terça-feira, 28 de setembro de 2010

Livro de pano no incentivo a leitura

Projeto ajuda a geração de renda de mulheres da periferia de São Paulo

Criatividade pode incentivar o hábito da leitura e a geração de renda. Em São Paulo, uma associação de mulheres confecciona livros infantis e jogos com tecidos.


Fonte: Programa Ação

sábado, 25 de setembro de 2010

Projeto "Meu Berço Meu Saber"

Birigui, SP - O Projeto “ MEU BERÇO MEU SABER” é realizado durante todo ano letivo com o enfoque na promoção do gosto pela leitura, tanto no ambiente escolar como fora dele, envolvendo alunos, professores e funcionários de cada comunidade escolar.


O projeto consiste na distribuição gratuita desses livros para alunos matriculados desde a pré-escola até o quarto ano do ensino fundamental. A medida tem como principal objetivo incentivar o hábito da leitura tanto na escola quanto em casa. Os títulos dos livros foram escolhidos por uma equipe de coordenadores pedagógicos. Para os alunos do ensino fundamental, o critério para a escolha dos títulos foi a distância dos apelos comerciais. Aos alunos da pré-escola, foram selecionados títulos que despertam interesses nas crianças.


Motivar os alunos com bons textos, boas histórias, boa literatura é o ponto máximo do Projeto que culmina no mês de outubro, mês da criança, do professor e do funcionário, com a entrega de um bom paradidático adequado a cada faixa etária.


Em cada Unidade Escolar será organizado um evento junto à comunidade para que a entrega dos livros seja o momento marcante da consolidação das atividades desenvolvidas durante o ano letivo.


sábado, 18 de setembro de 2010

Piracicaba ganha primeira biblioteca em terminal de ônibus

Texto: Paola Ribeiro

A Prefeitura, por meio de parceria entre a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Semuttran), o Instituto Brasil Leitor (IBL) e a Caterpillar, inaugura na próxima quinta-feira, 16, às 11h, a primeira biblioteca em terminal de ônibus da cidade. Com o apoio do Ministério da Cultura, a biblioteca “Máquina do Saber” será implantada no Terminal Central de Integração, localizado na avenida Armando de Salles de Oliveira.

Foto: Justino Lucente

“Esta unidade é muito importante porque agora conseguimos, graças à parceria com a prefeitura, atender também os usuários de ônibus no interior paulista”, diz William Nacked, diretor-geral do IBL – que também é responsável por bibliotecas em sistemas de metrô e trem de todo o Brasil.

O secretário municipal da Semuttran, Paulo Prates, ressalta a feliz escolha do terminal central para instalação da biblioteca, haja vista o grande fluxo de pessoas no local.

“Diariamente, o terminal recebe cerca de 25 mil pessoas de toda a cidade. No mês, são 540 mil usuários que, agora, terão acesso gratuito a mais de dois mil livros”, informa Prates.

O acervo inicial da biblioteca Máquina do Saber conterá 2.125 títulos dos mais diversos gêneros: literatura brasileira, autoajuda, best-seller, infanto-juvenil, filosofia, religião, ciências sociais, linguística, artes e história. A expectativa é chegar a mais de três mil associados nos primeiros dois anos de funcionamento.

Foto: Justino Lucente

A Máquina do Saber funcionará de segunda a sexta-feira, das 11h às 20h. Para utilizar o serviço, os passageiros precisarão apenas fazer um cadastro gratuito. Os interessados deverão apresentar documento de identidade e CPF (originais e cópias), juntamente com uma foto 3x4. Também será necessário levar o comprovante de residência atual (original e cópia). Menores de 18 anos deverão estar acompanhados dos pais. Os leitores serão cadastrados e receberão uma carteira de identificação com foto e código de barra para usar o serviço. A partir daí, poderão retirar os livros de seu interesse sem custo algum.

Bibliotecas do IBL – A Máquina do Saber de Piracicaba é a décima biblioteca do IBL. O Brasil Leitor mantém, também, cinco Embarque na Leitura em São Paulo (estações Paraíso, Tatuapé, Luz e Santa Cecília do Metrô e estação Brás da CPTM) uma Livros & Trilhos no Rio de Janeiro (Estação Central); uma Livros sobre Trilhos em Porto Alegre (Estação Mercado); uma Estação Leitura em Belo Horizonte (Estação Central) e a Leitura Integrada em Paulista, Grande Recife (Terminal Integrado Pelôpidas Silveira). Juntas somam 55.751 associados e 565.526 empréstimos.
“Esse sucesso prova que o brasileiro quer e gosta de ler. Facilitar o acesso aos livros era o que faltava para incentivar a leitura em um mundo moderno e apressado”, afirma Nacked.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Um país que se fez de homens, mas sem livros

