quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Importância da Leitura

Texto publicado em 11/7/2006
Maria Carolina
Professora de Língua Portuguesa e Redação do Ensino Médio e Normal  

A prática da leitura se faz presente em nossas vidas desde o momento em que começamos a "compreender" o mundo à nossa volta. No constante desejo de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de perceber o mundo sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos, no contato com um livro, enfim, em todos estes casos estamos, de certa forma, lendo - embora, muitas vezes, não nos demos conta. 

A atividade de leitura não corresponde a uma simples decodificação de símbolos, mas significa, de fato, interpretar e compreender o que se lê. Segundo Angela Kleiman, a leitura precisa permitir que o leitor apreenda o sentido do texto, não podendo transformar-se em mera decifração de signos linguísticos sem a compreensão semântica dos mesmos. 

Nesse processamento do texto, tornam-se imprescindíveis também alguns conhecimentos prévios do leitor: os linguísticos, que correspondem ao vocabulário e regras da língua e seu uso; os textuais, que englobam o conjunto de noções e conceitos sobre o texto; e os de mundo, que correspondem ao acervo pessoal do leitor. Numa leitura satisfatória, ou seja, na qual a compreensão do que se lê é alcançada, esses diversos tipos de conhecimento estão em interação. Logo, percebemos que a leitura é um processo interativo. 

Quando citamos a necessidade do conhecimento prévio de mundo para a compreensão da leitura, podemos inferir o caráter subjetivo que essa atividade assume. Conforme afirma Leonardo Boff, cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender o que alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isto faz da leitura sempre um releitura. [...] Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. 

A partir daí, podemos começar a refletir sobre o relacionamento leitor-texto. Já dissemos que ler é, acima de tudo, compreender. Para que isso aconteça, além dos já referidos processamento cognitivo da leitura e conhecimentos prévios necessários a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com sua leitura. Ele precisa manter um posicionamento crítico sobre o que lê, não apenas passivo. Quando atende a essa necessidade, o leitor se projeta no texto, levando para dentro dele toda sua vivência pessoal, com suas emoções, expectativas, seus preconceitos etc. É por isso que consegue ser tocado pela leitura. 

Assim, o leitor mergulha no texto e se confunde com ele, em busca de seu sentido. Isso é o que afirma Roland Barthes, quando compara o leitor a uma aranha:

[...] o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido - nessa textura -, o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas secreções construtivas de sua teia. 

Dessa forma, o único limite para a amplidão da leitura é a imaginação do leitor; é ele mesmo quem constrói as imagens acerca do que está lendo. Por isso ela se revela como uma atividade extremamente frutífera e prazerosa. Por meio dela, além de adquimirmos mais conhecimentos e cultura - o que nos fornece maior capacidade de diálogo e nos prepara melhor para atingir às necessidades de um mercado de trabalho exigente -, experimentamos novas experiências, ao conhecermos mais do mundo em que vivemos e também sobre nós mesmos, já que ela nos leva à reflexão. 

E refletir, sabemos, é o que permite ao homem abrir as portas de sua percepção. Quando movido por curiosidade, pelo desejo de crescer, o homem se renova constantemente, tornando-se cada dia mais apto a estar no mundo, capaz de compreender até as entrelinhas daquilo que ouve e vê, do sistema em que está inserido. Assim, tem ampliada sua visão de mundo e seu horizonte de expectativas. 

Desse modo, a leitura se configura como um poderoso e essencial instrumento libertário para a sobrevivência do homem. 

Há entretanto, uma condição para que a leitura seja de fato prazerosa e válida: o desejo do leitor. Como afirma Daniel Pennac, "o verbo ler não suporta o imperativo". Quando transformada em obrigação, a leitura se resume a simples enfado. Para suscitar esse desejo e garantir o prazer da leitura, Pennac prescreve alguns direitos do leitor, como o de escolher o que quer ler, o de reler, o de ler em qualquer lugar, ou, até mesmo, o de não ler. Respeitados esses direitos, o leitor, da mesma forma, passa a respeitar e valorizar a leitura. Está criado, então, um vínculo indissociável. A leitura passa a ser um imã que atrai e prende o leitor, numa relação de amor da qual ele, por sua vez, não deseja desprender-se.

Ler além das palavras

Junto com os meios tradicionais, as novas tecnologias estimulam a iniciação à leitura

Desde a popularização da internet, a circulação de textos e imagens alcançaram um patamar inimaginável. Com o surgimento dos tablets, novas formas de leitura e relação com o texto escrito estão se configurando. Diante desses novos suportes e tecnologias, a introdução ao hábito da leitura acontece hoje de forma muito diferente. Desde muito pequenas, as crianças têm que lidar com estímulos diversos de leitura, o que torna a interpretação e hierarquização de informações algo primordial na educação.

A chave de um bom processo de alfabetização, de acordo com o professor de literatura da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador do grupo de pesquisa Leitura e Literatura na Escola, João Ceccantini, é não se limitar a nenhum recurso específico e explorar diversas atividades de leitura e interpretação. “A alfabetização não se dá só nos livros, se dá em tudo, quando a criança vê o letreiro do ônibus, uma propaganda, uma placa”, diz. De acordo com ele, o maior desafio que a escola está vivendo é mudar sua antiga função de transmitir conteúdo para a de concentrar esforços na formação do senso crítico dos alunos, a fim de que eles sejam capazes de hierarquizar a grande quantidade de informação que têm ao alcance o tempo todo. “O papel da escola é ensinar como as crianças podem lidar com essa informação toda que está disponível nesses suportes e linguagens de uma maneira exigente, saber transitar, saber separar o que é importante do que é descartável, saber pensar, estabelecer relações, saber ser sujeito e se posicionar, porque aquele mundo de conteúdo não faz mais sentido para a escola”, destaca.

O projeto pedagógico de leitura do colégio Arquidiocesano, na Vila Mariana, em São Paulo, tem como fundamento o conceito amplo de leitura do educador Paulo Freire, que consiste na ideia de que a leitura de mundo precede a leitura da palavra e que a compreensão de um texto implica a percepção das relações entre texto e contexto. Uma das práticas pedagógicas desenvolvidas nesse sentido é o exercício do olhar e a leitura. Realizada com alunos do 1º ano do Ensino Fundamental, é baseada na premissa de que ler também é ver.

O livro O Menino que Aprendeu a Ver, de Ruth Rocha, sobre uma criança em fase de alfabetização que observa seu entorno e contexto de mundo, é o ponto de partida da atividade. Após a leitura compartilhada e discussão das situações que o protagonista vivencia, a professora propõe que os alunos fotografem com máquinas digitais textos verbais e não verbais que chamarem sua atenção no quarteirão em volta da escola. “Uma fotografia de uma caixinha de suco largada no muro é um texto que revela uma certa relação do cidadão com a cidade. Ou seja, é um projeto que desperta nas crianças essa outra possibilidade de compreensão do espaço que os rodeia e do espaço da leitura”, analisa a professora do 1º ano do Ensino Fundamental do Arquidiocesano e doutora em Linguística aplicada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Cláudia Gil Ryckebusch.

Depois, na sala, há um debate a respeito da leitura e da relação entre o sujeito e a cidade, presente nas fotografias produzidas pelos alunos. No laboratório de informática, eles escolhem juntos as melhores fotos, que serão expostas na mostra de trabalhos no final do ano. “Tem relatos de pais que dizem que, depois do projeto, as crianças começaram a ler todas as placas de rua”, diz Cláudia.
As atividades pedagógicas que envolvem imagem e leitura diferem de acordo com a fase da escolarização. Os livros exclusivos de palavras e imagens, que constituem um gênero na literatura infantil, são indicados no início da Educação Infantil, na fase de decodificação dos signos. “Sem dúvida as imagens ajudam no processo de introdução do hábito de leitura nas crianças. Nesses livros para crianças pequenas, as ilustrações trazem certos objetos que serão o cerne da história, elas acabam servindo como um suporte para a criança, estimulando à concentração, à focalização daquele signo, à atenção e à associação daquele signo a determinada palavra”, afirma Ceccantini.

Durante a alfabetização, é interessante que as ilustrações nos livros sejam trabalhadas como um texto não verbal, como uma expansão do conteúdo para o mundo das imagens, da estética, que serve para apoiar a compreensão e o interesse, mas que não pode funcionar separadamente. “A imagem atrai pela fruição estética. Quando a ilustração compõe o sentido do texto, a criança faz um esforço para interpretar. Na história em quadrinhos, por exemplo, a narrativa se faz muito pela imagem, ela vai interpretando essa imagem, pois ela tem essa capacidade de interagir tanto com textos verbais como com não verbais”, diz a professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenadora do Centro de Estudos em Educação e Linguagem (CEEL), Telma Ferraz Leal. 
 
Leitura digital

Quando usadas a serviço de propósitos pedagógicos, as novas tecnologias e suportes também servem como aliados no processo de introdução do hábito de leitura. “Hoje, o modo de as crianças consumirem cultura passa por essa complexidade, pois elas gostam de ler o livro, depois ver o filme, ouvir a música, visitar a página, jogar o game daquele personagem. Elas fazem esse trânsito entre as linguagens e suportes todos, sem achar que um é melhor que o outro”, afirma Ceccantini. Segundo ele, atividades na internet, como a leitura de resenhas sobre obras, a busca de informações sobre o autor, entre outras referências suscitadas pela leitura, já fazem parte do cotidiano dos alunos e são enriquecedoras do ponto de vista da formação de leitor. “Se os alunos estão lendo uma releitura de Alice, por exemplo, é interessante sugerir uma pesquisa sobre como era a Alice verdadeira, como era a primeira edição do livro ou como as crianças liam Alice naquela época”, propõe.

Com a popularização dos tablets e livros digitais, a diretora pedagógica da Escola Castanheiras, em Santana do Parnaíba, Débora Vaz de Almeida acredita que eles devem ser usados em classe apenas se fizerem parte do contexto tanto dos alunos quanto dos professores. “Algumas famílias sustentam gerações de leitores só com uma boa biblioteca de papel, mas, se essas ?novas tecnologias e suportes fazem parte do contexto local, da experiência da escola e da dos pais, por que não?”, questiona. “Atualmente, podemos ler no livro, no jornal, nas livrarias, nas bibliotecas, podemos comprar ou não comprar, podemos ler nos IPads e podemos ouvir ler nos audiolivros. A tecnologia é um suporte, o que importa é a qualidade do livro.” De acordo com a pedagoga, a escola deve avaliar em quais situações o uso da tecnologia faz sentido e sempre variar os suportes e modos de uso. “Quando o aluno vai produzir um texto, é muito mais inteligente escrever em meio digital do que em papel, porque a edição é mais bem feita, posso recortar e colar, ver as várias versões. Em outros momentos, quando é só tomar nota, o bom e velho caderno dá conta”, acrescenta.

Durante um ano, os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental do colégio Porto Seguro, na unidade Panamby, em São Paulo, dedicam-se a um projeto de elaboração de um livros digitais. Como atividade preparatória, a professora lê o livro Pergunte ao Dr. Bicudo sobre Animais, de Claire Llewellyn, para os alunos, que podem acompanhá-la por meio da projeção da obra na lousa. O livro é sobre um conselheiro sentimental que recebe cartas de diversos animais com problemas. Em seguida, há uma discussão sobre o gênero da carta e sobre características dos animais. Dividida em duplas, a turma começa a se preparar para apresentar uma miniaula sobre um animal que escolheram. Em casa, eles pesquisam, em livros e na internet, informações para preencher uma ficha técnica que auxilia a elaboração da aula. “Os alunos aprendem a pesquisar nas aulas de informática da escola. Ao buscar diferentes fontes de informação, as crianças também se exercitam para diferenciar o essencial do secundário”, afirma a coordenadora pedagógica e professora do 3º ano, Luciana Centini.

Após o planejamento e apresentação da miniaula, que deve contemplar aspectos básicos dos hábitos alimentares dos animais, os demais alunos da classe sugerem perguntas que poderiam ser feitas ao Dr. Bicudo a partir das informações pesquisadas. As sugestões são entregues à dupla, que pode utilizá-las na elaboração do texto do livros digitais. A obra consiste em uma carta com a pergunta de um animal endereçada ao Dr. Bicudo. No laboratório de informática, os alunos digitam as cartas e fazem, no programa de desenho Paint, as ilustrações para compor o livro digital. A atividade é encerrada com uma manhã de autógrafos, com a presença dos pais, para o lançamento do livro da classe. Os livros digitais estão disponíveis nos IPads e no blog do colégio para as famílias fazerem o download.

Formação do leitor

Pais que leem histórias antes de a criança dormir, professores que trabalham a leitura como prazer em vez de obrigação ou amigos que indicam títulos são fundamentais para estimular o hábito de leitura nas crianças. “É importantíssimo estabelecer o quanto antes uma relação afetiva entre a criança e o livro”, afirma Ceccantini. “Isso não significa que muita gente não se torne leitora sem esse estímulo inicial, mas ele pode significar uma relação mais duradoura com os livros ao longo da vida.”

