
De 3 a 6 anos Os livros devem propor vivências do cotidiano familiar. É a fase do “mãe (pai), conta outra vez” Predomínio absoluto da imagem, com textos brevíssimos Livros com dobraduras simples. O contador pode usar roupas e objetos característicos. A criança acredita que ele se transforma no personagem
A partir de 6 ou 7 anos (fase de alfabetização) Trabalho com figuras de linguagem que explorem o som das palavras. Construções enxutas. Personagens da coletividade, favorecendo a socialização. Inserção de poesia Ilustração integrada ao texto. Uso de letras ilustradas, de tamanhos e formatos diferentes O contador e a criança podem recriar passagens da história usando instrumentos musicais, massinha, tintas, lápis de cor, entre outros materiais 


“Os simbolismos ocultos nesse tipo de literatura ajudam a criança a defender suas vontades e a afirmar sua independência em relação ao poder dos pais ou à rivalidade com os irmãos ou amigos”, explica Cristiane. É nesse sentido que a literatura infantil e, principalmente, os contos de fadas podem ser decisivos para a formação da criança em relação a si mesma e ao mundo à sua volta.

Segundo a professora, a própria psicanálise se apropriou dos contos maravilhosos e seus significados simbólicos para explicar e resolver os eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional.

De um modo geral, essas histórias apresentam personagens bons ou maus, belos ou feios, poderosos ou fracos, de maneira maniqueísta, o que facilita para a criança a compreensão de certos valores básicos da conduta humana. “Os contos de fadas trazem categorias de valor que são perenes e, segundo a psicanálise, a criança é levada a se identificar com o herói não devido à sua bondade ou à sua beleza, mas por sentir nele seu inconsciente desejo de bondade e beleza e, principalmente, sua necessidade de segurança e de proteção.”

No entanto, como as histórias fantasiosas são ricas em possibilidades, mas, ao mesmo tempo duais, é muito comum que sejam usadas por pais e educadores como pretexto para moralizar as crianças. “Muitos adultos simplesmente concluem pelas crianças e não permitem a elaboração do entendimento individual do texto, que é diferente para cada ser humano”, diz Débora.

A intenção de ensinar as crianças a se comportarem pela literatura é uma distorção do significado da formação de valores. Um exemplo disso são as provas de literatura aplicadas há algum tempo nos colégios, onde o mais importante era a criança responder de acordo com a interpretação pessoal do professor sobre o livro e não com a sua própria.  “Esse é o uso equivocado da leitura. Isso amedronta e ensina as crianças a odiarem a leitura, porque não podem participar efetivamente dela”, diz Débora.

Ambas as educadoras do Instituto Avisá Lá reforçam que o compromisso da escola deve ser o de dar sentido à experiência leitora e não padronizar comportamentos ou destruir textos, que, em sua maioria, foram escritos para ajudar as crianças a construírem por si mesmas seus pensamentos e valores.   “A escola é a grande responsável pela formação do leitor, para tanto deve ter clareza desse propósito em seu projeto educativo”, afirma Clélia.

Contar a história

A maioria das pessoas acredita que ler é uma ação para quem sabe ou consegue. Esse pensamento exclui dessa importante atividade todas as crianças abaixo de 6 anos, os analfabetos e as pessoas com deficiência visual.

“Ter contato com o texto escrito, via o próprio olhar, ou o olhar do outro, é ler”, fala Débora. Com base nesse conceito ampliado, a psicóloga ensina que a primeira inserção das pessoas no mundo da cultura é pela leitura, porta que deve ser aberta desde o momento que o bebê nasce. “Quando os pais ou cuidadores leem histórias para as crianças, eles estão fazendo com que elas leiam.”

Por fim, é importante também que o adulto demonstre prazer ao ler, porque o hábito da leitura é transmitido pelo exemplo. Adultos que leem continuamente na frente das crianças, com certeza, serão imitados no futuro. “O modelo de leitor é passado, é mais provável que, em uma família de leitores, a criança também se torne leitora”, afirma Débora.

Papel da escola

Quem quer que tenha o hábito de leitura já percebeu que o modo de ler um livro é diferente da maneira como se lê um jornal. “São comportamentos leitores distintos”, explica Débora. Enquanto a família dá o exemplo da leitura, a escola deve ensinar a criança a desenvolver os diferentes comportamentos leitores.