Ricardo Carvalho - 16 de setembro de 2010

Manguinhos, no Rio de Janeiro, inaugura um conceito de biblioteca mais atraente à comunidade e que facilita o contato do público com os livros

Inspirado na cidade de Medellín, o projeto busca melhorar
 o desenvolvimento da comunidade. Foto: Caru Ribeiro

O complexo de Manguinhos, região periférica do Rio de Janeiro, foi escolhido para a instalação da primeira biblioteca parque do Brasil. Com a nova Biblioteca Parque de Manguinhos, inaugurada em abril onde antes funcionava uma antiga Divisão de Armamentos do Exército, Manguinhos passou a possuir a maior concentração de equipamentos culturais da cidade. Só de acervo, são 25 mil livros, 3 milhões de músicas em arquivo de MP3, 900 filmes em DVD e diversos brinquedos. Além do mais, os arredores contam com uma praça, centros comunitários e quadras poliesportivas, que devem atender uma população de mais de 100 mil pessoas de 16 comunidades da zona norte carioca. Com isso, espera-se fazer da biblioteca um centro de referência para a difusão de cultura e estímulo à leitura em uma região antes totalmente carente em relação a áreas de lazer e atividades culturais.

“O objetivo é atrair a população para a convivência naquele espaço”, afirma a secretária de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, Adriana Rattes. Ela explica que será oferecida na biblioteca parque uma programação voltada para as vocações da comunidade. Por isso serão disponibilizados cursos de empreendedorismo, alfabetização digital e qualificação em gerenciamento de pequenos negócios, como bares e restaurantes populares.

Para definir o modelo de biblioteca que seria instalada em Manguinhos, foram visitadas diversas experiências realizadas em países com políticas fortes de livro e leitura, principalmente França, Chile e Colômbia. O nome biblioteca parque foi importado de uma iniciativa existente na cidade colombiana de Medellín, em que a instalação de equipamentos similares nas comunidades mais carentes contribuiu para a redução dos índices de violência, analfabetismo e de desenvolvimento humano. Medellín serviu como inspiração principalmente por se tratar de uma cidade que, assim como o Rio de Janeiro, convive com sérios problemas de exclusão social e violência. “Lá (em Medellín), as bibliotecas eram o símbolo da recuperação das comunidades”, afirma Adriana.

Manguinhos é a segunda biblioteca inaugurada no Brasil com uma proposta diferenciada, cuja preocupação é oferecer à população um espaço confortável, livre, sem preconceitos literários e que seja, principalmente, uma opção de lazer. Em fevereiro, começou a funcionar a Biblioteca de São Paulo, localizada onde antes existia o complexo penitenciário do Carandiru. Na ocasião da inauguração da Biblioteca de São Paulo, a diretora Magda Montenegro explicou a proposta: “Fizemos uma biblioteca sem preconceitos com a leitura e que não qualifica o que a pessoa deve ou não ler”. Para atrair o público, junta-se a isso o contato direto com o livro nas estantes (sem a necessidade de solicitar exemplares à bibliotecária), o acervo atualizado e a realização de eventos culturais. De acordo com Magda, a remodelação do conceito de bibliotecas públicas no Brasil tende a seguir o apresentado pela Biblioteca de São Paulo e, mais recentemente, de Manguinhos. “Antes, a biblioteca era um santuário distante e isso afastava o público.”

Segundo Ezequiel Theodoro da Silva, professor livre-docente em Metodologia de Ensino pela Faculdade de Educação da Unicamp e colaborador voluntário do grupo ALLE (Alfabetização, Leitura e Escrita), esse novo modelo de biblioteca é uma tentativa bem-vinda para a realidade brasileira, país no qual as bibliotecas historicamente foram tratadas com abandono. “Temos de repensar o modelo original, romper com uma biblioteca enclausurada e bloqueadora, que não servia a totalidade da população”, explica. O professor revela que bibliotecas mais despojadas e arrojadas, que servem de ponto de encontro para a comunidade, já existem em cidades como Nova York e São Francisco, nos Estados Unidos.

Dívida histórica

A criação de duas bibliotecas-modelo não ameniza uma dívida histórica brasileira. “O histórico no Brasil é de abandono das bibliotecas”, explica Ezequiel Theodoro da Silva. Isso ocorre porque a conservação desses espaços depende de manutenção, preservação e atualização do acervo. Além do mais, Silva complementa que o acesso às bibliotecas no Brasil sempre foi muito restrito e não houve políticas de capilarização para todas as cidades brasileiras.