Na escola, as práticas pedagógicas que podem ser utilizadas para introduzir o hábito são diversas, mas acima de tudo devem ser iniciadas desde antes da alfabetização. “A língua é muito mais do que um código. Antes de eu ensinar para as crianças o que a gente chama de aspectos notacionais, que são as características da representação gráfica da linguagem, ela precisa participar de situações em que essa língua esteja em uso”, afirma Débora.

A leitura compartilhada, em que os alunos acompanham o professor em seus próprios exemplares ou em cópias do texto, e as rodas de leitura, em que o professor lê parte de uma obra e em seguida promove uma discussão em classe sobre o que foi lido, são atividades centrais nessa fase. “Em função de fazer a leitura compartilhada de forma regular, as crianças começam a ajustar o que está sendo lido com o que está escrito e esta é uma situação alfabetizadora. Elas começam a perceber que nos poemas quase sempre há a presença de rimas, que os contos clássicos começam com ‘era uma vez’, ‘há muito tempo’, ‘em algum lugar’”, diz Débora. “Elas começam a conhecer a organização da linguagem escrita e perceber que tem regras, convenções e regularidades que elas quase sempre podem observar.” Segundo Telma, quando o professor realiza atividades de leitura em voz alta e conversa sobre o que foi lido, ele está ajudando a criança a desenvolver habilidades de compreensão de texto, como elaborar inferências, apreender sentidos gerais e relacionar um texto com outro, que vão ajudá-la na fase de alfabetização.

De acordo com Ceccantini, é importante que essa leitura não esteja vinculada a cumprir determinada tarefa escolar e sim que o foco da atividade seja o prazer, a vivência de emoções. “Um adulto cheio de afetividade fazendo da leitura um gesto de carinho, de alegria, de brincadeira é uma aproximação prazerosa que deixa marcas no inconsciente. Esse envolvimento afetivo é central e está muito ligado ao prazer que o homem de todas as épocas tem de ouvir histórias”, diz. “Não tem gesto mais ancestral que isso na humanidade, alguém que vai contar histórias para todos ouvirem.”

Outro aspecto importante é a escolha dos títulos. Apresentar textos muito fáceis, com poucas palavras e leque reduzido de fonemas é subestimar as crianças. “As pessoas costumam achar que elas vão gostar mais de histórias com linguagem simplificada e esquemática e isso não é verdade”, diz Telma. Segundo Débora, deve-se, independentemente da idade, ler textos de verdade, literariamente ricos, bem escritos e de gêneros variados e todos esses repertórios devem estar disponíveis na sala de aula, na biblioteca e em várias situações.

No Colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros, São Paulo, a leitura compartilhada e a roda de leitura fazem parte da rotina semanal dos alunos desde a Educação Infantil até os primeiros anos do Ensino Fundamental. No 2º ano, por exemplo, a professora lê em voz alta um capítulo de O Saci, de Monteiro Lobato, a cada dia. A ideia é que ela seja a mediadora entre os alunos e os “textos difíceis”, lendo títulos que eles teriam dificuldade de ler sozinhos. “O Saci é uma leitura bastante exigente para leitores de 7 ou 8 anos, pois tem um vocabulário distante do deles, as construções são pouco usuais na fala cotidiana, além do texto ser mais extenso”, afirma a coordenadora pedagógica do Santa Cruz, Miriam Louise Sequerra. “Por meio da leitura da professora, eles também passam por dificuldades, mas, como contam com esse apoio, vão entrando na leitura, se envolvendo e, de repente, está todo mundo cativado pelo clima do livro.”

Já na atividade Aula de Leituras, os alunos retiram um livro do acervo que se encontra na sala de leitura (pequena biblioteca utilizada pelos alunos de um mesmo ciclo escolar), têm uma semana para lê-lo em casa e, depois, em classe, são estimulados a comentar a obra e indicá-la aos colegas, com a orientação da professora. “O intuito, neste caso, é desenvolver outros comportamentos associados à leitura, tais como indicar, comentar ou escolher um livro, de acordo com critérios que cada um constrói a partir de sua vivência como leitor”, comenta Miriam. “Como essa atividade ocorre desde a Educação Infantil até o 5º ano, é perceptível como os alunos vão refinando sua capacidade de escolher livros de acordo com preferências que também vão se construindo”, diz. “No início, a capa ou o colorido das imagens são os critérios. Depois, o motivo da seleção vai se transformando: o assunto, o autor, o gênero ou mesmo a indicação do colega.”

BOXE 1 – Lição de casa

É tarefa dos pais estimular uma relação ?afetiva dos filhos com a literatura em casa

Os pais desempenham papel fundamental no processo de formação do gosto pela leitura dos filhos. O ideal é que eles sejam modelos de leitores para os filhos e que a introdução do hábito de ler comece em casa e continue no colégio. “O maior incentivo à leitura em casa é ter pais efetivamente leitores, porque uma coisa é o pai que diz que ler é importante, que você tem que ler, que ler faz subir na vida, e outra é o pai que, quando tem um problema, está mexendo no jardim e não sabe o que fazer, por exemplo, vai recorrer a um livro”, diz o professor de literatura da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador do grupo de pesquisa Leitura e Literatura na Escola, João Ceccantini. No caso da população de baixa renda, em que os pais não se tornaram leitores por falta de acesso, a valoração do hábito de ler também tem efeito na formação das crianças. “É importante que as crianças tenham acesso a obras em casa, mas às vezes as famílias não têm condições de comprar. No entanto, se você for pensar, livros custam o mesmo que um brinquedo. É importante que os pais encarem o livro como brinquedo e presenteiem os filhos com livros”, afirma a professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenadora do Centro de Estudos em Educação e Linguagem (CEEL), Telma Ferraz Leal.

Outros hábitos indicados são comprar livros junto com os filhos, ou ir a bibliotecas ou espaços comunitários de leitura, ler frequentemente para eles, ter livros em todos os cômodos da casa, incentivar as crianças a fazerem sua pequena biblioteca, de forma que o livro faça parte do cotidiano da casa. Segundo a diretora pedagógica da Escola Castanheiras, Débora Vaz de Almeida, os pais devem tentar identificar livros que fazem parte do interesse das crianças para ir construindo um acervo e uma história de leitura a partir daquilo que se tem em casa. “Tem que ter um lugar no quarto das crianças pra uma história de leitor, o livro preferido, o livro que a escola indicou, que a avó deu, mas não só ter o livro, ter e ler o livro”, diz.

BOXE 2 – Primeiros passos da leitura

O Sesc realiza várias ações direcionadas ao incentivo à leitura para crianças

O Sesc tem diversas atividades em prol da difusão do livro e formação de leitores. Na unidade Pompeia, os pais podem levar seus filhos, de 0 a 3 anos, para o Espaço de Leitura, uma sala adaptada com livros voltados para a faixa etária e com a mediação de educadores, que orientam atividades lúdicas, jogos e brincadeiras literárias. As unidades Bom Retiro, Santo Amaro e Ribeirão Preto também contam com salas de leitura para crianças. “Em várias atividades de contação de histórias, o pai é convidado a fazer ele próprio a narrativa de uma história para a criança. Esperamos que a presença de pais e filhos nesse espaço e a vivência dessa experiência estimule práticas similares em casa”, afirma o Assistente de Literatura na Gerência de Ação Cultural (GEAC) Francis Manzoni.

Já no Espaço Ler na Escola, dez malas com 85 livros da literatura infantil e juvenil e 15 publicações de história em quadrinhos circulam por escolas do ciclo 2 da Rede Estadual de Ensino de São Carlos. Antes de receberem o material, os professores e diretores passam por um treinamento que explora as possibilidades de atividades com os livros, como rodas de leitura, contação de histórias e oficinas de texto. A mala, que fica uma semana em cada sala, acompanha também uma apostila com propostas pedagógicas.  

Também na linha de projetos de difusão do livro, existe o BiblioSesc, programa que leva bibliotecas volantes, transportadas por caminhões, a 26 pontos de Itaquera, Interlagos, Osasco e São Caetano. Segundo Manzoni, a procura pelos livros é muito grande. Em um único dia, centenas de crianças retiram títulos em cada bairro visitado. Escolas, ONGs e creches realizam atividades vinculadas ao BiblioSesc. “Os professores levam as crianças para pegar livros que muitas vezes são trabalhados no contexto escolar ou são para interesse próprio. Então, o caminhão passa a se integrar à realidade cultural desses bairros atendidos”, afirma ele.

As bibliotecas das unidades Belenzinho, Bom Retiro e Santo Amaro dispõem de três equipamentos para a leitura de livros e periódicos do acervo para cegos e pessoas com baixa visão. O videoampliador possibilita às pessoas com baixa visão aumentar texto e imagem de um livro. Já o Poet Compact é um scanner que reconhece textos e os narra em português. O terceiro equipamento é a linha braile, uma espécie de régua que se acopla ao computador e ao scanner que gera eletronicamente pontos em relevo, permitindo aos cegos que leiam pelo tato. A unidade Belenzinho também conta com 240 audiolivros.

Até agosto, acontece no Sesc Pinheiros a segunda edição do seminário Conversas ao Pé da Página, que tem o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e conhecimentos relacionados a literatura, leitura, formação de leitores e livros para crianças e jovens. Profissionais e intelectuais do Brasil e do exterior debatem sobre saraus de poesia, leituras no século 21, salas de leitura, entre outros temas. A curadoria do evento é do Centro de Estudos em Leitura, Literatura e Juventude A Cor da Letra e da Revista Emília, publicação sobre leitura, literatura e formação de leitores.

Fonte: Revista E

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A nova leitura e a nova (re)escrita

28 maio 2012
 
O papel cada vez mais importante da biblioteca escolar

Por Cássia Furtado, especial para biblioo

O processo leitura e escrita tem forte relação com a história e com a cultura, influenciando e sendo influenciada pelas transformações que afetam a sociedade civil. Em época não muito remota, ao falar-se em leitura, vinha em mente os signos alfabéticos, livros e instituições como escola e biblioteca; hoje a leitura envolve uma multiplicidade de signos, de documentos e está desvinculada de uma instituição específica. Lê-se vídeos, sites, textos, imagens, chat… Considera-se que a tecnologia de informação e comunicação, de maneira especial a web 2.0, pode expandir as oportunidades de leitura e escrita, e dessa maneira ser parceira do livro tradicional no incentivo a essas práticas.

As tecnologias sociais, por valorizarem o contributo coletivo, oportunizam aos leitores a leitura interativa e capacidade de expressão, sendo assim instrumentos relevantes para aquisição de informações sobre o texto literário, interação entre leitores, livros e autores e, consequentemente, conduzem ao estímulo da prática da leitura e escrita. A web 2.0 oferece ainda maior motivação para a literatura devido à convergência de múltiplas linguagens e oportunidade de espaço para criação em torno do texto literário. As atividades colaborativas em torno da literatura envolvem ações, em que a pessoa precisa expor sobre sua leitura. Tal ato acarreta resultados positivos para todos os envolvidos, tanto para quem recebe a nova informação, que entra em contato com novos conhecimentos, experiências e interpretações, como, e ainda mais, para quem produz, pois tem a oportunidade de criar e expressar seu próprio conhecimento.

As imagens na vanguarda

O argumento fica mais intenso quando se trata de incentivo a leitura literária pelas crianças. Dessa maneira, deve-se utilizar o fascínio que as mesmas têm pela sinergia entre os vários códigos e aliar ao texto literário como estratégia. O uso e a importância de imagens na literatura infantil, desde o primórdio, representam uma atitude de vanguarda, pois precedeu a era da convergência de linguagens, ao unir palavras e ilustrações com o objetivo de atrair e estimular a leitura, sensibilizar o leitor, além de adornar e enriquecer a estética literária.

A biblioteca escolar incumbida da responsabilidade de efetivar o gosto pela leitura trabalha agora em novo panorama; seu usuário potencial tem as tecnologias incorporadas de forma natural e imediata nas suas rotinas sociais, comunicativas, informacionais, educacionais e de lazer. Nesse sentido, percebe-se a necessidade desta instituição se aproximar dos seus utilizadores. Conhecer as estratégias que usam para criar, compartilhar, colecionar e organizar a informação, a forma como se comunicam e se socializam, assim como também, aceitar a maneira como aproveitam o ócio, é fundamental para a biblioteca manter-se presente e viva para seu público e para a sociedade em geral.

Biblioteca, leitores e literatura

Sugere-se que a biblioteca escolar deva ser o principal caminho de interação entre os leitores e destes com a literatura, tanto em texto impresso como no mundo digital e fazer a convergência entre essas pessoas e linguagens. Partilhar leituras deve ser encarado como uma maneira de incentivar a prática da mesma. Torna-se relevante conhecer as atividades que as crianças desenvolvem quando usam internet, pois assim as bibliotecas podem desenvolver estratégias mais eficientes no incentivo à leitura, mais próximas da realidade do seu público e proporcionando maior interação com o mesmo. Dessa forma, poderá resgatar também o leitor que se encontra disperso, conquistando dessa maneira a formação de novos utilizadores.