“Quando a escola toma para si que a leitura é uma das modalidades de ensino, as crianças podem aprender diferentes repertórios estruturantes de leitura”, fala. Para a coordenadora pedagógica, os principais erros das escolas com relação ao assunto é tratar a leitura como tapa-buraco da grade escolar e não considerá-la um valor. “Essa posição pode ser identificada em escolas que não têm um bom acervo de livros ou nem se preocupam em atualizá-lo.”

 Fonte: UOL Mulher

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A leitura é um esporte

Matéria publicada em 24/09/2012
Escritor português José Jorge Letria 
reitera necessidade de treino e ambiente propício
para a formação de leitores para a vida. 
Foto: Amanda Perobelli 
 
Para ser leitor, assim como no caso de um atleta de alta performance, é preciso mais do que talento ou simples vocação. Antes, são necessárias condições de treino e desenvolvimento para que a tarefa se desenvolva por completo. Esta é a tese do português José Jorge Letria para a manutenção do hábito de leitura entre crianças e jovens. “É bom que se perceba que são os autores dessa área (infantojuvenis) que formam os leitores para os livros de Clarice Lispector, José Saramago, Jorge Amado ou António Lobo Antunes. Quem não começa por um lado dificilmente chega ao outro”, afirma o presidente da Sociedade Portuguesa de Autores.

No Brasil para a 22° Bienal Internacional do Livro de São Paulo e o lançamento de Brincar com as Palavras, o autor, vencedor do prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil de melhor livro de literatura em língua portuguesa com Avô, Conta Outra Vez, revela a Carta Fundamental como ter filhos e netos o impulsionou para o gênero e do papel fundamental da família na manutenção e incentivo dos hábitos de leitura.

Carta Fundamental: O senhor afirma, em Brincar com as Palavras, que as palavras foram seus “primeiros brinquedos, os mais maleáveis e versáteis, os mais sedutores e indestrutíveis”. Essa paixão refere-se mais à língua portuguesa ou à literatura?

José Jorge Letria: Refere-se às palavras em geral, o que significa que a afirmação envolve, sobretudo, a língua portuguesa enquanto base de comunicação e descoberta, e também a própria criação literária, que só veio mais tarde, mas que já estava presente pelo modo como me afeiçoava às palavras e as colecionava, pela sua sonoridade e raridade.

CF: O senhor tem livros publicados de diversos gêneros. De onde vem seu interesse pelo infantojuvenil? Que diferenças há em produzir livros para crianças?

JJL: Comecei por publicar em livro de poesia para adultos, em janeiro de 1973. Mas depois veio o interesse pela literatura para crianças, em 1979, porque tinha filhos pequenos, que também eram o meu público, e porque o meu percurso musical como cantor-autor também passou pelas canções para crianças, que foram, em larga medida, a porta que se abriu para eu começar a escrever para os mais novos.

CF: É recente o reconhecimento, no Brasil, da literatura infantojuvenil como gênero no meio acadêmico. O mesmo ocorre em Portugal? Qual a sua visão sobre esse debate? Em sua opinião, o gênero já tem seu lugar consagrado?

JJL: A literatura para os mais novos tem hoje mais reconhecimento no Brasil, designadamente em nível acadêmico, do que em Portugal, onde é um segmento importante da produção literária, plástica e editorial, mas ainda é visto com desconfiança pelo mundo da investigação acadêmica. O ideal seria considerarem-na de forma plena, sem reservas ou preconceitos, mas enquanto tal não acontecer, justifica-se o seu estudo autônomo. É bom que se perceba que são os autores dessa área que formam os leitores para os livros de Clarice Lispector, José Saramago, Jorge Amado ou António Lobo Antunes. Quem não começa por um lado dificilmente chega ao outro. Para isso não basta aprender a ler jornais esportivos.

CF: O mesmo se dá entre os escritores? Ou ainda é corrente a ideia de que se trata de um gênero “mais fácil”, “ingênuo”, que qualquer um pode escrever livros para crianças?

JJL: O fundamental num livro para crianças e jovens é que seja inteligível, sem trair a beleza poética da palavra. Há, porém, essa noção enganadora de que ela é uma literatura simples. A Cecília Meireles enfrentou certo estranhamento quando publicou Ou Isto ou Aquilo, por ser uma poetisa com obra consagrada a publicar para crianças. Perguntaram-lhe, então, como era escrever para crianças, ao que ela respondeu: “É o mesmo que escrever para adultos, só que melhor”. Portanto, acho que exige um grande investimento, mas um esforço de simplicidade, que exige muito trabalho de bastidor.