Atualmente, a situação brasileira aponta melhoras a partir da articulação do Plano Nacional do Livro e Leitura, capitaneado pelos ministérios da Cultura e da Educação. Entretanto, o gargalo criado após décadas de descaso deixou uma realidade difícil de ser confrontada. Segundo levantamento realizado em 2009 pela Fundação Getulio Vargas a pedido do Ministério da Cultura, 79% das cidades brasileiras possuem pelo menos uma biblioteca municipal. O estudo também revelou que 8% dos municípios não possuem esse tipo de equipamento público e que 12% estão em processo de abertura de uma, com o apoio do Minc. Quando analisados os dados referentes à estrutura, a situação mostra-se mais preocupante: apenas 47% têm, de acordo com os técnicos pesquisadores, condições adequadas de iluminação, ventilação, mobiliário e equipamentos. Outra questão preocupante é a oferta de cursos de extensão (12%) e o acesso à internet para os usuários (29%).

O diretor de Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura, Fabiano dos Santos Piuba, diz que o Ministério da Cultura está caminhando para zerar o déficit de municípios sem bibliotecas até o fim deste ano e modernizar as existentes. Dentre os principais problemas identificados pelo estudo da FGV, Piuba destaca a baixa frequência, número reduzido de funcionários (a maioria tem entre um e dois) e poucos dirigentes com formação em biblioteconomia (11%). Ele também aponta que seis capitais brasileiras estão em situação crítica na proporção de uma biblioteca para 100 mil habitantes. São elas Manaus, Belém, Recife, Salvador, Goiânia e Fortaleza, esta com cerca de 0,04 biblioteca pública municipal para 100 mil habitantes. Para essas cidades, o Minc desenvolve um plano de instalação de bibliotecas menores nas regiões da periferia. O professor Ezequiel Theodoro da Silva afirma que os dados apresentados pelo estudo da FGV devem ser colocados sob uma perspectiva qualitativa. “Depende do que você chama de biblioteca.” Segundo ele, uma biblioteca precisa contar com profissionais especializados, acervo em quantidade suficiente e em bom estado de conservação, além de estar disponibilizado ao público. “A dívida social é muito grande e depende da mobilização dos governos federal, estaduais e municipais, e isso não ocorrerá em seis meses.”

Silva complementa serem essenciais políticas articuladas e de longa duração, que visem, além da construção de bibliotecas, recursos para a sua manutenção, atualização de acervo e informatização. Somente assim o Brasil poderá finalmente constituir-se, como defendia Monteiro Lobato, em um país feito com homens e livros.

sábado, 11 de setembro de 2010

Institutos Alpargatas e Camargo Corrêa levam bibliotecas a mais de 50 mil alunos na Paraíba


A partir deste mês, os Institutos Alpargatas e Camargo Corrêa começam a levar a biblioteca à sala de aula em seis municípios da Paraíba. A primeira entrega do projeto, uma parceria entre os institutos e a editora L&PM, ocorreu no último dia 7, em Serra Redonda, distante 104 quilômetros da capital, João Pessoa. O lançamento do programa aconteceu no Grupo Escolar Eduardo Medeiros, com a participação do prefeito da cidade, Manoel Marcelo de Andrade, da secretária de Educação do município, Isabel Machado de Andrade, além de alunos, pais, professores, representantes dos institutos e comunidade local.


O Pró-Biblioteca contempla as 19 escolas municipais de Serra Redonda. Até novembro, outras 255 escolas recebem a biblioteca, cujo formato, móvel com rodinhas, permite que seja transportada a todas as salas de aula. As outras cinco cidades contempladas serão Mogeiro, Ingá, Guarabira, Alagoa Nova e Campina Grande. Idealizado pela Associação Rio-Grandense de Bibliotecários, o projeto foi ampliado para se adequar à realidade das escolas públicas da Paraíba, onde os institutos Alpargatas e Camargo Corrêa desenvolvem um programa de melhoria da gestão de escolas públicas, o Escola Ideal.


"Realizamos um diagnóstico da situação das escolas nestes municípios e uma das necessidades apontadas foi a instalação de bibliotecas", explica Francisco Azevedo, diretor-executivo do Instituto Camargo Corrêa. A implantação do projeto conta com parceria da Secretaria de Educação dos municípios envolvidos e funcionários voluntários das unidades locais da Alpargatas. "No meu tempo era muito diferente, não tive as mesmas oportunidades que estas crianças estão tendo hoje. O projeto vai beneficiar muito o município onde moro e trabalho", concluiu Márcia Pontes, monitora de produção da fábrica da Alpargatas de Serra Redonda.