Com a constante presença da internet no cotidiano das crianças, considera-se que a biblioteca deve incluir nas atividades de leitura os sítios de livros digitais, visando trabalhar com os dois formatos: livros impressos e livros digitais. Além do que, a biblioteca pode utilizar sítios diversos relacionados com a literatura e outras expressões culturais para o incentivo à leitura literária, fazendo a ponte entre as diversas manifestações culturais. Ainda mais com a web 2.0 que possibilita maior dinamismo à leitura, pois permite ao leitor amplo espaço de atuação: ler, recriar e criar em cima do texto. O leitor, agora, além de mais ativo e autônomo, tem mais oportunidade de seleção, de criação e até de reinvenção do texto, nas mais variadas formas de expressão.

A biblioteca é o único espaço na escola onde as crianças e jovens tem liberdade de leitura e escrita, longe de avaliação, tarefas e testes.  Dessa forma, deve cada vez mais aproximar-se do seu usuário, de suas formas de leitura e escrita, de comunicação e partilha. Assim, nasce uma nova biblioteca escolar!

Cássia Furtado é professora mestre da Universidade Federal do Maranhão, doutoranda em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais na Universidade de Aveiro/Universidade do Porto (Portugal).

Fonte: Biblioo

terça-feira, 22 de maio de 2012

A biblioteca como pedra fundamental em atividades de incentivo à leitura

Por María del Mar Marquez Román *
Estamos sempre falando sobre a construção de atividades de leitura, mas a forma de realizá-los? É possível fazer essas atividades a partir de qualquer área, não só na língua? Por exemplo, em todos os indivíduos é uma leitura informativa através da realização de monografias. Como evitar se tornar um copiar e colar? E a poesia, eles podem ler e entender nossos alunos? Além disso, como transformar em qualquer atividade para incentivar a leitura?
 
Este artigo tem como objetivo responder a essas perguntas, e por isso vamos propor uma série de atividades originais, que foram feitos a partir de diferentes áreas, com grande sucesso entre os estudantes. Veja também o papel da biblioteca escolar desempenha nestas actividades.
 
A linguagem da imagem
 
 
Saber ler uma imagem hoje é muito importante porque vivemos numa sociedade em que tais textos estão cada vez mais imponente ambos os textos contínuos, formados apenas por imagens, como textos contínuos. Por isso, é uma leitura que, não podemos esquecer de nossas atividades. Para fazer isso oferecemos várias idéias.
 
O mundo dos quadrinhos é muito atraente para a nossa juventude. Há história de quadrinhos, fantasia, baseado em obras de literatura clássica, a juventude. Isto permite uma primeira abordagem para a leitura de uma forma divertida. Por exemplo, a poesia, mesmo que pareça incrível. Como? A classe é dividida em vários poemas de autores diferentes, em grupos de dois ou três alunos. A experiência aqui refletem autores da Andaluzia levou a Geração de 27. Os alunos começaram por ler seus poemas e, em seguida, procurar informações sobre o autor, o tempo, o contexto histórico, e assim por diante., Para que pudessem chegar a um entendimento integral do texto. Depois de ler e ouvir as atividades, começou a contar uma história baseada no poema. Com essa história mais tarde produziu uma história em quadrinhos cuja capa continha poesia original funcionou. A estratégia tinha um título muito sugestivo: ". Pinceladas da poesia" Como você pode supor, para esta atividade é muito interessante que os alunos possam familiarizar-se primeiro com o mundo dos quadrinhos, e não fazer nada melhor do que leitura. Neste sentido, a biblioteca pode fornecer material escolar, por isso não deixe de incluí-los em seus catálogos.
 
Outra opção é criar um blog de fotos onde os alunos podem "ler" alguma coisa sobre um assunto específico. Este é o caso do blog de ​​fotos matemática que apresentamos.
 
Os concursos de fotografia que fazemos em nosso centro também pode dar lugar à leitura da imagem, se uma actividade destinada corretamente. O Dia da Não Violência Contra a Mulher é geralmente trabalham em algumas classes este assunto, talvez fazer os alunos ler notícias e encontrar informações sobre diferentes casos e leis que são sobre o assunto. E com isso nós estamos fazendo uma leitura compreensiva. Agora, podemos adicionar a expressão, que neste caso, pode-se fazer isto através da linguagem da imagem. Para fazer isso, os alunos podem tirar fotografias que refletem sua pesquisa e leitura anterior, e se organizar uma competição, o melhor, como isso envolve o centro de toda e motiva os alunos a fazer um trabalho melhor. Apresentamos aqui um vídeo com esta experiência, intitulado " A mulher no centro . "
 
Esta atividade pode ser feito a qualquer momento. Dia de Leitura (16 de dezembro) é uma oportunidade ideal. Neste caso, os alunos tiveram que procurar nos livros ou textos online, poemas e frases relacionadas à leitura, para que pudessem procurar sua inspiração. De lá, eles foram convidados a preencher um quadro com o tema da leitura, e para trazer no fundo de um slogan que poderia ser inventado ou retirado de outro autor, mas sempre com base na leitura. Os resultados foram muito bem. Deixamos o vídeo final para que você possa ver por si mesmo. Seu título é " verbos ler e outros . "
 
A biblioteca é o lugar para realizar as atividades exigidas antes, como temos periódicos, livros de referência e, claro, computadores com acesso à Internet.
 
Por fim, sugerimos uma atividade chamada "Histórias sem palavras." Nele, os alunos tiveram que preparar uma montagem de imagens que contam uma história sem palavras. Essas imagens eram fotografias que eram os próprios protagonistas. A montagem pode ser feito em papel / cartão ou digital, usando um programa de edição de vídeo. Este já tinha que escrever a sua história, preparando um pequeno script e uma descrição dos personagens e lugares. A história, podemos baseá-la em um poema ou um livro que leu, para que eles possam fazer sua própria versão.
 
Leitura audiovisual
 
Fazer um curta-metragem é uma das atividades que os alunos gostariam. E ainda melhor se, ao final deste trabalho preparou uma cerimônia do Oscar. Mas estamos nos lados.
 
Como sempre, temos de começar a leitura. Neste caso, optamos pelo tema do meio ambiente, que pode aparecer em muitos livros. Pode levar os alunos à biblioteca para escolher um livro, selecionado por nós daqueles que tratam o assunto sobre o qual decidi trabalhar. A partir daqui, a turma foi dividida em vários grupos, e cada um foi atribuído um ponto: a reciclagem, o consumo de sacos de plástico, a poluição sonora, etc.
 
Depois de procurar informações para concluir a leitura inicial, preparou um roteiro de seu filme. Nos Rede de Bibliotecas Escolares Profissionais de Cadiz , em "Incentivo Leitura", você pode encontrar um modelo de como isso pode ser um pequeno script. Você também pode baixar dois documentos que são muito bons no site da cidade 21 , em seu Concurso curto em Sustentabilidade Urbana : Orientações e dicas para a preparação de um vídeo e um modelo de autorização para menores. É também muito interessante a folha de dados.
 
Os alunos levaram os papéis de diretor, maquiagem, atores e atrizes, etc, que devem aparecer no final de seu filme nos créditos. E aqui começou o tiroteio e posterior montagem das cenas. Olho! Se você fizer essa atividade, prazo plantéatela longo porque leva algum tempo.
 
Após a conclusão do filme, houve uma primeira passagem apenas para os estudantes que haviam participado da atividade. -Se secretamente eleito o melhor de cada filme. Posteriormente organizou uma cerimônia do Oscar no salão, com audiências em todo o centro. Nele, depois de ver as produções, foi para entregar os diplomas de melhor diretor, melhor ator / atriz, etc. A atividade é muito gratificante em todos os sentidos, e uma experiência inesquecível. Deixamos o link para ver o filme vencedor, intitulado " A Jornada de degradação . "
 
Informações de procura de emprego
 
O trabalho de buscar informações (Leia Informação) são o que costumamos fazer na maioria das áreas, especialmente quando celebra datas importantes ou estender aos conteúdos trabalhados em sala de aula.
Normalmente, propomos um tema e colocar os alunos para encontrar informações sobre o computador ou em vários manuais que encontramos em nossa biblioteca e depois fazer o trabalho que, na maioria dos casos, é limitada a um copiar e colar, para o que a finalidade deste tipo de leitura não foi satisfeita. Às vezes este trabalho é concluído com uma oral, que não funciona corretamente.
 
Como desenvolver uma estratégia para desenvolver a leitura informacional de forma eficaz? Vamos propor algumas atividades.
 
Trabalhe na Wikipedia
 
Vamos descer e imprimir um artigo da Wikipedia que, em seguida, distribuí-lo aos alunos. Nós copiamos apenas dominar dados para que nós nos encaixamos em uma página.
 
O formato apresentado é o seguinte: Visão Geral, História, Demografia, Atrações, Geografia, Desporto, Festivais, Cultura, Governo, etc
 
Então, vamos desenvolver uma série de perguntas sobre o artigo teve como objetivo compreender o texto, para extrair dados críticos, ou o seu vocabulário e expressão. As perguntas finais serão à vista.
Quando todas essas questões, o estudante pretende desenvolver um texto semelhante, escolhendo-o de qualquer cidade, ou mesmo inventar.
 
Em seguida, faça uma compilação de nossas cidades, que pode ser exposto oralmente para a classe ou transferir para um blog. Você também pode tentar outros textos da Wikipédia: a literária, científica, matemática, etc.
 
"Geografia de uma vida"
 
Neste caso, o trabalho é coletar dados sobre um personagem. No exemplo que escolhemos para anexar um autor da Geração de 27, mas pode ser qualquer outro. O estudante vai encontrar as informações que são convidados a preencher o quadro abaixo. Após isso, você deve mapear o caminho escolhido personagem geográfica em um mapa. Como poeta, por favor também escolher alguns de seus versos para mostrar que ele estava no lugar e formá-los no mapa. Este mapa pode ser em papel ou tela de computador, usando um programa de edição de imagem como o Gimp.
 
Murais Digitais
 
Muitas vezes, depois de uma leitura informativa, pedimos aos nossos alunos a fazer uma parede para expor na sala de aula ou nos corredores do centro. Nós oferecemos-lhe uma grande ferramenta para murais, mas digital: Glogster .
 
É uma página on-line onde cada grupo de aluno ou estudante pode fazer a sua parede de forma interativa. Isso pode incluir fotografias, textos, vídeos ou arquivos de som. A apresentação é totalmente personalizável, estimulando a criatividade dos alunos. Mesmo o professor pode criar uma conta para um grupo de classe, para que as obras são armazenados lá e todos os estudantes podem ver o que fizeram os seus pares.
 
Ouvir e Falar
 
Nos últimos anos, vem se destacando a oral, tanto na compreensão e na sua expressão, por isso vamos oferecer uma gama de atividades orais que podem motivar os alunos para trabalhar a leitura junto com o conhecimento do assunto em questão .
  • As músicas são muito úteis em qualquer área e para celebrar dias importantes. Um exemplo é a canção do bebê, Manuel Carrasco e Andy e Lucas, todos sobre a não-violência doméstica. Para o Dia da Paz, como sobre Juanes? E se quiser enviar-nos para uma área particular, a questão da imigração e do racismo aparece em "Documentos mojaos" Chambao. Claro, ouvir e ler de volta as letras dessas músicas devem ser acompanhadas de atividades de compreensão que nós mesmos podemos produzir.
  • Alguma vez você já tentou trabalhar a matemática para ler e ouvir uma música? Temos, por exemplo, a canção intitulada " O professor de matemática "Papa Levante, ou" Amor e Matemática ", uma canção em Inglês que você pode trabalhar com a sua tradução.
  • Os podcasts de livros ou textos, em particular, são uma atividade de incentivo à leitura muito enriquecedora. Por exemplo, pedimos aos alunos para fazer uma revisão do seu livro favorito ou um poema especial, que pode servir para homenagear um autor. Para ver como essa atividade, deixamos dois links, ambos da Web " Notas de idioma ": experiências de leitura 2,0 e Homenagem aos poetas .
Encorajamos todas as escolas para fornecer em suas bibliotecas de materiais como CD com músicas Peden ser para trabalhar em sala de aula. Nós mesmos podemos fazer uma coleção de podcasts e CDs de queimaduras, deixou como material de trabalho na biblioteca.
  • A rádio é também uma actividade muito encorajador com que trabalhamos, independentemente de que temos o equipamento necessário. Isso pode ser feito em sala de aula, no plano doméstico, mas muito melhor se montou um microfone e alguns alto-falantes espalhados por todo o centro. A estratégia para desenvolver esta actividade através dos seguintes pontos:
  1. Ouvir atividades: ouvir programas de rádio. Sua estrutura (linha de entrada, a apresentação do programa, e os partidos, de despedida e linha de fundo).
  2. Escrevendo Atividades: Desenvolver um roteiro de nosso programa seguindo estruturas aprendidas.
  3. Falando última atividade: tocar e gravar o programa.
Dependendo da área que deseja trabalhar, podemos fazer um programa de esportes, música, ciência, etc.
 
