terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ensinar a ler e a gostar de ler

Matéria publicada em 09/01/2010


Marcelo Aouila
Produtor Cultural

O projeto Lê pra mim? começou há 18 anos, quando a filha da atriz e produtora Sônia de Paula pegou um livro e entregou para a mãe dizendo, “Mãe, lê pra mim?”. Imediatamente Sônia pegou o livro e leu aquela história para a filha. Ao fim da leitura, a menina contou que a professora tinha dado o livro para que ela pedisse à mãe para ler.

Neste gesto estava contida uma gama de atitudes e informações que incentivaram a pequena Maria Eduarda a ler, coisa que faz diariamente até hoje, e a Sônia a ler para a filha. Ao pedir para a mãe contar a história, a menina estava a colocando sentada ao seu lado, em um momento mãe e filha. Sônia começou a puxar pela imaginação da menina perguntando qual era o vestido da mocinha, a casa, o sapato do amiguinho, a cor do carro, e outras perguntas que faziam a pequena Maria Eduarda imaginar um universo em torno daquele livro.

Sônia começou a desenvolver projetos voltados para o público infantil onde pudesse contar histórias da Carochinha. Produziu sete peças de teatro cujo maior sucesso – O casamento de Dona Baratinha está em cartaz pelo Brasil há 14 anos. Porém, a lembrança da filha pedindo para a mãe ler para ela, ficou marcada.

Nesta época de grande velocidade do dia a dia, muitos pais perderam este contato lúdico e carinhoso com as crianças. Poucos ainda contam histórias para seus filhos dormirem, ou contam histórias para que se aprenda alguma lição. Antes não existia televisão, hoje vivemos com ela. Antes não existia celular, hoje somos dependentes. Antes não existia internet. Como vivíamos?

Os pais perderam este contato lúdico com os filhos, poucos contam histórias para eles dormirem

Escrevo contos desde o ano 2000 e faço parte do Clube da Letra, um grupo de literatura. Sônia me contou esta história em 2008 e então começamos a bolar um projeto que pudesse dar vida a este pedido: “lê pra mim?”. Pronto, já tínhamos o titulo. Chegamos aos Correios, que se interessaram em colaborar com o projeto. Sônia convidou atores e atrizes, que ficaram honrados em participar, e nós contactamos os autores, que ficaram felizes por ajudar a incentivar as crianças a lerem através de seus livros.

Aquele simples gesto da professora foi importantíssimo para chegarmos até aqui. O papel da escola neste incentivo à leitura proporciona também que as crianças possam adquirir novos conhecimentos, imaginar, visualizar e conhecer outras culturas, outras formas de perceber e enxergar o mundo em que vivem. É através do incentivo das crianças à leitura que vamos ter jovens ávidos por buscar histórias de vampiros, bruxos e cavaleiros; heróis da juventude, superhomens, salvadores da pátria, mestre dos magos; mocinhas apaixonadas, príncipes encantados e cavaleiros andantes. E quanto mais a criança ler, mais o jovem vai ler e o adulto certamente será um leitor compulsivo. Um leitor que vai tirar suas próprias conclusões sobre cada tema estudado, lido, e não vai se impregnar por histórias truncadas contadas por alguém que ouviu e não sabe onde. Incentivando uma criança a ler, estamos defendendo os seus direitos de acesso ao conhecimento da humanidade.

Que a criança busque no livro um companheiro e se torne um cidadão de respeito

O sétimo princípio da Declaração dos Direitos da Criança, adotada pela ONU em 1959 e ratificada pelo Brasil, diz que “A criança terá direito a receber educação, que será gratuita e compulsória pelo menos no grau primário.” Partindo deste princípio, o projeto Lê pra mim tem entrada franca para qualquer criança, de qualquer classe social, entrar em contato com a literatura, com artistas de televisão e com outras crianças.

O principio diz ainda que “Ser-lheaacute; propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la a, em condições de iguais oportunidades, desenvolver as suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu senso de responsabilidade moral e social, e a tornar-se um membro útil da sociedade.” Ora, é tudo o que queremos. Que a criança, incentivada a ler, busque no livro um companheiro, uma resposta, faça a sua analise sobre aquela história, tire suas próprias conclusões, evite ser manipulado e se torne um cidadão de respeito.

Um comentário:

  1. Luciana Marques de Almeida25 de janeiro de 2011 às 04:35

    Ensinar a ler e a gostar de ler é o maior legado que podemos deixar para nossos filhos. Concordo com Marcelo Aouila: só através da leitura é possível formar um cidadão de respeito. Sempre que o tema é incetivo a leitura e formação de novos leitores cito a poesia Viajar pela leitura:

    Viajar pela leitura
    sem rumo, sem intenção.
    Só para viver a aventura
    que é ter um livro nas mãos.
    É uma pena que só saiba disso
    quem gosta de ler.
    Experimente!
    Assim, sem compromisso
    você vai me entender.
    Mergulhe de cabeça
    na imaginação!
    Clarice Pacheco

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