Além de valorizar a leitura nas escolas, o projeto também pretende incentivar a comunidade a ler. Para isto, o programa prevê a capacitação de 80 profissionais, que atuarão como divulgadores das bibliotecas no entorno das escolas. "Queremos, por meio do projeto, estimular o gosto pela leitura não só entre os estudantes, mas na população como um todo", afirma Berivaldo Araújo, diretor executivo do Instituto Alpargatas.

As mais de 40 mil obras que começam a ser disponibilizadas contemplam clássicos brasileiros e portugueses, leituras de interesse geral, livros infantis e infanto-juvenis.

Escola Ideal

O Pró-Biblioteca é mais uma ação do Programa Escola Ideal, cujo objetivo é contribuir para o aprimoramento da gestão de escolas públicas. Também fazem parte da iniciativa os projetos Juntos pela Escola Ideal que, em sistema de mutirão, já reformou 29 escolas na Paraíba, e Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), cuja tecnologia permite o cultivo de hortaliças orgânicas.


O programa teve início em março de 2008, quando as escolas participantes passaram por uma auto-avaliação abordando seis temas: profissionais da educação, condições de ensino, políticas e práticas pedagógicas, desempenho escolar, ambiente educativo e gestão escolar.

A análise dos dados permitiu identificar as necessidades e as potencialidades das escolas. A partir deste ponto foram estabelecidas, junto às secretarias de educação, iniciativas, como o Pró-Biblioteca, que visam o aprimoramento da gestão do ensino público.

Sobre o Instituto Alpargatas

O Instituto Alpargatas tem como missão melhorar a qualidade educacional de crianças e adolescentes das comunidades onde a empresa está presente. Este ano, o IA comemora seu sexto aniversário, com atuação marcante nos municípios de João Pessoa, Santa Rita e Campina Grande, na Paraíba, de Natal, no Rio Grande do Norte, e de Carpina, em Pernambuco. Seu principal projeto - Educação Por Meio do Esporte - envolve as iniciativas Ação Escola, que utiliza a prática esportiva como instrumento metodológico para a melhoria da educação, durante o horário escolar; Ação Pós-Escola, no qual os alunos dedicam-se a modalidades esportivas monitoradas, fora do horário regular das aulas; e apoio financeiro para melhoria de quadras esportivas.

Sobre o Instituto Camargo Corrêa

O Instituto Camargo Corrêa, criado em dezembro de 2000, é o responsável pelos investimentos sociais do grupo. Sua missão é promover o desenvolvimento comunitário sustentável, investindo em crianças, adolescentes e jovens. Para tanto, criou quatro programas: o Infância Ideal, cujo objetivo é contribuir para o desenvolvimento saudável de crianças de 0 a 6 anos; o Escola Ideal, que trabalha pela melhoria da qualidade de gestão da escola pública; o Futuro Ideal, voltado para o empreendedorismo juvenil e geração de trabalho e renda; e o Ideal Voluntário, que facilita a ação voluntária dos profissionais do Grupo Camargo Corrêa.

Matéria publicada em 15/05/2009

Fonte: Instituto Alpargatas

Baú de Leitura


Despertar educadores, crianças e comunidades para leitura lúdica, criativa e contextualizada é o grande desafio do projeto Baú de Leitura, uma das mais bem-sucedidas experiências do MOC e do Unicef dentro do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, em parceria com a SETRAS (Secretaria Estadual do Trabalho e Ação Social), prefeituras municipais e sociedade civil. O objetivo é contribuir para ampliar a qualidade da escola do campo, através do processo de formação de educadores para desenvolver, no espaço escolar - da Jornada Ampliada e/ou na Jornada Regular - atividades de leitura de forma prazerosa e crítica com as crianças, mediando a reflexão das crianças sobre sua realidade e de sua comunidade a partir das histórias lidas efetivando a relação texto e leitura de mundo. No projeto a leitura é um instrumento de construção da cidadania.