Atividades de leitura em redes sociais
 
Hoje, a rede permite simultâneas atividades de leitura de diferentes lugares. Uma conta no Facebook ou Myspace pode fazer qualquer uma dessas atividades passam entre grupos de alunos trabalharam em vários sites.
 
Por exemplo, em um instituto de Barcelona, ​​um projeto em sala de aula usando o Facebook. O projeto envolveu a preparação de uma antologia de poesia da Geração de 27, depois de ler vários poemas desta geração e busca de informações sobre ela na biblioteca da escola. Na página do Facebook, cada aluno deu vida a um escritor de sua geração. Eles tiveram que fingir que se vive no momento presente, editando seu perfil, publicando seus poemas e trabalhar colaborativamente para selecionar e comentar sobre estes poemas. Aqui você deixar um link para ver a seqüência de ensino de projeto .
 
Outra atividade é a criação de um blog que começamos com o início de uma história. A partir desta introdução, nossos alunos devem continuar. Os resultados podem ser inesperados e ... fantástico! Recomendamos o uso do blog do Gmail que dá e aquele que você pode acessar a conta de e-mail mesmo. É muito fácil de usar para todos, independentemente da idade. Desta forma também podemos criar um clube do livro sem a presença física.
 
Renovar atividades
 
Às vezes é apenas a renovação das actividades tradicionais que já estamos fazendo em nosso centro e nós queremos dar um pouco de vida para motivar nossos alunos, especialmente incluindo a utilização de novas tecnologias. Algumas ideias que podem servir são como se segue.
  • Concursos literários normalmente fazemos, e quase sempre são narrativa ou poesia. Por exemplo, por que não fazer um concurso de SMS? Você pode indicar que eles podem usar a sua linguagem SMS especial ou não, a um determinado número de caracteres, um tema específico, etc
  • E que tal um concurso de micro? Neste último, podemos levantar uma questão de ciência, geografia, história ou qualquer coisa. Nós também temos que fornecer algumas orientações concretas sobre o número de caracteres, que variam entre 300 e 600, incluindo espaços.
  • Versões da poesia. Nesta atividade, proporcionar aos alunos um poema, ea partir dela, eles oferecem versões diferentes. Por exemplo, foi selecionado o poema "Eu te amo", de Luis Cernuda. As versões que estão fora são de diversas culturas: uma versão gastronômica, um relacionado ao mundo da toxicodependência, outros de amor, um pouco de ódio, etc. Você ainda pode estender essa atividade os alunos se você colocar uma imagem de fundo para o seu poema, seja em papel ou em formato digital, utilizando um editor de imagens.
Como converter qualquer atividade em atividade para incentivar a leitura
 
A base de atividades para incentivar a leitura é ler na leitura de um texto (em qualquer forma) antes ou após a atividade, de modo que incentiva os alunos a tirar o prazer da leitura e para fornecer o autonomia necessária neste campo. Portanto, deve haver um processo de compreensão e de expressão, em qualquer forma.
 
Às vezes estamos engajados em atividades que uma simples mudança de metodologia pode fazer para converter atividade para incentivar a leitura.
 
Por exemplo, imagine que o professor de educação física prepara o aluno para fazer uma exposição do que eles aprenderam durante o curso, usando dança, fitas, cordas, posições diferentes, etc. Para fazer isso, os alunos devem fazer um script que irá explicar o que fazer passo a passo, ea música a ser empregada nessa assembléia. Para esta atividade, aparentemente desconectado da leitura em algo diferente, precisamos de apenas um elemento: baseia-se na leitura de um texto. Para isso, o professor pede o grupo de alunos que o script está indo para executar em um leitor em particular, da qual eles fazem a sua adaptação particular à linguagem corporal. Se percebemos que temos todos os ingredientes para que seja uma atividade para incentivar a leitura:
  • Os alunos têm de ler um livro, trabalhando com compreensão de leitura.
  • Em seguida, desenvolver um script com base nessa leitura, combinando elementos narrativos, auditiva (seleção de músicas) e visuais (exercícios aeróbicos que acompanham cada cena). Aqui é a escrita.
A atividade proposta é muito gratificante, porque incentiva a criatividade dos alunos, combina o trabalho de diversas áreas e desenvolve um grande número de competências básicas que mais poderíamos pedir? Deixamos-lhe uma amostra da atividade com o vídeo " A Volta ao Mundo em 80 Dias ", baseado no livro de Jules Verne.
 
Conclusões
 
Como você pode ver, as atividades para incentivar a leitura pode e deve ser feita a partir de qualquer área. Além disso, notamos que a metodologia utilizada para desenvolver habilidades de leitura, tradicionalmente condenados ao texto escrito mudou significativamente desde os nossos alunos já que eles lêem, mas o contrário. Ressaltamos a importância adquirida neste momento lendo a imagem e actividades a desenvolver habilidades de leitura associados. Esta foi a proposta de Roland Barthes: ". Interpretar um texto não é fazer sentido, mas sim apreciar o plural de que é feito" Por isso, a biblioteca atual usa todos os tipos de textos para a prática de leitura (literatura , música, publicidade, teatro, cinema, etc.), desenvolvendo as habilidades mais básicas de uma pessoa jovem precisa enfrentar a vida e promovendo a aprendizagem ao longo da vida. Nesta perspectiva, procurando o diálogo brincalhão com cada leitura de texto, a partir do qual a produção cultural é dado através de uma variedade de linguagens, não apenas aqueles que têm a ver com a palavra. Eles são, portanto, estas leituras plurais que melhoram a aprendizagem significativa, e como vimos, a biblioteca tem um papel vital na leitura animadora, por isso deve ser a espinha dorsal destas actividades, tanto para o alunos e professores.
 
Assim, em resumo, para desenvolver uma estratégia de leitura eficaz, que aborda o desenvolvimento de mais CCBB, devemos considerar o seguinte:
  • Tentando entender a motivação dos alunos, despertar o seu interesse. Esta estratégia deve procurar atividades criativas.
  • Incluir sempre que possível o uso de novas tecnologias.
  • O trabalho de ler os diferentes tipos de mídia diferentes.
  • Esforçando-se para enfrentar o número máximo de competências, para o que é bastante útil para desenvolver um trabalho interdisciplinar.
  • Trabalhe em ouvir, falar e escrever.
  • O aluno deve ter um papel ativo, de protagonista na atividade proposta.
  • Além disso, o aluno deve ser sempre clara sobre o objetivo da atividade.
  • Para alcançar este objectivo, é essencial para programar o trabalho de forma adequada.
  • Proporcionar aos alunos um guia para a estratégia delineada, observando a ordem de cada um dos passos a serem tomados no desenvolvimento da atividade proposta.
  • Indique como você vai fazer a avaliação.
  • Para o mundo tudo fora de nossos alunos fazem, seja através de exposições, Youtube, jornal, etc.
Para mais informações
 
Todas as atividades são descritos aqui no site da Rede de Bibliotecas Escolares Profissionais de Cadiz , em " atividades de leitura . " Lá você pode encontrar guias, estratégias de trabalho, os exemplos de cada atividade ...
 
Além disso, na seção "Links" você tem outras propostas interessantes da web atividade para incentivar a leitura.
 
* Maria do Mar Romano Marquez é responsável pela biblioteca da escola IES de Nossa Senhora dos Remédios Ubrique (Cádiz)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Não matem o leitor

Dezembro 2008

ANTONIO CARLOS VIANA

Nenhuma leitura deve ser obrigatória, salvo uma, a de Como um romance, de Daniel Pennac, que sai agora em edição de bolso pela L&PM, em associação com a Rocco, que o publicou pela primeira vez quinze anos atrás. Todas as comissões de vestibular deviam ser obrigadas a ler esse pequeno grande livro de apenas 150 páginas. Depois de sua leitura, talvez deixassem de se preocupar com as tão temidas listas de livros que os vestibulandos devem ler para responder àquelas perguntinhas muitas vezes sem sentido. Prestariam, assim, um grande serviço à formação de leitores no Brasil.

Pennac abre seu livro com uma afirmação que não nos abandonará mais:

O verbo ler não suporta o imperativo. Aversão que partilha com alguns outros: o verbo “amar”… o verbo “sonhar”…
Bem, é sempre possível tentar, é claro. Vamos lá: “Me ame!” “Sonhe!” “Leia!” “Leia logo, que diabo, eu estou mandando você ler!”
— Vá para o seu quarto e leia!
Resultado?
Nulo.

Assim começam os problemas de um ex-futuro leitor. Leitura obrigatória não cria leitores. Pelo contrário, afasta-os dos livros. Quantos alunos continuarão lendo com voracidade poesia e ficção depois do vestibular?

Para evitar a incidência no erro, nada melhor do que ler esse livro de título tão intrigante: Como um romance. De que romance fala Pennac? Logo, logo, o entenderemos. Sua linguagem aliciadora nada tem da monotonia dos livros de intenção pedagógica. Ele nos pega desde o primeiro instante, pois logo entendemos que ele fala da relação entre a criança que se inicia na leitura e a de seus iniciadores, os pais. Desde as primeiras historinhas, cria-se entre eles uma relação amorosa, que cresce a cada noite, antes do sono. O primeiro contato do menino com o livro se dá através dessas leituras que o deixam em permanente estado de excitação:

Sejamos justos. Nós não havíamos pensado, logo no começo, em impor a ele a leitura como dever. Havíamos pensado, a princípio, apenas no seu prazer. Os primeiros anos dele nos haviam deixado em estado de graça. O deslumbramento absoluto diante dessa vida nova nos deu uma espécie de inspiração. Para ele, nos transformamos em contador de histórias. (…) Na fronteira entre o dia e a noite, nos transformávamos em romancista, só dele.

Os pais, a criança e o livro, a trindade perfeita. Não há criança que não espere com ansiedade a hora em que os pais sentam ou deitam com ela na cama e começam a desfiar histórias, algumas lidas, outras inventadas. É um tempo de prazer, sem compromisso outro que o de viajar nas palavras. E ela quer mais, sempre mais, até que o pai ou a mãe, exaustos, a convencem a dormir. Até esse momento somos pedadogos, mas sem nenhuma preocupação com a pedagogia.

Eis que chega o dia em que a trindade se desfaz. O menino vai para a escola. Ele se entusiasma com aprender as letras, é quase um milagre juntá-las e dali sair um nome de seu mundo concreto. A primeira palavra escrita: Mamãe! “Esse grito de alegria celebra o resultado da mais gigantesca viagem intelectual que se possa conceber, uma espécie de primeiro passo na lua, a passagem da mais total arbitrariedade gráfica à significação mais carregada de emoção!”. Mas, eis que de repente…

Luta solitária

Sim, não mais que de repente, parece que tudo se esfuma: a alegria de aprender, a alegria de ler. O que todo pai ou professor observa é que a relação do menino com os livros vai se enfraquecendo. Onde foi parar aquele que gostava tanto de ouvir histórias? A leitura, que fora até então fonte de prazer, sofre uma mutação rápida, começa a se transformar num peso a carregar. Uma vez desfeita a trindade, ele terá agora de lutar solitário com um livro que parece rejeitá-lo.

Jogado o menino na escola, os pais se sentem liberados da obrigação de ler para ele como sempre faziam. Que alívio! Mal sabem que perderam seu ouvinte mais atento. Nessa hora é que deviam estar por perto, mas não estão, pois o menino cresceu, não precisa mais de sua ajuda. Finalmente, ele é capaz de se virar sozinho. Até que notam que alguma coisa não vai bem, algo está acontecendo com aquele que foi um dia leitor tão exigente. Vêm os diagnósticos: um desatento, um preguiçoso que não consegue ler um livro em quinze dias. Nunca levam em conta que o que o torna preguiçoso, desatento, é a obrigação de ler, e ler para responder a fichas de leitura, que são a morte do livro. De seu lado, os professores cobram, e caro, uma leitura que não é do interesse daquele leitor e que só faz perdê-lo. Pennac mostra o caminho:

Ele é, desde o começo, o bom leitor que continuará a ser se os adultos que o circundam alimentarem seu entusiasmo em lugar de pôr à prova sua competência, estimularem seu desejo de aprender, antes de lhe impor o dever de recitar, acompanharem seus esforços, sem se contentar de esperar na virada, consentirem em perder noites, em lugar de procurar ganhar tempo, fizerem vibrar o presente, sem brandir a ameaça do futuro, se recusarem a transformar em obrigação aquilo que era prazer, entretendo esse prazer até que ele se faça um dever, fundindo esse dever na gratuidade de toda aprendizagem cultural, e fazendo com que encontrem eles mesmos o prazer nessa gratuidade.

O que antes era prazer vira obrigação. O menino não vê mais o livro, vê o número de páginas que tem de enfrentar, sempre num prazo curto demais para ele e, o pior de tudo, para fazer uma prova. Um temor o assalta: “Como se sair bem se não o entender?” Ele está só, sente-se mais só que nunca, não há ninguém para salvá-lo. O livro passa a ser visto com inquietação, um antagonista do qual ele tem de se livrar o mais rápido possível.