CF: O senhor já afirmou que, como autor, escreve para ser lido, para tocar de alguma forma seu público leitor. Nesse sentido, a figura do mediador tem papel essencial, por ser quem faz a ligação entre as duas pontas desse processo. Que medidas são essenciais para que essa mediação seja bemsucedida? Que tipo de formação ou qualidades são essenciais a um bom mediador?

JJL: Um bom mediador tem de ser, antes de tudo, alguém que goste verdadeiramente do que está a fazer e que acredite no que faz. Por isso tem de gostar de livros e de ler, tem de gostar de partilhar esse amor e de perceber que essa partilha com os mais novos contribui para combater o analfabetismo, para formar leitores e até escritores.

CF: Que papéis desempenham a família e o mediador ou a escola?

JJL: Acredito que a mediação se baseia em três pilares: a família, a escola e o bibliotecário. A família porque, se há livros em casa, se há hábitos de leitura, estamos meio caminho andado. Depois, o professor e o bibliotecário, que são complementares. O grande problema é que, se nas guerras a primeira vítima é a verdade, nas crises a primeira vítima é a cultura. E, num momento como o que vive Portugal, ninguém compra livros e isso dificulta muito as coisas. Assim, a escolha de obras tem de ser mais criteriosa, mesmo que isso signifique editar menos. Todavia, sempre que me encontro com professores e mediadores, tento reforçar neles o sentido de confiança e na estratégia de responsabilidade pelo que fazem. Há que ser um trabalho de paixão, e não burocrático, pois são eles que devem mostrar às crianças que é possível, mesmo com as cargas horárias que têm hoje, que as absorvem muito, há sempre espaço para a leitura. A criança chega em casa cansada e tem o computador, os cursos, o jazz, os esportes, e é importante demonstrar a eles e aos pais que a leitura tem seu espaço e que é mais estruturante que a maior parte dessas coisas.

CF: Numa pesquisa sobre os hábitos dos brasileiros, a Retratos da Leitura no Brasil, aferiu-se que, no País, são lidas quatro obras por ano, apenas metade delas na íntegra. O professor é listado como o principal motivador do hábito, porém, o número de obras lidas cai sensivelmente após a saída da escola. Como evitar esse fenômeno? A escola é suficiente para formar leitores para toda a vida? 

JJL: É natural que as crianças nas escolas leiam mais livros que os adultos. Por várias razões: são obrigadas a fazê-lo, têm mais tempo e a leitura faz parte do seu plano de formação. Os adultos têm menos tempo e a vida mais atarefada com o trabalho e as preocupações profissionais, familiares e sociais. Mas compete depois à família e à comunidade não deixarem morrer o interesse pelo livro e pela leitura. Se os pequenos leitores ficarem desenquadrados e sem estímulo, dificilmente se tornarão grandes leitores, e é do núcleo dos grandes leitores que saem os grandes escritores. É um pouco como o esporte de alta competição: não basta ter talento e vocação, é preciso ter condições de treino e desenvolvimento.

CF: Como costumam ser seus encontros com jovens leitores, como ocorreu recentemente na Bienal do Livro de São Paulo? Que impacto esses megaeventos têm para atrair e formar leitores?

JJL: Estive diversas vezes na Bienal do Livro de São Paulo e acho positivo que sempre haja muitos jovens. Nessa passagem pelo Brasil, pedi para visitar algumas escolas e me surpreendi com o envolvimento das crianças. As perguntas eram espontâneas, e denotavam que eles haviam de fato lido o livro e que aquelas eram curiosidades delas. Alguns tinham curiosidades sobre o processo de escrita próprias de uma criança que está ela mesma envolvida com o ato de escrever. Essa relação com os leitores é um complemento muito importante ao nosso trabalho e hoje se está a perder. As editoras estão muito tecnocratas e distantes, e aqui no Brasil há uma relação mais humanizada entre autor e leitor. Já tenho títulos programados para os próximos anos, e quero muito aprofundar essa minha relação com o Brasil.