O projeto consiste na circulação de um baú feito de sisal, símbolo da região, repleto de livros de histórias infanto-juvenis e materiais didáticos de apoio para o trabalho do educador. A leitura dos livros possibilita que professores e crianças desenvolvam a reflexão e o aprofundamento dos temas orientadores (identidade cultural e cultura local, relação com o meio ambiente e relações entre família, comunidade e sociedade). Monitores, professores, alunos e comunidade fortalecem, através da leitura, a própria identidade, conhecem melhor a história da região e do mundo em que vivem e se expressam posteriormente em textos, poesias, paródias, contações de histórias, apresentações teatrais sobre os resultados do processo de leitura e participam de outros espaços sociais na comunidade e municípios como conselhos, associações, sindicatos, exercitando assim a cidadania. Os baús são itinerantes passando um período numa determina localidade e depois sendo trocados por outro, com acervo diferente, assim as crianças passam a ter acesso a novas experiências literárias.

O Baú de Leitura caminha para se transformar em uma proposta de política pública, uma vez que a experiência hoje se desenvolve em parceria com a SETRAS (que disponibiliza os monitores e os coordenadores dos monitores), as prefeituras (que adquirem os livros e baús) e sociedade civil que deve ter o controle social deste processo. O MOC e o UNICEF que antes eram responsáveis por todo o processo, passaram a assumir apenas a responsabilidade para a capacitação e o monitoramento pedagógico das ações dos monitores.

Mais de 20.000 crianças estão envolvidas neste processo e os resultados são concretos: demonstram maior interesse pela leitura, melhor capacidade de expressão oral e escrita e também incentivam a participação dos pais e da comunidade nos Núcleos de Leitura e grupos de discussão. A iniciativa, que começou com 30 baús em 1999, conta com mais de 700 na Bahia. A experiência já chegou ao Estado de Sergipe onde circulam outros 60 baús.

Projetos incentivam o hábito da leitura

Parceria contribui para a revitalização de salas de leitura nas escolas da rede pública de ensino do Distrito Federal

Uma parceria entre escolas da Secretaria de Educação (SEDF) com o Projeto Bibliotecas Casas do Saber tem refutado as previsões pessimistas sobre o futuro do livro diante das novas tecnologias. Um exemplo desta ação foi a inauguração da Sala de Leitura Monteiro Lobato, na Escola Classe Café Sem Troco no Paranoá, nesta quarta-feira (1º de setembro).

O projeto Casas do Saber, desenvolvido pela Rede Gasol, tem realizado um trabalho de arrecadação de livros nos postos de combustível do Distrito Federal. Com a colaboração de voluntários, os livros são selecionados e distribuídos para as bibliotecas beneficiadas. Os espaços a serem destinados às salas de leitura também recebem manutenção e mobília.

Na EC Café Sem Troco, a sala recebeu, além do acervo, estantes, mesas e cadeiras e um computador. A iniciativa favoreceu os 284 alunos da instituição educacional. Para o diretor da instituição, Marcelo Soares de Oliveira, a inauguração contribuiu para a valorização da leitura. “Queremos instigar nossos alunos a se tornarem leitores conscientes. Com o novo acervo, nossos projetos de leitura serão consolidados”.

A escola já desenvolve diversos projetos como o “Centopéia Sabida” e o “Diário de Bordo”. No primeiro, um dos servidores da escola fantasiado leva uma maleta de livros a cada sala de aula e desenvolve conteúdos de acordo com a disciplina em foco. O outro incentiva o hábito da leitura e da escrita – o aluno pega emprestado um livro e, ao devolvê-lo, narra aspectos da sua vida e observações da obra escolhida.

Outra instituição beneficiada é a Escola Classe do SRIA, no Setor de Indústria e Abastecimento. O projeto Casa do Saber reformou a sala de leitura, que foi batizada como Casa dos Sonhos. O nome sugestivo foi escolhido por votação entre os estudantes. Também foi criado o projeto Hora da Leitura: todos os dias, após o intervalo, os alunos ouvem música clássica, enquanto leem obras literárias.

A sala de leitura Ruth Rocha, da Escola Classe 2 da Estrutural, que atende 758 alunos, também faz parte do projeto. Uma vez por semana, o projeto “Lendo e aprendendo” promove uma pausa para leitura, de aproximadamente uma hora, com a participação de servidores e alunos. Os estudantes, além da leitura na escola, levam os livros escolhidos para casa e depois escrevem suas impressões em um caderno de registro.

Segundo a diretora, Maria Leodenice Alves, os livros são instrumentos poderosos para a promoção da cidadania. “Mesmo com todo o aparato tecnológico, o livro sempre terá seu espaço. No período de alfabetização, por exemplo, são imprescindíveis às crianças”, finaliza.