Um livro não pode ser escolhido por outrem, a escolha devia ser sempre nossa. Mas há o cânone. Parece que, sem ele, as portas do futuro não se abrirão. O menino terá de ler o que professor acha que ele deve ler. O mais comum, então, é vê-lo adormecer com o livro aberto sobre o peito e, perto da prova, pedir a alguém um resumo ou, mais fácil ainda, percorrer a internet. Algo está errado. Não, não pode ser assim. Ler por obrigação nunca dará certo. Ou se chega ao livro espontaneamente ou ele será logo abandonado.

A leitura para ser boa tem de ser gratuita. Deve servir de “trégua ao combate entre os homens”, mas a escola a transforma numa guerra em que o perdedor é sempre o leitor forçado e, por conseguinte, a própria literatura. Ler devia ser sempre um presente, “um momento fora dos momentos”, um hiato de distensão dentro de um cotidiano tedioso. Quem sabe o valor da leitura não força ninguém a ler. O melhor caminho é o incentivo, ter lido e motivar o outro a procurar o livro que tanto nos entusiasmou e encheu nossas horas por dias e meses.

Daniel Pennac parte do pressuposto de que é o prazer de ler que preside todo ato de leitura e que, se ele existe, “não teme imagem, mesmo televisual e mesmo sob a forma de avalanches cotidianas”. Não adianta culpar a vida moderna, a televisão, a internet. Nada disso é empecilho para quem se habituou naturalmente à leitura. O que devemos sempre nos perguntar é : “O que fizemos daquele leitor ideal que ele (o menino) era?”. Não foi gratuitamente que o livro mágico da infância cedeu lugar ao livro hostil.

Qual a saída?

Pais, não se desesperem! Daniel Pennac traz um pouco de alento àqueles que já perderam a esperança de ver de novo o filho com um livro nas mãos, não os didáticos, mas o de um Thomas Mann, de um Dostoiévski, de um Flaubert. Se seu filho gostava de ler e não lê mais, o prazer de ler não desapareceu assim, de uma hora para outra, não se perdeu, apenas desgarrou-se e um dia será reencontrado.

Uma criança não fica muito interessada em aperfeiçoar o instrumento com o qual é atormentada; mas façais com que esse instrumento sirva a seus prazeres e ela irá logo se aplicar, apesar de vós.
A leitura deve ser algo que se oferece como ato liberador da vida insípida. Uma viagem em que não se exige nada. “A gratuidade, a única moeda da arte.”

Estimular o desejo de aprender, o entusiasmo pelo saber, seria esse o papel da escola. Ler sem cobranças, nos contentarmos em ler apenas. Abandonemos o dogma do “é preciso ler”. Ler sem alegria é não ler. As palavras pesam, o livro em breve estará fechado e, só fato de vê-lo sobre a mesa, assusta. Quando se sugere um livro é para partilhá-lo, é uma prova de amor, você quer que o outro leia aquilo que foi importante para você em certo momento da vida. A gente dá a ler aquilo que nos é mais caro. Antes de tudo, reconciliar o jovem com a leitura. Jamais fazê-lo sentir-se um pária dela.

A escola parece proscrever o prazer de seu espaço. Como se todo conhecimento fosse feito de sofrimento. Há uma dissociação entre vida e escola. “A vida está em outro lugar”, relembrando Rimbaud. Para contrariar isso, Daniel Pennac conta a história de um professor que nunca mandou um aluno ler um livro. O que ele fazia? Todo dia chegava e lia um trecho de alguma obra importante. A turma inteira ficava em suspenso, envolvida por sua leitura. Foi assim que ele despertou aqueles adolescentes para os livros. Nunca a mais leve sugestão de que fossem correndo à biblioteca, mas eles iam, voluntariamente, em busca do autor que mais os tinha tocado.

Uma aluna desse professor assim o descreve:

Ele chegava desgrenhado pelo vento e pelo frio, em sua moto azul e enferrujada. Encurvado, numa japona azul-marinho, cachimbo na boca ou na mão. Esvaziava uma sacola de livros sobre a mesa. E era a vida. (…) Ele caminhava, lendo, uma das mãos no bolso e, a outra, a que segurava o livro, estendida como se, lendo-o, ele o oferecesse a nós. Todas as suas leituras eram como dádivas. Não nos pedia nada em troca.

Ao final do ano, os alunos somavam: Shakespeare, Kafka, Beckett, Cervantes, Cioran, Valéry, Tchecov, Bataille, Strindberg. A lista era imensa. E ela continua no seu depoimento emocionado:

Quando ele se calava, esvaziávamos as livrarias de Renner e de Quimper. E quanto mais líamos, mais, em verdade, nos sentíamos ignorantes, sós sobre as praias de nossa ignorância, e face ao mar. Com ele, no entanto, não tínhamos medo de nos molhar. Mergulhávamos nos livros, sem perder tempo em braçadas friorentas.

O gosto pela leitura — é o que se depreende de Como um romance — depende do professor. Antes de tudo, ele tem de ser um apaixonado por livros. Falar que os jovens não gostam de ler é simplificar demais. Então se parte para o oposto: obrigam-nos a ler o que não querem. O resultado não podia ser outro: distância dos livros.

Então alguém se pergunta: o que fazer para colocar o livro na mão dos jovens? Se for para continuar fazendo o que estamos habituados a fazer, a melhor resposta é: NADA. Pelo grau de rejeição que eles desenvolvem em relação à leitura, vemos que as estratégias postas em prática até agora não deram resultado. Insistir nisso é burrice. O que se pode fazer é preparar melhor os professores para que transmitam sua paixão pelos livros de forma natural. Professor que não tem nos livros sua forma de viver não deveria ensinar. Professor que não tem paixão pela escrita não deveria ensinar a escrever. É preciso que sua fala transmita uma verdade que vem de dentro, nunca de fora. Sobre aquele professor do qual falei mais acima, Pennac diz:

(Ele) não inculcava o saber, ele oferecia o que sabia. Era menos um professor do que um mestre trovador (…) Ele abria os olhos. Acendia lanternas. Engajava sua gente numa estrada de livros, peregrinações sem fim nem certeza, caminhada do homem na direção do homem.

O papel do professor é o de alcoviteira. É ele que vai fazer o elo entre o aluno e o livro, casá-los para sempre. Facilitar o ato de ler, contabilizar páginas, convencê-lo de que lendo cinco páginas por dia, ao final da semana são 30 (dispensemos o domingo); no final do mês, são 120. Que lucro para quem não conseguia ler nada! O professor se transforma, assim, num estrategista da leitura.

Daniel Pennac termina seu livro listando os “direitos imprescritíveis” do leitor. Um deles é o de não ler. Não obstante, os professores de literatura e as comissões dos vestibulares ficam proibidos de exercê-lo em relação a Como um romance. Só assim será possível evitar a morte de mais leitores.

ANTONIO CARLOS VIANA
É escritor. Autor de, entre outros, Cine privé. Vive em Aracaju (SE)
 
 
Daniel PennacO autor Daniel Pennac Nasceu em Casablanca, Marrocos, em 1944, a bordo de um navio, filho de um oficial francês servindo nas colônias do país. É professor de língua francesa, em Paris, e um apaixonado pela pedagogia. O sucesso na literatura chegou com a série de romances sobre o personagem Benjamim Malaussène — O paraíso dos ogros, A pequena vendedora de prosa, Senhor Malaussène e Frutos da Paixão. Na década de 1980, Pennac morou por dois anos em Fortaleza (CE).
 
 

Brasileiro ainda não descobriu o prazer de ler


*João José Forni

O Instituto Pró-Livro divulgou a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita em 2011. O objetivo foi levantar perfil do leitor e do não leitor brasileiro, preferências e barreiras à penetração da leitura no país. É um retrato bastante denso dos nossos hábitos de leitura. A surpresa foi que andamos para trás. 

Nada inesperado, para um país onde a televisão tem a preferência de 85% dos entrevistados, ao responderem "o que gostam de fazer em seu tempo livre". Se alguém esperava respostas como descansar (51%), sair com amigos (34%) ou praticar esportes (23%), errou. O hábito de ler agrada apenas a 28% da amostra. 

Talvez o mais chocante foi descobrir na pesquisa que 76% dos entrevistados, em amostra de 5.012 pessoas, em 315 municípios, nunca pisaram numa biblioteca. Embora 71% admitam que existe esse tipo de ambiente e o acesso é fácil. Para eles, a biblioteca é um lugar para "estudar". Somente 8% dos brasileiros vão à biblioteca regularmente. 17% vão de vez em quando. Ou seja, quase nunca. Só 16% sabem que a biblioteca existe "para emprestar livros".Não foi coincidência, mas para comemorar o Dia Mundial do Livro, o Ministério da Cultura anunciou investimentos de R$ 374 milhões no Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) para 2012. Mais recursos são bem-vindos. Mas talvez o problema não seja apenas esse. 

Por que o brasileiro pouco frequenta as cerca de 1.000 bibliotecas existentes no país? A maioria alega falta de tempo como o principal empecilho. 12% acreditam ser um lugar para "lazer". A pesquisa ainda mostrou que a maior parte dos brasileiros que vai à biblioteca está na vida escolar (64%), utilizando os espaços nas escolas ou universidades. 

Curioso não aparecer na pesquisa a alegação de não frequentar, porque não existe biblioteca. Até porque, entre países do mesmo nível de desenvolvimento, o Brasil é um dos que possui o menor índice de bibliotecas e livrarias por habitante. 

Para a presidente do IPL, Karine Pansa, os dados colhidos pelo Ibope Inteligência mostram que o trabalho não é mais possibilitar o acesso ao equipamento, mas fazer com que as pessoas o utilizem. "O maior desafio é transformar as bibliotecas em locais agradáveis, onde as pessoas gostem de estar, com prazer. Não só para estudar." Ninguém vai atrás de um produto, no caso o livro, para o qual não foi estimulado pelos pais, professores, amigos. 

Quando a pesquisa pergunta aos entrevistados, que já cultivam o hábito de ler, quem foram seus "influenciadores", o professor desponta primeiro com 45% das indicações, seguido da mãe, com 43%. Ou seja, o hábito da leitura começa em casa e se consolida na escola. Filhos de pais leitores têm muito mais probabilidade de também serem leitores na idade adulta.
As mulheres leem mais do que os homens e, assim como o número de leitores caiu de 55 milhões em 2007, para 50 milhões na pesquisa 2011, a média de livros lidos pelos chamados "leitores" caiu também de 4,7 para 4,0 no mesmo período. Isso poderia indicar que a internet e outras atividades audiovisuais estão seduzindo mais a juventude do que a leitura. A média dos livros lidos também caiu, de 2,07 para 1,85 livro por ano, em 2011. Índice baixíssimo para os padrões internacionais. Esse é um fenômeno que ocorre em todas as regiões do país.A pesquisa do Instituto Pró-Livro deveria ser apresentada e em todos os estabelecimentos de ensino do Brasil. Tanto superiores quanto de nível médio e fundamental. Se professores e alunos tomassem conhecimento dos detalhes, poderiam sugerir ideias para estimular a leitura no ambiente escolar e em casa. Descobririam onde estão as falhas. 

Mais do que recursos, extremamente importantes, talvez esteja faltando no Brasil uma cultura da leitura. Vemos pouca colaboração dos meios de comunicação, principalmente a televisão. Os jornais, tão importantes no passado para estimular a leitura, com suplementos literários emblemáticos, hoje preferem os de gastronomia, tecnologia, esportes, turismo. Os literários ficaram na história. 

Por que o brasileiro não gosta de ler? Ou por que universitários, até em cursos de pós-graduação, ficam esperando os professores fornecerem os links da internet de todos os textos para leitura, em vez de irem atrás das publicações? Preferem tirar cópias de capítulos de livros, atividade ilegal, do que comprá-los ou utilizar exemplares disponíveis nas bibliotecas. 

Talvez porque pais e professores estejam falhando desde os primeiros momentos em que a criança começa a descobrir o mundo das letras. Se eles, quase sempre adotados como exemplos, não leem, nem se preocupam em facilitar o acesso das crianças aos livros, como irão estimulá-las para um hábito que está sendo atropelado pelos apelos e seduções tecnológicas do computador e dos smartphones? 

Quem tiver interesse em ler ou discutir a pesquisa do Instituto Pró-Livro, o relatório completo está disponível em http://bit.ly/HeJUFy.*Jornalista, Consultor de Comunicação. Editor do site www.comunicacaoecrise.com.

Fonte:  Folha do Sul Gaúcho

O leitor, onde está o leitor?

O Brasil não produz livros “demais”, o Brasil produz leitores de menos

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA

Ilustração: Ricardo Humberto

Os editores brasileiros revelam que estão publicando livros “demais”. Isso é uma verdade ou um mal-entendido? Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, disse que publica 280 títulos por ano e que “não dá para crescer mais com obras de mercado, até porque o mercado está muito competitivo. (…). Há editoras que hoje não conseguem entrar em redes de livrarias com um exemplar de algum título. Há uma superprodução. De livros, escritores, editores, um número de editoras grande surgindo”.

Sérgio Machado, da Record, informa que em 2010 o Brasil editou 55 mil títulos, numa média de 210 obras por dia útil. Só a Record coloca no mercado 80 títulos por mês. Seu proprietário revela que tem 2 milhões de livros em galpões que lhe custam uma despesa alta.

