quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quando o livro faz parte da vida e rotina dos funcionários

12/12/2011

Programas empresariais educam o funcionário e combatem o déficit de leitura no país


Em um país onde a leitura é um hábito pouco praticado, principalmente entre a população adulta, empresas do setor privado começam a tomar para si a responsabilidade de estimular a leitura entre seus funcionários para elevar o valor intelectual do capital humano e prover um benefício e incentivo aos colaboradores.

Segundo um levantamento o Instituto Pró-Livro referente ao ano de 2007, na ocasião 48% dos adultos brasileiros de 30 a 69 anos se autodeclaravam “não leitores”.

Entre os principais motivos dados pelos entrevistados estão a falta de tempo, o desinteresse, falta de dinheiro e de bibliotecas foram as principais alegações para a ausência do hábito, revelando a necessidade de medidas sociais para impulsionar o desejo e o gosto pela leitura.

Sensíveis a essa necessidade, algumas empresas já têm desenvolvido programas que facilitam o acesso aos livros, oferecem aos colaboradores a possibilidade da troca de conhecimentos e do desenvolvimento pessoal e profissional através do hábito da leitura.

Fonte de motivação

No grupo Cometa, por exemplo, os livros entraram no dia a dia dos funcionários aos poucos. O presidente Francis Maris Cruz, começou a comprar exemplares de alguns títulos para compor as prateleiras de cada unidade da empresa.

Mas o que começou despretensiosamente, se tornou há seis anos um programa estruturado, batizado de Cometa Leitura, com 15 bibliotecas (uma em cada loja do grupo), cerca de 300 livros cada, voltados para temas profissionais como liderança, gestão, relação interpessoal e autoajuda.

A cada mês, os funcionários devem ler ao menos um livro e entregar um resumo do que foi lido ao departamento de RH. Em um evento mensal, alguns leitores sorteados contam sobre o enredo e tema do livro e debatem com colegas possibilidades de aplicar os conhecimentos adquiridos no dia-a-dia da empresa.

“O programa tem ajudado funcionários tímidos a serem mais participativos nas reuniões e melhorou, inclusive, seu relacionamento com colegas, amigos e família”, afirma Cristinei Rodrigues Melo, diretor administrativo do Grupo Cometa.

A participação é voluntária, mas já conta com a participação de 90% dos dois mil colaboradores do grupo. Como incentivo, a leitura de 2400 páginas ao final do ano se tornou uma das metas para que o funcionário possa receber o 14° e até o 15° salário.

Caráter social e apoio público

Desde o ano passado empresas do ABC paulista têm disponibilizado aos funcionários espaços de leitura e empréstimos de livros dentro das fábricas. O projeto chamado Leitura nas Fábricas faz parte do programa Mais Cultura do Governo Federal e tem o apoio do Ministério da Cultura, prefeituras de Diadema e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Ao todo, a cidade possui oito pontos de leitura instalados e inaugurará mais sete em 2012. Além disso, o projeto já conta com apoios para se estender às empresas da cidade de São Bernardo do Campo e posteriormente para todo o Brasil.

Cada ponto conta com um agente de leitura que, além de cuidar do local, têm a missão de incentivar o empréstimo dos livros e a utilização do espaço para leitura nos horários de descanso e refeição.

“O processo de formação de um leitor é muito difícil e deve ser construído aos poucos, até a leitura se tornar um hábito”, explica Lucineide Guimarães, coordenadora do programa em Diadema.

“Estratégias como bilhetinhos nos murais, cartazes e até mesmo a instalação em pontos de maior movimento, são importantes para lembrar ao trabalhador que os livros estão à disposição dele”.

O empresário Nelson Miyazawa é presidente da Legas Metal, uma das primeiras empresas a aderir ao programa e além de novos livros, investe na assinatura de jornais e revistas para o espaço.

“Muitos funcionários começam a frequentar a biblioteca para levar livros para seus filhos e acabam encontrando novamente o interesse pela leitura que haviam perdido há muito tempo ou que nunca tiveram”, diz o empresário.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mais Livros Mais Livres RBS TV

Campanha Mais Livros Mais Livres de 2007, da RBS TV de Santa Catarina. Vale a pena rever

Anúncio Mais Livros Mais Livres RBS TV
Redação: Moises Dias Neto, André Timm
Direção de Arte: Moises Dias Neto
Ilustração: Éder Minetto






sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Para Isabel Solé, a leitura exige motivação, objetivos claros e estratégias

"Leitura exige motivação, objetivos claros e estratégias"
Rodrigo Ratier - Nova Escola - 08/12/2011

Foto: Sérgio ScripillitiProfessora do Departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação na Universidade de Barcelona, na Espanha, Isabel Solé afirma que a leitura exige motivação, objetivos claros e estratégias. Para a especialista, o professor ajuda a formar leitores competentes ao apresentar, discutir e exercitar as principais ações para a interpretação.

Pesquisas sobre como o leitor interage com o texto circulam no ambiente das universidades desde a década de 1970. Coube à espanhola Isabel Solé, professora do departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação na Universidade de Barcelona, na Espanha, trazer a discussão para as salas de aula. Publicado originalmente em 1992, seu livro Estratégias de Leitura esmiúça o papel do professor na formação de leitores competentes (leia a resenha do livro). "O ensino das estratégias de leitura ajuda o estudante a aplicar seu conhecimento prévio, a realizar inferências para interpretar o texto e a identificar e esclarecer o que não entende", explica. De sua casa, em Barcelona, Isabel apontou caminhos para a atuação prática.