Projeto Bibliotecas Casa do Saber

Criado em 2007, tem beneficiado as escolas da rede pública de ensino e outras instituições, como o Centro de Detenção Provisória (CDP), do Complexo Penitenciário da Papuda.

Para o diretor operacional da rede Gasol, Antônio José Matias de Sousa, a iniciativa é importante, pois, à medida em que valoriza a leitura, possibilita a ampliação do conhecimento. “Inauguramos a 78ª biblioteca, no Café Sem Troco. É gratificante ver como a leitura é um instrumento de transformação. No presídio feminino, por exemplo, o comportamento das internas foi modificado por meio da leitura.”

Ascom - Secretaria de Educação

Livros a serviço da paz



Por Lis Horta Moriconi, para o Comunidade Segura

Uma iniciativa de política penal e – de modo surpreendente e muito mais ambicioso – uma alternativa ao encarceramento. É isso que pretende o programa “Changing lives through literature” (“Mudando vidas através da literatura”, em tradução livre), que começou de forma modesta em 1991 e cuja expansão, do estado de Massachusetts para sete outros estados dos EUA, tem chamado atenção de toda a imprensa norte-americana.

Através do Changing Lives, juízes podem sentenciar criminosos a assistirem aulas de literatura, como uma alternativa à prisão. Um estudo feito por uma organização da área de Justiça Criminal concluiu que, após o período de um ano, o programa reduziu significativamente a taxa de reincidência criminal para 18% – abaixo da média nacional norte-americana de 45%.

“Como professor de literatura, acredito profundamente no poder que ela tem. Se as pessoas prestassem mais atenção à leitura, à profunda concentração e à boa literatura, muitos dos grandes problemas de política pública estariam, se não resolvidos, pelo menos em parte solucionados. As pessoas nunca pensaram de fato na literatura. O que me faz procurar sempre oportunidades para mostrá-las isso”, diz o professor Robert Waxler (o primeiro à esquerda na foto), da Universidade de Massachusetts, que criou o Changing Lives no início da década de 1990.

A inspiração de Waxler para o programa surgiu de conversas com um amigo juiz, Robert Kane, que sempre se mostrou preocupado com uma espécie de ‘porta giratória’ na justiça – o entra e sai das prisões causado pelas altas taxas de reincidência.

Juntos, Waxler e Kane criaram um modelo simples, no qual detentos têm a oportunidade de participar de um curso de literatura em caráter de experiência, em vez de serem encarcerados. As aulas são dadas para grupos de no mínimo oito pessoas, em uma universidade local ou um colégio da comunidade, com a participação de um juiz, de um oficial da condicional e um facilitador – geralmente professores universitários.

Waxler aproveita para explicar que quase sempre os professores são preferidos, em vez dos facilitadores, não necessariamente por sua experiência, mas por seus contatos com as universidades, o que os ajuda a garantir um local no campus universitário onde possam acontecer as aulas.

Fora das ruas

Segundo Waxler, foi realizado um estudo longitudinal por pesquisadores de Justiça Criminal em que foi feito o acompanhamento de 32 pessoas que participam do Changing Lives e outras 32 com antecedentes similares, um ano após terem cumprido as penas e sido soltos.

O professor conta que a taxa de reincidência daqueles que não passaram pelo programa, de acordo com o estudo, foi de 42%, quase a média do país. Já os detentos familiarizados com a literatura através da iniciativa apresentaram um índice muito menor, de 18%. O professor ressalta que o programa faz sentido financeiramente, uma vez que custa muito pouco se comparado ao encarceramento. “Em Massachusetts, por exemplo, o programa custa aos cofres públicos US$ 500 por detento, enquanto o custo de se manter uma pessoa na prisão por um ano chega a US$ 30 mil,” afirma.

No entanto, o programa já sentiu o impacto da pressão para cortar custos. Jean Trounstine (foto), coordenadora do Changing Lives e cofundadora da versão para mulheres, afirma que o programa perdeu o apoio na atual administração. “Nós passamos por um período bastante difícil nos dois últimos anos porque a atual legislatura não nos apoia. No auge do programa, tínhamos 12 turmas em Massachusetts e conseguíamos pagar as pessoas”, lamenta.

O programa contrata facilitadores mas não paga os juízes nem os oficiais da condicional e, atualmente, segundo Jean, muitos facilitadores estão fazendo trabalho voluntário. Ela espera implementar entre seis e oito programas em Massachusetts em 2011.