Há uma crise no ar. Uma crise paradoxal. De excesso e de carência. Excesso de livros ou carência de leitores? Assim como um copo com metade de água pode ser visto como um espaço metade cheio ou metade vazio, permitam-me examinar a questão por outro ângulo, fazendo uma correção: o Brasil não produz livros “demais”, o Brasil produz leitores de menos. Há que “produzir” o leitor. E não estou falando de alfabetização. Essa cadeia do livro não existe sem o destinatário: o leitor. Não há excesso de livros, há falta de bibliotecas, de livrarias e de leitores. Há, por outro lado, centenas de iniciativas governamentais e particulares tentando corrigir isso. Todos, não só os editores, temos que modificar o conceito de livro, livraria, biblioteca, leitor e leitura, pois na verdade todo esse sistema em torno do livro está em crise (ou metamorfose).

Mas que crise é essa? Quantas crises há dentro desta crise?

CRISE EDITORIAL

1. Atualmente os editores estão disputando um mercado de eleitos, um mercado mínino de consumidores. Ninguém sabe quantos são. Há quem ache que leitores de livro no país não cheguem a 20 milhões. Se fossem 30 milhões seria igualmente vergonhoso que haja tão poucos leitores. E mais: um lastimável desperdício econômico e cultural. E os outros 170 ou 180 milhões, onde estão? Estão anestesiados pela sociedade do espetáculo?

2. Segundo a Fundação Getúlio Vargas as classes A e B constituem 11% do país. Será que essas classes consomem realmente bens culturais como o livro, teatro, museus, etc.? Diz o vice-presidente do Ibope, Nelson Marangoni, que “o Mercado de luxo tem previsão de crescimento de 30% no próximo ano (2012) e isto é uma oportunidade dentro das classes A e B e não da C[1]”. Há aí duas coisas que nos inquietam: 1) esse crescimento dos mais ricos se reflete em número maior de leitores e consumo de livros? 2) por que a classe C emergente não aparece como consumidora de bens culturais?

Por outro lado, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) informa que em 2009 “foram lançados 52 mil livros convencionais e vendidos 386 mil exemplares” [2]. Imagina-se que os livros comprados pelo governo estejam fora dessa lista. Donde se deduz que 386 mil exemplares não são nada em relação aos 20 milhões de pessoas das classes A e B (sem contar os de outras classes que eventualmente compram livros).

3. As estatísticas sobre leitura no Brasil variam muito. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) considera que “o brasileiro lê, por ano, 4,7 livros. Mas se contarmos somente livros lidos espontaneamente, o número cai para 1,3 por habitante”[3]. Portanto, a conclusão é óbvia: numa estatística que considera que o brasileiro lê 4,7 livros por ano, se em 2009 foram vendidos 386 mil exemplares, então se conclui que apenas cerca de 100 mil pessoas são leitoras. Na outra opção estatística, cerca de 386 mil indivíduos seriam leitores. Ou seja, as editoras estariam disputando cerca de 386 mil pessoas (1,3 livro por pessoa), numa população de quase 200 milhões habitantes.

4. Dizem as estatísticas que as editoras produziram em 2010 23% mais livros que em 2009. Mas a perplexidade continua: tirante os best-sellers, que têm uma dinâmica específica, as edições dos livros “normais” continuam em torno de 2 mil a 3 mil exemplares. Se lembrarmos que quando o país tinha 30 milhões de habitantes (lá por 1920) as edições eram de 500 exemplares, veremos que há algo errado no nosso “progresso”. Naquele tempo cerca de 60% da população eram de analfabetos, hoje se diz que são 9%. Façam a conta com os quase 200 milhões de habitantes hoje. Portanto, há algo errado não apenas com a produção de livros mas com a “produção” de leitores.

5. A indústria editorial tem algumas características:

a) disputa um reduzidíssimo mercado de leitores;

b) algumas editoras vivem em grande parte de vender para o governo. Isso não é necessariamente ruim. Sempre se diz que nos países mais desenvolvidos as bibliotecas públicas são grandes compradoras de livros;

c) recentemente, no entanto, grupos multinacionais adquiriram editoras brasileiras e lançam aqui autores e títulos estrangeiros que competem e/ou reprimem o consumo de autores nacionais. Não se trata de ser contra ou a favor, mas uma constatação. É o preço da globalização. E o Brasil, grande exportador em outras áreas, é um grande importador de obras estrangeiras. Basta ver as listas dos mais vendidos hoje comparada com a de algumas décadas atrás e como os cadernos culturais abrem largos espaços para autores estrangeiros;

d) nossos editores e agentes literários, em geral, vão a Frankfurt e outras feiras para comprar, não para vender. Será que nossa literatura é tão precária que não é competitiva?

e) A CBL informa que na 62a Feira de Frankfurt foram vendidos US$ 1,06 milhão em direitos autorais. Ótimo. Mas quando se vai a qualquer grande livraria européia não há livro brasileiro. Em geral, só Jorge Amado traduzido em espanhol e na estante de autores latino-americanos. Quando, em Paris, se pergunta aos livreiros da “Ecume des pages” e “La Hune” sobre a ausência de uma prateleira de autores brasileiros, alegam que não há suficientes autores brasileiros.

6. Estatísticas recentes da Câmara Brasileira do Livro dizem que o número de livros vendidos no país aumentou 13,12%. Ótimo. Mas isso se insere dentro do contexto de disputa do mesmo público leitor. Começa agora uma luta pela conquista da classe C. Isso levanta outra questão: que tipo de livro está sendo vendido? O que é o “fast reading” (tipo sanduíche, “fast food”) e o que é livro com importância modificadora para a cultura? Diz Nelson Marangoni, vice-presidente do Ibope na citada entrevista, considerando a ascensão da classe C, que está havendo mobilidade financeira, não mobilidade social. Ou se poderia dizer de outro modo: as pessoas entram na sociedade de consumo e são consumidas como objeto.

7. Há alguns anos, li que o mercado do livro movimentou R$ 4,2 bilhões em 2009. Maravilha! Mas é curioso que este era então o montante da indústria de cerveja. É intrigante que se veja tanto anúncio de cerveja e quase não se veja anúncio de livro. Claro, o governo não compra cerveja, mas compra livro. E isso, se é uma solução para alguns editores, só é um elemento complicador na relação paternalista de nossa tradição.

8. No esforço para reverter a síndrome da importação cultural indiscriminada, o governo federal através da Fundação Biblioteca Nacional criou na administração de 1990/1996 programa de bolsas de tradução de obras brasileiras, trouxe ao Brasil agentes literários estrangeiros e diretores de suplementos literários dos principais jornais do mundo para divulgar nossa literatura, e começou a participar e organizar feiras internacionais de livros e a dar suporte a uma política nacional do livro, da biblioteca e da leitura[4].

Isso não é suficiente, tem que ser ampliado e melhorado.

CRISE NAS LIVRARIAS

1. O censo da Associação Nacional de Livrarias diz que em 2009 havia 2.980 livrarias no país, ou seja, uma livraria para cada 64.255 habitantes. Segundo a Unesco, deveria haver uma livraria para cada 10 mil habitantes. Façam a conta e vejam nosso débito. As livrarias, a exemplo das mega livrarias, continuam concentradas nos bairros mais prósperos das grandes cidades. Os subúrbios e maioria das cidades brasileiras não conhecem esse comércio. Em 25 de novembro de 2006, o jornal O Estado de S. Paulo informava que segundo o IBGE 69,07% das cidades não têm livraria e que as outras 30% têm livrarias misturadas com papelaria.

2. Paradoxalmente quem entra em uma das raras livrarias hoje se escandaliza com a enorme quantidade de títulos que se revezam nas estantes, livros que surgem e morrem rapidamente. Diz-se que hoje o tempo de vida útil de um livro é de três meses. Se não vendeu, desaparece. Algumas editoras até pagam ou fazem alguma forma de barganha para ter seus livros expostos em lugares privilegiados nas livrarias.

3. O chamado “excesso” e/ou “rotatividade” de livros faz com que os funcionários das livrarias não consigam informar com segurança o que há nas estantes, nos estoques ou o que está esgotado. Muitos livros procurados estão no imponderável “estoque” ou, às vezes, nem aparecem na tela do computador. O editor José Mario Pereira já relatou como isso ocorre[5].

4. Com isso, os “sebos” e “estantes virtuais” passaram a ser o lugar para se encontrar obras mais duradouras e ganharam maior espaço com a internet.

5. Com a ascensão da classe C e devido à inexistência de livrarias na maioria das cidades, a venda dos livros porta a porta aumentou. Informa a Associação Brasileira de Difusão de Livros que em 2010 os editores desse setor faturaram R$ 1,2 bilhão e que só a Editora Escala vende por mês 350 mil livros. A média de preço das coleções é de R$ 122,74. A Avon — empresa de cosméticos —, neste negócio há 18 anos, tem 1,1 milhão de revendedoras, liderando o mercado.

A questão que se levanta: que tipo de livro predomina nesse mercado?

CRISE NO ENSINO

1. Nos anos 1960 a reforma de ensino introduziu o sistema de créditos, seguindo modelo americano, e acabaram, por exemplo, os cursos de línguas neolatinas, anglo germânicas e clássicas. Um aluno de neolatinas antes estudava a literatura e a língua francesa, a espanhola, a hispano-americana, a portuguesa, a brasileira e a italiana. Escrevia trabalhos nessas línguas. Com a reforma que imitava o sistema americano, ao invés de o aluno estudar várias literaturas e escrever trabalhos em várias línguas, passou a se “especializar” só em português e em outra língua e literatura.

2. Concomitantemente, também nos anos 60, no ensino médio se substituíram o português e a literatura pela “comunicação e expressão”. Iniciou-se um processo de desprestígio da leitura e da literatura. Contaminados pela ideologia da “comunicação” que entrou na moda nesta época, chegou-se a eliminar a palavra “literatura” dos currículos. Como mostrou Luís Augusto Fischer em ensaio recente, estuda-se letra de música no lugar de poesia, e mais recorte de jornal e história em quadrinho que romance. Daí que Jim Davis (do Garfield) e Bob Thaves (da tira “Frank e Ernest”) apareçam mais que Graciliano Ramos e João Cabral[6].

3. Ao lado disso criou-se o “vestibular unificado” e uma massificação do ensino, que se generalizou a partir dos anos 70, teve duas conseqüências. Aumentou enormemente o número de alunos na universidade. O vestibular unificado acabou elegendo a “múltipla escolha” com o conseqüente desprestígio da leitura e da redação. Isso contribuiu para que o nível dos estudantes fosse mais baixo[7].

CRISE DO ESCRITOR

1. Houve sim um aumento do número de escritores nas últimas décadas, pois a sociedade da comunicação facilita a publicação. Todos querem ser lidos e vistos.

2. A partir dos anos 70 surgiu uma geração de escritores viajantes que percorrem todo o país indo ao encontro do público. Diferenciam-se das gerações anteriores, mais sedentárias, nas quais os escritores eram sobretudo funcionários públicos localizados no Rio de Janeiro que se encontravam à tarde no “Amarelinho” ou na “porta da livrara” (José Olympio, São José).

3. Há uma ligação entre os cursos de criação literária aqui e ali e o aumento do número de escritores. Às experiências feitas nos anos 60 e 70 na UNB, na UFRJ e na PUC/Rio sucederam cursos e oficinas já fora da universidade. Surgiram, ainda que timidamente, as bolsas para os escritores na tentativa de profissionalizá-los. Mas as livrarias não cresceram proporcionalmente e as bibliotecas muito pouco.

4. Nessa crise (que é de todo sistema em torno do livro), o autor está muito inconfortável. Ele passa grande tempo elaborando um livro, se o livro não dá certo, ele é o primeiro a ser prejudicado. Lá se vão três, cinco ou mais anos de trabalho pelo ralo. Já o editor, como lançou dezenas de livros, vai se safar, se compensar com os outros. Se o livreiro não vende um livro, vende outros. Não é assim com o autor.


CRISE DAS BIBLIOTECAS

1. Nos anos 90 a Fundação Biblioteca Nacional constatou que havia cerca de 3 mil municípios sem biblioteca. Foi lançada na ocasião a campanha “uma biblioteca em cada município”. Somente 15 anos depois, com Gilberto Gil/Juca Ferreira no Ministério da Cultura, conseguiu-se implantar uma biblioteca em cada município (excetuando uma meia dúzia de prefeitos que acham que biblioteca é dispensável[8]).
Dispensa lembrar que países mais desenvolvidos têm bibliotecas não apenas nos municípios, mas também nos bairros.

2. Criou-se nos anos 90 o Sistema Nacional de Bibliotecas realizando encontros e seminários nacionais, estaduais e municipais na tentativa de mudar a mentalidade de bibliotecárias e bibliotecários. Na sociedade informatizada a biblioteca e seu funcionário teriam outro papel: servidor de informação e não apenas de catalogador ou guardião de livros.