Qual a maior contribuição do livro Estratégias de Leitura para a aprendizagem em sala de aula?
ISABEL SOLÉ Eu diria que o maior mérito foi colocar ao alcance dos professores de Educação Básica uma forma de pensar e entender a leitura que já era bastante conhecida no âmbito acadêmico, mas ainda não tinha muito impacto na prática educativa. Afinal, são os docentes que de fato contribuem para a melhoria da aprendizagem da leitura.

O que a escola ensina sobre a leitura e o que deveria ensinar?
ISABEL Basicamente, a escola ensina a ler e não propõe tarefas para que os alunos pratiquem essa competência. Ainda não se acredita completamente na ideia de que isso deve ser feito não apenas no início da escolarização, mas num processo contínuo, para que eles deem conta dos textos imprescindíveis para realizar as novas exigências que vão surgindo ao longo do tempo. Considera-se que a leitura é uma habilidade que, uma vez adquirida pelos alunos, pode ser aplicada sem problemas a múltiplos textos. Muitas pesquisas, porém, mostram que isso não é verdade.

Hoje em dia, o que significa ler com competência?
ISABEL Quando o objetivo é aprender, isso significa, em primeiro lugar, ler para poder se guiar num mundo em que há tanta informação que às vezes não sabemos nem por onde começar. Em segundo lugar, significa não ficar apenas no que dizem os textos, mas incorporar o que eles trazem para transformar nosso próprio conhecimento. Pode-se ler de forma superficial, mas também pode-se interrogar o texto, deixar que ele proponha novas dúvidas, questione ideias prévias e nos leve a pensar de outro modo.

Ensinar a ler é uma tarefa de todas as disciplinas?
ISABEL Sim. Não apenas para aprender, mas também para pensar. A leitura não é só um meio de adquirir informação: ela também nos torna mais críticos e capazes de considerar diferentes perspectivas. Isso necessita de uma intervenção específica. Se eu, leitora experiente, leio um texto filosófico, provavelmente terei dificuldades, pois não estou familiarizada com esse material. É preciso planejar estratégias específicas para ensinar os alunos a lidar com as tarefas de leitura dentro de cada disciplina.

Como os professores das diferentes áreas devem se articular entre si?
ISABEL O que aprendi em minhas conversas com professores é que os da área de línguas têm um papel importantíssimo para ajudar os alunos a melhorar a leitura e a composição de textos no campo de ação da própria língua e da literatura. Os responsáveis pelas demais disciplinas, por sua vez, podem lidar com textos mais específicos. Aliás, como assinalam muitos especialistas, quem leciona também deve aprender progressivamente a compreender e produzir os textos próprios de suas áreas. Em seguida, uma assembleia de professores ou a coordenação podem planejar que, digamos, o titular de História ensine a resumir textos como relatos, que o de Ciências ajude a produzir relatórios e a entender textos instrucionais e assim por diante. Outra proposta é, sempre que possível, trabalhar com enfoques mais globalizantes, com toda a equipe reforçando procedimentos de leitura e produção escrita.

Como é possível motivar os alunos para a leitura?
ISABEL Uma boa forma de um docente fomentar a leitura é mostrar o gosto por ela - quer dizer, comentar sobre os livros preferidos, recomendar títulos, levar um exemplar para si mesmo quando as crianças forem à biblioteca. Os estudantes devem encontrar bons modelos de leitor na escola, especialmente aqueles que não possuem isso em casa.

E como despertar o interesse para a leitura para aprender?
ISABEL O fundamental é que os alunos compreendam que, se estão envolvidos em um projeto de construção de conhecimento ou de busca e elaboração de informações, é para cobrir uma necessidade de saber. Muitas vezes, o problema é que que eles não sabem bem o que estão fazendo. Nesse caso, é natural que o grau de participação seja o mínimo necessário para cumprir a tarefa. Quando os objetivos de leitura são claros, é mais fácil estar disposto a consultar textos ou a procurar algo numa enciclopédia.

De que forma as estratégias realizadas antes, durante e depois da leitura podem auxiliar a compreensão?
ISABEL Elas ajudam o estudante a utilizar o conhecimento prévio, a realizar inferências para interpretar o texto, a identificar as coisas que não entende e esclarecê-las para que possa retrabalhar a informação encontrada por meio de sublinhados e anotações ou num pequeno resumo, por exemplo.

Se pudesse modificar algum ponto em seu livro, qual seria?
ISABEL Eu insistiria muito mais na conexão profunda que existe entre leitura e escrita quando o objetivo é aprender. Essa tarefa híbrida entre a leitura e a elaboração do que se lê por meio de resumos, sínteses e notas tem um impacto muito importante na aprendizagem. Algo que tenho visto nas investigações mais recentes do grupo de pesquisa de que faço parte é que muitos alunos, quando têm de fazer um resumo depois de ler, cumprem a tarefa sem voltar ao texto original para ver se o que se destacou é fiel ao que se leu. Creio que é preciso romper com a sequência "primeiro ler depois escrever". Em vez disso, é melhor pensar que se faz uma leitura já com o propósito de escrever, num processo que envolve a revisão do escrito.

Fonte: Revista Nova Escola