O programa de Massachusetts é realizado dentro do campus universitário mas, segundo Jean, já existem outras versões. Em alguns casos, as reuniões são realizadas dentro das celas, as aulas já foram oferecidas a jovens em regime fechado, em centros de reabilitação para dependentes de drogas e em escolas alternativas para jovens em risco. Atualmente, o programa é aplicado em sete outros estados norte-americanos e no Reino Unido.

Na versão para mulheres, elas podem ter a pena diminuída se participarem do programa ou utilizá-lo em terapia de gerenciamento da raiva. A adesão é voluntária, o que significa que a participação depende da vontade do detento ou da detenta. “Uma vez comprometido, o participante tem que ir até o fim ou perderá os privilégios, voltando ao banco dos réus ou à prisão”, explica Jean.

O público-alvo do Changing Lives são os detentos que cometeram crimes graves, conforme explica Waxler. “De outro modo, não poderíamos testar a eficácia do programa”. Na versão para mulheres, ao contrário da masculina, não são incluídas presas que cometeram homicídio ou crimes sexuais, mas é comum a presença de mulheres condenadas por roubo, assalto, violência doméstica e tráfico de drogas. “Nós buscamos pessoas que não são réus primários e que têm uma história de reincidência no crime”, afirma Jean.

Mas o que faz com que o Changing Lives funcione? Para Waxler, parece que ele tem algum poder e que o fato de as reuniões serem realizadas dentro da universidade ou na biblioteca, tem importância, pois tira os presos das ruas. “E rua, para eles, significa crime”.

“Um conclusão a que chegamos é que grande parte da eficácia do programa se deve ao fato de a literatura afastar os detentos da sua vizinhança, literal e metaforicamente. Ler e discutir boas histórias pode ser uma atividade bastante empolgante e, mais que isso, pode mostrar a eles que são capazes de pensar. Esse é o maior desafio”, conclui Waxler.

De acordo com o professor, muitos dos que aderem ao programa só têm o Ensino Fundamental. Ele conta o caso de um dos participantes condenado por tráfico de drogas que, após frequentar algumas sessões, disse que as discussões eram tão emocionantes quanto a vida nas ruas.

Leitura profunda

A filosofia de ler e discutir afasta o Changing Lives do mundo da terapia. Para Waxler, quando lê um bom livro, o leitor se projeta em um personagem e o segue, revivendo a sua própria história e repensando-a. Ele ressalta que a discussão é tão improtante quanto a leitura em si, porque cada um tem um ponto de vista sobre o texto. “O resultado é que o leitor se conecta com outras pessoas e percebe que não está sozinho e que o diálogo ajuda a juntar as pessoas”, explica.

Ele resume a abordagem do Changing Lives à literatura como sendo uma leitura profunda. “Esse é um termo usado por muitos críticos literários. Para mim, sugere que as pessoas se tornam mais engajadas e com maior foco na história”, explica.

O processo começa com a leitura de uma história, momento em que as pessoas fazem uma correlação entre o texto e a sua história de vida. Depois, elas refletem sobre o texto lido e sobre a sua própria história. No fim, são realizadas discussões que aprofundam as impressões e permitem uma autorreflexão.

Os livros são escolhidos de acordo com as questões que os detentos estão lidando no momento, temas como identidade masculina, violência doméstica e outros. Os livros utilizados no grupo feminino são sempre escritos por mulheres, como romances e crônicas cujos personagens são mulheres que enfrentam dilemas de relacionamento, dinheiro ou violência. “Temas com os quais elas possam se relacionar de alguma forma”, explica Jean Trounstine.

Jean ressalta as dificuldades enfrentadas pelas mulheres que querem participar do programa. “As mulheres são um grupo muito mais vulnerável e que recebe muito pouco apoio dos seus companheiros. Os homens não se sentem confortáveis com a possibilidade de as mulheres estarem aprendendo mais do que eles”, afirma Jean.

Ela gosta sempre de repetir o que um juiz que participou durante muito tempo do programa contou: “Você não acreditaria na quantidade de pessoas que encontro nas ruas e que me dizem ‘eu continuo lendo’”.

Publicado em 26/08/2010

Do que depende a sobrevivência da leitura?

Lucio Carvalho

O término da 21ª Bienal do Livro de São Paulo mais uma vez colocou em evidência um espectro que ronda o mercado editorial e o universo de leitores já há alguns anos: o fantasma do livro digital. É bom lembrar, antes de mais nada, que um fantasma não é essencialmente uma entidade maléfica, assim como não o é, em essência, o livro digital, ou e-book. Mas algumas leituras muito apressadas e propagandas mais apressadas ainda tem causado reações precipitadíssimas, para o bem ou para o mal mas, sobretudo, por uma compreensão parcial de tudo o que envolve o livro digital, o próprio livro, a leitura e até mesmo a educação como ela é, pois ainda trata-se da principal fonte de formação de novos leitores.