A Fundação da Biblioteca Nacional nos anos 90, tendo criado o SNB, fez uma aproximação com as bibliotecas universitárias, reuniões com o Conselho de Reitores, tentando dar organicidade a cerca de 900 bibliotecas universitárias abrindo-as também ao grande público.

3. As bibliotecas escolares constituem, por sua vez, um problema. De acordo com o Ministério da Educação “68% das escolas públicas do país não possuem bibliotecas, evidenciando a dimensão do desafio para cumprir o que determina a Lei Federal 12.244, de 24 de maio de 2010, que dispõe sobre a universalização em até dez anos, das bibliotecas nas instituições de ensino públicas e privadas do país”[9].

CRISE DO LIVRO

Crise que pode se entendida como metamorfose. Ao contrário do que os mais alarmados pensam, o livro não vai deixar de existir, apenas está assumindo outras formas, outros suportes. O livro de papel continuará a ter sua função como aliás já o demonstraram Umberto Eco e Jean-Claude Carrière[10].

Por outro lado discutir a “crise do livro” sem considerar todos os setores já aqui referidos é marchar para uma solução equivocada do problema. Estamos tratando desta questão em todo este ensaio.

CRISE, LEITURA E O PRÉ-SAL

1. Urge outra compreensão, não apenas do que seja livro, livraria, biblioteca, editor, mas sobretudo do que é leitura e leitor.

2. Leitura não se limita à “alfabetização”.

3. Leitura não se limita à escola: trata-se de formar uma sociedade leitora, condição sine qua non para o país enfrentar os desafios do século 21.

4. Por isso, é urgente uma POLÍTICA NACIONAL DE LEITURA que atravesse não só todos os ministérios, mas seja uma determinação da Presidência da República. Como se poderia dizer: LEITURA é uma questão de segurança nacional[11].

5. Considerada a leitura como algo além da escola, algo além da alfabetização, algo que vai lidar com o “analfabetismo funcional” e com o “analfabetismo tecnológico”, haverá (como já começa a haver) programas de leitura em hospitais, quartéis, fábricas, sindicatos, empresas, tribos indígenas, igrejas, condomínios, acampamentos agrários, comunidades quilombolas, favelas, programas para aposentados, para cegos, surdos, mudos e outros deficientes físicos, etc.[12]

6. Nos últimos anos, “agentes de leitura” e “mediadores de leitura” se espalharam pelo Brasil. A experiência positiva dos agentes de leitura no Ceará foi levada para o Ministério da Cultura e expande-se em vários estados. No Acre foram criadas mais de cem Casas da Leitura interagindo com uma nova maneira de ler a cultura e a natureza. Os agentes ou mediadores de leitura devem chegar a 15 mil brevemente e têm sido treinados por instituições como a Cátedra de Leitura da PUC/RJ. O ideal é que se mesclem com os “agentes de saúde” e os “médicos da família”.

7. Nessa redescoberta da leitura, onde havia apenas o Instituto Nacional do Livro, espera-se a criação do Instituto do Livro, da Leitura e da Biblioteca e a nova administração da Fundação Biblioteca Nacional planeja construir 25 mil bibliotecas populares com livro de qualidade a R$ 10.

8. Enfim, a leitura é o verdadeiro pré-sal. O petróleo em si não resolve os problemas básicos de um país. Há países que têm petróleo e têm terríveis desigualdades sociais e opressão política. Há países que não têm petróleo e estão na ponta do processo civilizatório. E todos os países que realmente se desenvolveram passaram pela leitura. A leitura torna os livros vivos e desenvolve os países.

LEITURA: EQUÍVOCOS E ACERTOS

É recente a emergência da LEITURA e do LEITOR no panorama brasileiro. O LEITOR e a LEITURA até há pouco foram elos invisíveis, não falados, diria até reprimidos ou esquecidos dentro de um sistema que parece pouco sistêmico.

Cito casos sintomáticos de como nossa elite vê a questão da leitura:

1. Edson Nery da Fonseca, conhecido bibliotecário, narra que, nos anos 50, ao questionar Lúcio Costa por que não havia projetado uma biblioteca pública para Brasília ouviu a seguinte resposta: “Esse negócio de biblioteca pública nunca deu certo no Brasil”[13].

2. Quando apresentei publicamente os projetos de leitura da Fundação Biblioteca Nacional, nos anos 90, numa reunião do MinC, ouvi do ministro Antonio Houaiss esta frase: “Leitura não é um assunto prioritário no meu ministério”.

3. Após ouvir uma conferência de Eliana Yunes — uma das maiores especialista em leitura no país —, um editor e alto dirigente da Câmara Brasileira do Livro me disse: “Quanto mais ouço a Eliana, menos entendo o que ela quer”.

4. Não estranha que o ex-ministro da Cultura Francisco Weffort (ex-genro de Paulo Freire), secundado por Eduardo Portela, tenha sabotado o Proler e os projetos de leitura em curso no país (1996) e que somente dez anos depois (em 2006) na administração Lula/Gil/Juca Ferreira a leitura voltasse a ser prioritária[14].

Contrastando com esse tipo de incompreensão, a reação de pessoas do povo é mais sábia. Há centenas, milhares de exemplos. Só o projeto “Viva Leitura”, patrocinado pela Organização dos Estados Ibero-americanos e a Fundação Santillana, listou cerca de 10 mil projetos, dos quais destaco três:

1. Luiz Amorim, dono de um açougue em Brasília, decidiu fazer dentro de seu estabelecimento uma biblioteca. Chegou a ser condenado pela Saúde Pública. Resistiu. Hoje seu projeto cresceu, a população da cidade participa do que se transformou num grande centro cultural. Além de expandir seu negócio, começou a pôr bibliotecas nos pontos de ônibus.

2. Em Sabará, Marco Túlio Damasceno criou a Borrachoteca dentro da borracharia que era de seu pai e já tem três filiais.

3. No Complexo do Alemão (Rio de Janeiro), enquanto zuniam as balas entre os traficantes e a policia, Otávio Santanna, que já era um agente de leitura e tinha uma biblioteca móvel, começou projetos para construir uma Barracoteca.

Quem quiser ir mais fundo neste assunto basta ver como funcionam os milhares de projetos de leitura em todo o país.

LEITURA: DESCOBERTA RECENTE
 
A evolução semântica e social da questão do livro no Brasil passou por algumas fases bem sintomáticas no último século:

1. Em 1918 com a experiência da edição popular do Saci, Monteiro Lobato, colaborando com o jornal O Estado de S. Paulo, cria a indústria editorial brasileira. Até então os livros eram publicados por editoras estrangeiras (Garnier e Lammert) e atendiam a 30 pontos de venda. As edições eram de 500 exemplares. Lobato levou o livro a todo o país e chegou a vender 11.500 exemplares de um único livro em um ano[15].

2. Em 1935 Rubem Borba de Moraes reinventa a biblioteca pública ao estruturar a biblioteca municipal de São Paulo, criando (com Mário de Andrade) novas seções abertas à cultura popular. Descentraliza ações programando dez bibliotecas nos diversos bairros, além de bibliotecas móveis[16].

3. Em 1937 o governo federal cria o Instituto Nacional do Livro, dirigido por Augusto Meyer, com colaboração de Mário de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda, com o objetivo de fazer uma enciclopédia brasileira. Posteriormente o INL começou a fazer co-edições de livros que eram mandados para bibliotecas públicas[17].

4. Em 1961 Paulo Freire — diretor do Departamento de Educação, no Recife — põe em prática seu método de alfabetização — “Método Paulo Freire” —, ensinando plantadores de cana a ler em 45 dias. Essa experiência de “ler o mundo” foi interrompida pelo golpe de 64. Entre 1989 e 1991 Paulo Freire foi secretário da Educação de São Paulo e criou o programa para “Educação de Jovens e Adultos”.

5. Em torno de 1980 a universidade redescobre a leitura. Em 1981 surge a ALB (Associação Brasileira de Leitura do Brasil) e o Cole (Congresso de Leitura do Brasil), através de Ezequiel Theodoro. Cria-se a Jornada Nacional de Literatura (Universidade de Passo Fundo), coordenada pela professora Tânia Rösing. A “teoria da recepção” criada na Alemanha por Wolfgang Iser e Hans R. Jauss chega ao Brasil interessando-se academicamente pelo receptor/leitor. Mas restringe-se aos intramuros universitários.

6. A criação do Proler (1992), coordenado por Eliana Yunes e Francisco Gregório Filho, dentro da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), é o início de uma “política do livro e da leitura”. A leitura vira uma questão de estado. Já não se trata apenas de editar livros, já não se trata da alfabetização ou de uma visão acadêmica da leitura. A palavra leitura/leitor se amplia, desentranha-se do livro, da biblioteca, da alfabetização, da universidade e ganha amplitude social. Com a criação da Cátedra da Leitura PUC/Unesco (2006), a universidade leva socialmente para fora de seus muros a questão da leitura.

7. Por outro lado, em 2006 o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) aparece formatado com José Castilho. Une sociedade civil e governo, começa articular a criação de um Instituto do Livro, da Leitura e das Bibliotecas. O Ministério da Cultura, por outro lado, propõe o “vale cultura”. E em 2011, Galeno Amorim, na FBN, retoma o PNLL e se empenha na construção de 25 mil bibliotecas populares.

INCLUSÃO DIGITAL E A LEITURA

Tem-se falado muito de “inclusão digital”. O Ministério das Comunicações informa que já existem 13.379 “telecentros” implantados em 5.564 municípios brasileiros. Eles podem ter o papel que as bibliotecas convencionais deveriam ter tido. Nesse contexto os “promotores de inclusão digital” deveriam ser encarados como irmãos gêmeos dos recentes “agentes de leitura” ou “agentes de cultura”. Os telecentros ofereceram 6.200 kits do Ministério às prefeituras. O telefone portátil, o Ipad, o Google são uma realidade. Os 200 milhões de telefones portáteis são 200 milhões de bibliotecas em potencial à espera de nossa criatividade. Assim como um viajante do século 18 tinha uma maleta de viagem em que carregava algumas dezenas de livros para ler, hoje pela internet todos podem ter uma biblioteca em suas mãos, seja nas margens do Tocantins ou nas cochilas do Sul.

Se não conseguimos em 500 anos colocar uma biblioteca em cada canto do país, por outro lado, cada cidadão hoje está se convertendo, à revelia de nossa incompetência histórica, em um “consumidor” de informação através da informática, do Google, da internet. Se temos apenas 2.600 livrarias e 2.500 cinemas, é bom que nos espantemos e rejubilemo-nos com o fato de que temos 109 mil lan houses; e que uma favela como a da Rocinha (que tem apenas uma biblioteca heroicamente construída e seguramente não tem nenhuma livraria) tem, por outro lado, 200 lan houses.

O que não foi feito em 500 anos, hoje graças ao universo digital, pode constituir-se em uma conquista rápida e numa reparação. Isso não significa que não se deva construir bibliotecas e comprar livros, apenas que há meios de acelerar o consumo de livros e promover a leitura.

Mas aqui se torna irrecusável contar uma história que narrei na recente Jornada Literária de Passo Fundo (agosto/2011) quando Alberto Manguel e Kate Wilson debatiam equivocamente sobre esse tema. Diz-se que o Marechal Rondon, no princípio do século passado, foi designado para conquistar grande parte do território brasileiro levando a comunicação através de postes e fios que conduziam mensagens telegráficas. Depois de ter instalado praticamente em todo o país esse sistema de comunicação, ao colocar o último poste na fronteira com a Bolívia, foi surpreendido com a notícia de que Marconi havia acabado de descobrir o telégrafo sem fio.

Cem anos depois a situação se repete. Conseguiremos fazer na era do livro eletrônico o que não conseguimos fazer na era do livro impresso?

O Brasil está vivenciando três fatos novos:

1. Primeiro a invasão da eletrônica em nossa vida cotidiana, nos jogando em outra era.

2. Em segundo lugar, o surgimento de outras gerações chamadas de X, Y, Z pelos especialistas em marketing: jovens que vivem zapeando. São “dispersivos”, fazem várias coisas ao mesmo tempo, não têm o sentido de “concentração” unidirecional. Nós os achamos superficiais. Mas, e se estivermos realmente diante de um fenômeno de mutação não exatamente genética, mas cultural? Um daqueles momentos de “point of no return” que remete para a metáfora que Marshall McLuhan usou: a lagarta assustada olhando uma borboleta em seu esplendor dizia: eu nunca me transformarei num monstro daqueles…

3. Em terceiro lugar, a ascensão das classes C, D e E que até agora estavam fora do mercado, da comunicação e da cultura livresca. A todo instante nos dizem de estratégias de marketing à procura desses novos “índios” que a sociedade de consumo quer incorporar, catequizando-os com o “evangelho” da sociedade do espetáculo. Os meios de comunicação certamente se preocupam com isso. Mas Fabio Mariano, da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), afirma que os jornais não conseguiram chegar a 60% das classes C, D e E, constituídas por pessoas com menos de 30 anos. “Os jornais brasileiros não entendem essa classe C, estão distantes. Quando a gente fala de classe C, falamos de um século de exclusão, sem saúde, sem saber o que é política.”