CF: Autores lusófonos como Couto, José Luandino Vieira e José Eduardo Agualusa tiveram suas obras difundidas no Brasil graças ao incentivo do governo português. Apenas agora o brasileiro ensaia uma contrapartida. Como avalia o intercâmbio de autores entre países de língua portuguesa?

JJL: O apoio à internacionalização da produção cultural de um país é fundamental, tenha a forma que tiver, e deve ser assegurado sem discriminações ou ao sabor do interesse de grupos editoriais ou outros. Também acredito muito no apoio oficial à tradução, pois é uma via essencial para que livros de autores lusófonos sejam editados e lidos noutros idiomas. Conheço mal o que se passa no Brasil a este nível, mas conheço o enorme potencial da cultura brasileira e a sua capacidade de se afirmar no mundo. Veja-se, a título de exemplo, o que se passa com a música, com as novelas da televisão ou com o cinema. Estou a falar de uma verdadeira potência cultural em nível global. Compete a quem decide e a quem legisla criar condições para que esse patrimônio se mundialize, o que é bom para o Brasil e para todo o universo lusófono. E eu acredito cada vez no potencial cultural, econômico, social e até político da lusofonia. Esta língua que nos une há séculos tem de marcar de forma clara o seu lugar neste mundo em transformação profunda e acelerada.

Dia Nacional da Leitura - Vamos ajudar "Eu Quero Minha Biblioteca"



12 passos para que seus filhos se tornem bons leitores

Publicado em 10/10/2012
Leia em voz alta com eles. Explore com eles os livros e outros materiais de leitura – revistas, jornais, folhetos, almanaques, manuais de instruções, cartazes, placas… Todo material impresso pode ser útil e ocasionar um momento de troca centrado na leitura.
Ofereça a eles um ambiente rico em termos de letramento: faça atividades com leitura mesmo com os bebês e crianças bem pequenas, e continue fazendo com as crianças e jovens que já estão na escola.
Converse com eles e escute-os quando falam. Isso ajuda muito no desenvolvimento da linguagem oral.
Peça para recontarem histórias ou informações que você leu em voz alta para eles. (Cuidado para que isso não acabe virando aula! Não é esse o espírito da proposta. Precisa ser algo agradável e descontraído).
Incentive-os a desenhar e fazer de conta que escrevem histórias que ouviram, e peça, depois, que “leiam” em voz alta. Parece absurdo? Pois não é! Afinal, eles passam o tempo fazendo de conta que cozinham, que dirigem carros, que lutam com inimigos perigosos, que são médicos e professores… Não esqueça: a ideia é brincar de ler.
Dê o exemplo: faça com que eles vejam você lendo e escrevendo. E, por favor, não faça a bobagem de dizer que eles devem aprender a ser diferentes de você, que não gosta de ler! O que conta não é o que você discursa sobre leitura, escrita, estudo: é o que você oferece como exemplo.
Vá à biblioteca regularmente com seus filhos. Se for uma biblioteca de empréstimo, é bom cada um ter sua própria ficha de inscrição.
Crie uma biblioteca em casa, e uma biblioteca pessoal para a criança, onde ela se acostume a guardar os livros e a buscá-los. Na hora de comprar presentes para seu filho, lembre-se dos livros! De quebra, ele ganha competência para lidar com o mundo e abertura da imaginação.
Não deixe de fazer um pouco de mistério, para aguçar a curiosidade. Por exemplo: você tem três livros na mão e diz à criança que ela pode escolher entre dois livros. Ela certamente vai dizer que são três, e não dois. Você faz de conta que se enganou, e põe um deles de lado.  Adivinha qual deles ela vai querer… Use sua imaginação. Tudo isso é jogo, mas o resultado é que seu filho ganha sempre, e para toda a vida.
10 Leve seus filhos sempre que houver hora do conto, teatro infantil e atividades similares na comunidade.
11 Se tiver varanda em casa, você já tem um dos melhores recursos que existem para instalar um lugarzinho para ler. Tem coisa mais gostosa que sentar para ler vendo o mundo passar? Às vezes, até dá para deixar um estoque de leitura permanente na varanda, que se renova volta e meia.
12 Crianças ou adolescentes juntos fazem uma ocasião das melhores para ler (em acampamento, em viagem de férias, recebendo amigo pra passar a noite ou o fim de semana…). Deixe materiais variados à disposição, para escolha livre.
Fonte: Ecofuturo