Muitas pessoas tem confundido o conceito de livro digital com os aparelhos leitores, ou e-readers. Ao contrário do livro convencional, vendido em exemplares únicos, o livro digital tem outra forma de distribuição. Depois de adquirido, poderá ser lido nos aparelhos leitores, equipamentos portáteis capazes de reproduzir o conteúdo escrito, seja qual for o seu gênero, em telas com tecnologias diversas e alguns outros recursos como conexão remota a redes, internet, entre outros. Portanto o livro digital não é um livro, é meramente um conjunto digital de dados decodificado e exibido em um equipamento. No plano comercial, os aparelhos leitores não estão atrelados a editoras, mas a empresas de tecnologia que podem arbitrar formatos tecnológicos específicos e proprietários impedindo, inclusive, que um determinado conteúdo possa ser lido em qualquer outro dispositivo que não aquele através do qual foi comercializado. Diferentemente dos volumes impressos, cujo suporte é único, os livros digitais trazem à seara da informação escrita um fantasma ainda muito pouco conhecido no meio editorial, mas que tem poderes muito significativos. O fantasma atende por DRM, ou digital rights management, e já revela-se mesmo que disfarçadamente em muitos destes equipamentos, principalmente nos mais vendidos entre eles: o Kindle, da Amazon e o iPAD, da Apple.

DRM e o futuro dos direitos autorais

De acordo com a Free Software Foundation, o DRM seria mais apropriadamente denominado por digital restrictions management, uma vez que sua funcionalidade está muito mais para a gestão das restrições de uso do conteúdo digital do lado do usuário que do fabricante. Tratam-se de parâmetros inseridos nos conteúdos digitais com capacidade para coletar dados do uso bem como determinar padrões de durabilidade, acesso a cópias e intercâmbio de formatos. Desenvolvido inicialmente por demanda dos fabricantes e distribuidores de música, é um tipo de tecnologia utilizada na transferência de vários tipos de conteúdo digital, inclusive na transmissão televisiva em formato digital.

Ao passo em que muitos avanços e iniciativas tem ocorrido em função de ampliar e não restringir os direitos do lado dos consumidores e a sociedade procurado garantir o acesso universal à informaçao principalmente em ambientes educacionais, o mercado editorial tem se movido fundamentalmente em torno das iniciativas que podem lhe garantir a sobrevivência e sustentabilidade. A discussão recente em torno da reforma da Lei de Direitos Autorais e os interesses que aí tem se debatido comprovam que muitos rounds serão travados no sentido de deitar à lona as possibilidades concretas de um avanço num curto espaço de tempo. Como o movimento de livre distribuição e licenciamento não deixa de crescer, é de esperar que o mercado venha obrigatoriamente a reconfigurar-se em função do novo habitus de acesso à informação, e não vice-versa. A novíssima sociedade da informação, que acostumou-se a ver na informação e em sua circulação um mercado a ser explorado, tem necessitado redimensionar-se constantemente, sob pena de inadequar-se aos novos meios de troca e acesso que são criados de forma incessante.

Consumidores no lugar de leitores

Criadas como peças fundamentais na geografia urbana das cidades desde antes da idade moderna, as bibliotecas públicas encarnam desde então um espírito democrático como poucos espaços públicos tem conseguido. Seja pelo acesso franqueado como por suas características elementares, como o empréstimo domiciliar, seria muito ingenuidade imaginar que as corporações empenhadas na criação de aparelhos leitores de livros guardam esse tipo de preocupação ou, acaso, seria imaginável que a Amazon ou o iTunes venham a emprestar gratuitamente seus conteúdos digitais?

Por isso, a grande diferença entre os serviços de bibliotecas públicas e o negócio dos conteúdos digitais está em que a perspectiva lucrativa aqui se instala em definitivo entre editores e leitores. Mesmo as iniciativas de implantação de grandes bibliotecas digitais, patrocinadas muitas vezes por gigantes tecnológicos como HP ou a Google, não visam alterar em praticamente nada as relações de acesso ao conteúdo da informação. Sua revolução está nos meios e na sempre presente perspectiva de oferta de serviços comerciais agregados. Assim, tais iniciativas assentam-se sobre obras em domínio público ou criadas já dentro do espírito de livre reprodução, como as obras licenciadas através da Creative Commons. