quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"Ler é uma coisa que enriquece"

Afirmação é da escritora Ruth Rocha, que diz: “Ninguém consegue viver sem saber ler hoje em dia"

De Araçatuba, Jean Oliveira jean.oliveira@folhadaregiao.com.br


A escritora Ruth Rocha, uma das mais premiadas e consagradas autoras de livros infantis da Língua Portuguesa, diz que ninguém consegue viver hoje sem saber ler. Em entrevista à Folha da Região, ela aproveita o Dia Nacional da Leitura, que é comemorado hoje, para chamar a atenção das pessoas para a importância de se enriquecer culturalmente por meio da palavra escrita.

Segundo a autora, não é só a escola que deve desenvolver este hábito e este prazer nas novas gerações. Ela também dá ênfase à importância dos pais serem modelo de leitores em casa.

O Dia Nacional da Leitura foi instituído em 2009 pela Presidência da República, após três anos de uma mobilização liderada pelo Instituto Ecofuturo (leia mais sobre o instituto abaixo).

A campanha deste ano pretende atingir milhares de pessoas a partir de uma rede inicial de mais de 40 parceiros, entre eles a ANJ (Associação Nacional de Jornais), do qual a Folha da Região faz parte, e seu Programa Jornal e Educação. O mote da campanha de 2010 é "Todo dia é dia de ler. Lê para mim!"

O objetivo da campanha é mostrar que o gosto pela leitura nasce no colo dos pais e se estende por toda a vida. Essa constatação vem de diversas pesquisas, como a Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, que aponta que 79% do público considerado leitor se refere à mãe ou ao pai como a pessoa que mais
o influenciou a ler.

AUTORA

Ruth Rocha é graduada em Sociologia e Política pela USP (Universidade de São Paulo) e pós-graduada em Orientação Educacional pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Durante 15 anos (de 1956 a 1972) foi orientadora educacional do Colégio Rio Branco, onde pôde conviver com os conflitos e as difíceis vivências infantis e com as mudanças do seu tempo. A liberação da mulher, as questões afetivas e de autoestima foram sedimentando-se em sua formação.

Começou a escrever em 1967, para a revista Claudia, artigos sobre Educação. Participou da criação da revista Recreio, da Editora Abril, onde teve suas primeiras histórias publicadas a partir de 1969.

Publicou seu primeiro livro, "Palavras Muitas Palavras", em 1976, e desde então já teve mais de 130 títulos publicados, entre livros de ficção, didáticos, paradidáticos e um dicionário. As histórias de Ruth Rocha estão espalhadas pelo mundo, traduzidas em mais de 25 idiomas. Seu livro mais conhecido é "Marcelo, Marmelo, Martelo", que já vendeu mais de 1 milhão de cópias.

PRÊMIOS

Em 1998, foi condecorada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso com a "Comenda da Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura".

Ganhou os mais importantes prêmios brasileiros destinados à literatura infantil da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, da Câmara Brasileira do Livro, cinco Prêmios "Jabuti", da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Academia Brasileira de Letras, Prêmio João de Barro, da Prefeitura de Belo Horizonte, entre outros.

Em 2002, ganhou o prêmio "Moinho Santista de Literatura Infantil", da Fundação Bunge. Também nesse ano foi escolhida como membro do PEN Club da Associação Mundial de Escritores no Rio de Janeiro. Atualmente é membro do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta. Leia trechos da entrevista:

Qual a importância da leitura para a formação do cidadão?

O que se deve dar bastante ênfase em matéria de leitura é que nós estamos em uma sociedade predominantemente letrada. Tudo tem letra. A placa do ônibus, as ruas, as máquinas com que se trabalha. Tudo tem uma palavrinha ou um número. Tudo é escrito com letra. A pessoa que não lê, fica excluída de cara. Então, este é o primeiro degrau. Mas, isso não basta porque as instruções sobre máquinas, dos automóveis, dos computadores e da televisão vêm tudo escrito com trechos longos e com muitas palavras. Assim, a pessoa deve ter mais um degrau de leitura, que é ser capaz de ler este tipo de coisas mais complexas.

Ler é conseguir interpretar, também, não é?

Sim, e este é o terceiro degrau. A pessoa, para estudar, precisa ter mais uma capacidade agregada à leitura. Porque, para entender o que se está estudando, e aprender e desenvolver este conhecimento nos exames, nos concursos e nas vezes que a pessoa é solicitada, deve-se ter mais um degrau, que é a capacidade de interpretação. E além de tudo isso, se a pessoa quer ser feliz, ter muito prazer na sua vida e viajar na sua imaginação, ele precisa ser porque a leitura é uma coisa que enriquece.

Como os pais podem incentivar os filhos a ler?

Em primeiro lugar, dar o exemplo é a melhor forma. Os pais que leem já são um caminho para os filhos. É importante, também, ter livros, comprar diversas obras e deixá-las à disposição em casa. Eles têm que valorizar os livros, o ensino, o professor e a escola. Tudo isso é muito importante.

A senhora acredita que as escolas têm cumprido bem esta função de incentivar a leitura?

Acho que nem todas. Acho até que poucas. Mas uma coisa importantíssima é a escola incentivar (a leitura), porém, as famílias não podem esquecer que elas têm uma responsabilidade também. Porque as pessoas acham que isso é coisa da escola. Mas, não é. Os pais têm que demonstrar apego e admiração aos livros. Têm que ajudar a criança a ler desde pequena, contar história. Outra coisa importantíssima para ler é falar. Você tem que conversar com a criança. Deixar que ela fale, dê palpite e argumente. Porque se a criança não tem o exercício da palavra, é difícil para ela entender o que lê.

Como escolher um livro certo para a criança?

Olha, o livro certo não existe. O que há é uma obra, de vez em quando, bem acertada para uma pessoa. Então, na verdade, a coisa é ler bastante, frequentar bibliotecas e livrarias. Olhar os livros, tentar olhar a cara que ele tem. É importante, também, prestar bastante atenção na idade da criança. O pai pode ler um pedacinho e dizer: "fulano não vai entender isso que eu estou lendo". Mas isso é o mínimo que um pai pode
fazer, não é?!

A senhora, quando escreve um livro para crianças, se preocupa com a mensagem que vai passar, ou a leitura pode ser também apenas por diversão?

Ah, o livro é tudo, né! Mensagem não é o que a gente passa. Ela vem no que o livro tem de bom. No que o livro tem de artístico, de bem estruturado, de raciocínio inteligente, do uso correto da língua. É isso que faz o livro redondo. E é isso que dá o desenvolvimento para a criança. Isso desenvolve o vocabulário, a ética, a estética e a capacidade de ler, para ler mais e melhor. Então, é por meio da leitura que se desenvolve a própria leitura.

De onde a senhora tira a inspiração para seus livros?

Eu tiro da vida e, principalmente, de livros. Não há escritor que não seja um grande leitor. O escritor que não lê não é escritor.


Biblioteca Virtual é uma das novidades do Instituto Ecofuturo

A novidade desta edição da campanha do Instituto Ecofuturo, que tem apoio da Folha da Região, é a Biblioteca Virtual Ecofuturo, que é um espaço com diversos conteúdos que orientam a promoção de leitura, incluindo uma publicação inédita, com texto de autores renomados das diversas áreas do conhecimento, sobre a importância da literatura.

O Instituto criou este espaço pensando em quem não sabe como realizar ações de promoção de leitura - em casa, na escola, em bibliotecas e em parques, entre outros lugares - ou não tem ideia do que ler para crianças e jovens. A biblioteca está hospedada no site http://www.dianacionaldaleitura.com.br/. A diretora de Educação e Cultura do Instituto Ecofuturo, Christine Fontelles, destaca que ler é um hábito social. Enfatiza, inclusive, que as pessoas não nascem leitoras; mas sim se tornamos leitores por convívio e por contato. Por isso, diz ela, a oferta da leitura literária pelos pais, de forma amorosa, é fundamental para que a prática se torne agradável e contribua para o letramento das crianças, preparando-as para momentos futuros em que a leitura, em seus múltiplos suportes e funções, vai demandar esforço e nem sempre será um prazer".

INSTITUTO

O Instituto Ecofuturo é uma organização social de interesse público criada e mantida pela Suzano desde 1999. Para o Ecofuturo, a palavra é a ponte para a sustentabilidade, por isso, investe no Programa Ler é Preciso, por meio do qual promove a leitura e a escrita entre crianças, jovens e adultos. Também realiza projetos que promovem o desenvolvimento de práticas de gestão sustentável em reservas naturais e cidades, como o Parque das Neblinas e o Programa Investimento Reciclável.

Matéria publicada em 12/10/2010

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