Some-se a isso o fato de haver hoje 200 milhões de celulares. São 200 milhões de bibliotecas volantes à espera de nossa criatividade. Um jovem na margem esquerda de um afluente do Amazonas pode ter, de graça, acesso aos clássicos brasileiros e estrangeiros sem precisar sair de casa.

Lembremos: o aprendizado já foi oral — o essencial era o uso da memória. Com a evolução o saber passou a ser escrito. Hoje retorna e passa pelo visual. Ou pode-se dizer: o aprendizado é oral, é escrito e também visual. O oral, o escrito e o visual se complementam.

O livro está se metamorfoseando. O leitor também tem que se metamorfosear. Como têm que se modificar o editor, o livreiro, o jornalista, o publicitário e todo o sistema da escrita e de representação simbólica. De certa maneira somos todos neo-analfabetos.

Quero dizer que os “leitores virtuais” se adiantaram. A indústria fonográfica está caçando avidamente seu público, as lojas virtuais estão pululando. Por que a indústria da produção do livro tarda tanto em descobrir a indústria da leitura? Por que disputar os mesmos minguados leitores entulhando toneladas de livros que serão rapidamente destruídos antes de serem lidos?

É como se os habitantes da Somália e da Etiópia, famintos, tivessem que assistir no seu acampamento de refugiados a alguns se banqueteando e jogando comida na lata de lixo enquanto eles morrem à mingua.

E O BRASIL NISSO?

Fomos envoltos por uma tsunami. Só que a onda (terceira, quarta, quinta?) envolve todo mundo, dá volta ao globo e causa modificações de acordo com a natureza ou acidentes geográficos e culturais de cada região.

Em tempos de feroz globalização, é bom lembrar que a antropofagia é própria dos seres vivos, e que Darwin tem razão ao falar da seleção das espécies. Temo, porém, que as espécies mais ferozes, não necessariamente as mais inteligentes, sobrevivam.

Quando me refiro à leitura, estou me referindo também à liberdade. A verdadeira leitura liberta e problematiza a própria leitura e a própria liberdade. O livro em si, ou a leitura fanática de uma única obra ou pensamento, não amadurece o indivíduo e a sociedade. Há sociedades que deram o livro ao povo, mas não deram liberdade de pensamento. Quando estive na Rússia, exatamente na semana em que o comunismo acabou, há 20 anos, naquele mês de agosto de 1991, reuni-me com editores soviéticos e soube para meu espanto que tinham mais de 200 mil bibliotecas. E nem por isso… Também as edições dos autores oficiais do partido, mesmo poesia, chegavam a milhões de exemplares. E nem por isso…
Em algumas ocasiões tenho dito que provavelmente somos a última geração letrada. Gostaria de estar equivocado, que o futuro me desmentisse. Ou que descobrisse, descobríssemos formas novas de ler. Se olharmos a história do Brasil, podemos detectar três momentos culturais e econômicos relevantes que nos forçam a uma decisão crucial no presente:

1. A febre do ouro e das pedras preciosas ocorreu aqui quando éramos colônia e essa riqueza escoou para os cofres dos dominadores. Isso foi diferente do que sucedeu com os Estados Unidos, que já eram independentes quando a “corrida do ouro” iniciou-se na costa leste.

2. Tendo perdido essa chance, perdemos também a chance da revolução industrial nos séculos 18 e 19, porque aqui predominavam a escravidão e a cultura agrária; e a coroa brasileira era apenas cliente dos produtos industrializados europeus.

3. Estamos diante da revolução digital. Se perdemos as duas revoluções anteriores, hoje há algumas coincidências: a revolução digital chega com a avassaladora globalização, no momento em que o Brasil auto-suficiente de petróleo incorpora outras classes e descobre o pré-sal.
Repito, para terminar: o verdadeiro pré-sal é a cultura e/ou a leitura. Os animais, os peixes, as árvores e até as bactérias lêem constantemente o mundo antes de tomarem qualquer decisão. Por que o ser humano insiste em andar às cegas no universo da comunicação?


[1] Revista da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) – julho/agosto 2011. Entrevista de Nelson Marangoni a Francisco Gracioso.

[2] Panorama Editorial. Câmara Brasileira do Livro, # 60, 2011.

[3] Idem, p. 37 e 38.

[4] Ver do autor deste ensaio: “Ler o Mundo”, Ed. Global, 2011.

[5] “Depois que inventaram o computador, as livrarias nem sempre compram os lançamentos, mas ficham tudo que está sendo publicado. Usam os cadernos literários para fazer o registro das novidades no computador. Então é comum acontecer o seguinte: o cliente passa numa livraria e pede um exemplar, por exemplo, de Curral de peixes: “O vendedor vai ao computador, digita o nome do autor, e em segundos tem as informações necessárias. O cliente quer o livro, mas aí o balconista diz que acabou de vender o último, e pergunta: “Quer esse livro para quando? Se mandar buscar amanhã, eu arranjo”. O cliente faz a encomenda, e só então esse funcionário telefona para a editora, ou passa um e-mail: “Mandar urgente. Se não for entregue em 24 horas, considerar anulado o pedido”. Ou seja, só nos pedem o livro com comprador certo”. Mesa redonda “A situação do livro no Brasil”, 21.11.2001, na Academia Brasileira de Letras.

[6] Em 2002 correu pela internet um manifesto de professores “contra a exclusão da literatura no Ensino Médio” no Rio de Janeiro. Na ocasião escrevi uma crônica (“Acabar com a literatura?”) que está em “Ler o mundo”, Ed. Global, 2011.

[7] Ler “Como se faz a indústria do vestibular”. Sonia Guimarães, Ed. Vozes, 1984, p. 13: “no período 1964-68 cresceu em 120% o número de inscritos nos exames vestibulares, taxa muito superior ao aumento do número de vagas oferecidas nesse mesmo período, que foi de 56%. Criou-se então o impasse e, com ele, o drama dos excedentes que cresceram 212% entre 64 e 68, 125 mil alunos, em todo o país, que passaram não conseguiram entrar na universidade por falta de vagas”.

[8] Ver “Ler o mundo”, ob cit: “Bibliotecas, alguns prefeitos são contra”.

[9] A leitura literária na Escola Pública Potiguar – IDE – Natal, 2011, p. 21.

[10] Entre tantos que escreveram sobre isto destaque-se o livro de Umberto Eco e Carrière: “Não contem com o fim do livro”. Ed. Record, Rio, 2010.

[11] No Seminário Nacional de Mediadores de Leitura, realizado em São Paulo em 2010, e que reuniu autoridades do MEC, MINC e de outros ministérios, me foi pedido que redigisse o seguinte documento aprovado pelos colegas: CARTA DO SEMINÁRIO NACIONAL DE MEDIADORES DE LEITURA
Os abaixo-assinados, escritores, professores, contadores de histórias, bibliotecários, membros de entidades ligadas à promoção da leitura, e representantes de vários ministérios, presentes no Seminário Nacional de Mediadores da Leitura, realizado em São Paulo de 12 a13 de março, discutindo questões relativas à realidade brasileira achamos por bem encaminhar às autoridades competentes as seguintes considerações:
  1. nas últimas décadas, a questão da leitura como instrumento de desenvolvimento não apenas pessoal, mas econômico e social tornou-se de tal modo evidente que vários países incrementaram estratégias para debelar tanto o analfabetismo quanto o analfabetismo funcional;
  2. no Brasil, também nas últimas décadas, foram criados inúmeros programas de promoção da leitura, que têm modificado a vida de milhares de pessoas no campo e nas cidades. A leitura deixou de ser uma preocupação apenas escolar e transformou-se em instrumento de cidadania e inclusão social sendo um agente eficaz na prevenção ao crime e à miséria;
  3. é possível realizar, e já existem, programas de leitura em quartéis, hospitais, presídios e comunidades marginalizadas. Seja entre camponeses, quilombolas e indígenas e em muitas cidades é possível se institucionalizar o ‘agente de cultura’, como quem vai topicamente desencadear ações modificadoras em todo o país;
  4. assim como o governo entende que a estabilidade do valor da moeda é uma questão de estado que transcende os governos passageiros, a leitura é a moeda, é o valor que credencia o indivíduo a ser um cidadão permitindo ao país se desenvolver. Com efeito, na modernidade, não existe nenhum pais próspero que não tenha passado pela revolução silenciosa do livro e da leitura. E a leitura, como gesto de comunicação, tornou-se a chave para o ingresso no século 21.
  5. chegou, por isso, o momento em que essa malha de manifestações existentes, pelo seu natural amadurecimento, requer uma outra dimensão na sua estratégia e na sua execução. É fundamental e recomendável que, reconhecendo a importância dessa questão, a promoção da leitura deixe de ser apenas uma preocupação do Ministério da Cultura e do Ministério da Educação, para se transformar também numa ação interministerial priorizada pela Presidência da República.
[12] Em 17 de março de 2009, por exemplo, Cleide Soares, do Ministério de Desenvolvimento Agrário, informava por carta: “Ficamos muito gratas pela lembrança do Programa Arca das Letras (…) Esta semana estamos levando mais bibliotecas áreas rurais, indígenas e quilombolas de Sergipe (40), Pernambuco (13), Ceará (16) e Mato Grosso (8). 77 novas comunidades terão acesso à leitura e isso nos agrada bastante (…) Já são mais de 13 mil agentes de leitura atuando no meio rural”.

[13] “Brasília foi outra oportunidade perdia pela biblioteconomia brasileira para afirmar-se como força social. Na memória do Plano Piloto, Lúcio Costa fala vagamente de uma biblioteca no setor cultural da cidade. Perguntei uma vez ao genial urbanista e arquiteto por que as unidades de vizinhança tinham tudo — escolas, clubes, igrejas, ruas de comercio local, cinemas, bancas de revistas, postos de gasolina, supermercados, menos bibliotecas. Ele me confessou que se esquecera (sic), ‘porque esse negócio de biblioteca popular nunca funcionou no Brasil”. (in “Acertos e desacertos da biblioteconomia no Brasil”, Recife, Flamboyant, 1993). Citado também em “Ler o Mundo”.

[14] Sobre isso, para mais detalhes, ver meu depoimento em “Ler o Mundo”. Ed. Global, SP, 2011.

[15] Ver Monteiro Lobato: a recriação do livro no Brasil, Apostolo Neto – Revista Espaço Acadêmico, # 28, set 2003, citando Edgar Cavalheiro:

“É quando surge Monteiro Lobato. Tendo impresso por sua conta, nas oficinas d’O Estado de São Paulo, mil exemplares de Urupês, verificara, ao ter os volumes prontos para venda, que em todo o território nacional existiam somente trinta e poucas casas capazes de receber o livro. Não era possível, por tão poucos canais, o escoamento daquilo que se lhe afigurava um despropósito de volumes. Dirige-se, então, ao Departamento dos Correios, solicita uma agenda e constata a existência de mil e tantas agências postais espalhadas pelo Brasil. Escreve delicada carta-circular a cada agente, pedindo a indicação de firmas ou casas que pudessem receber certa mercadoria chamada ‘livro’. Com surpresa recebe respostas de quase todas as localidades. De posse de nomes e endereços assim obtidos, procura entrar em contacto com os possíveis clientes, escrevendo-lhes longa circular, portadora de original proposta: ‘Vossa Senhoria tem o seu negócio montado, e quanto mais coisas vender, maior será o lucro. Quer vender também uma coisa chamada livro? V. Sª não precisa inteirar-se do que essa coisa é. Trata-se de um artigo comercial como qualquer outro, batata, querosene ou bacalhau. E como V. Sª receberá esse artigo em consignação, não perderá coisa alguma no que propomos. Se vender os tais ‘livros’, terá uma comissão de 30%; se não vendê-los, no-los devolverá pelo Correio, com porte por nossa conta. Responda se topa ou não topa’.

Segundo Edgar Cavalheiro, o expediente lobatiano funciona perfeitamente, pois: Quase todos toparam, e Lobato passou dos trinta e poucos vendedores anteriores, que eram as livrarias, para mil e tantos postos de vendas, entre os quais havia lojas de ferragens, farmácias, bazares, bancas de jornal, papelarias. O comércio de livros, que modorravam numa rotina galega, ganha impulso insuspeitado. As edições, que antes não ultrapassavam 400 ou 500 exemplares, e assim mesmo muito espacejadas, pulam imediatamente para três mil exemplares, e começam a surgir quatro, cinco, seis e até mais livros por mês.

[16] Borba de Moraes em “Testemunha ocular”. Briquet de Lemos, Brasília, 2010, diz na p. 218: “A leitura seria feita e os estudantes seriam atendidos nos bairros, onde existiriam, para começar, dez bibliotecas localizadas de acordo com a densidade de população”.

[17] Quando assumi a Fundação da Biblioteca Nacional (1990) encontrei em Brasília 200 mil exemplares do INL encalhados, que distribuí imediatamente para as bibliotecas.
 
AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA
É poeta, cronista e ensaísta. Autor de Que país é este?, entre outros. Vive no Rio de Janeiro (RJ).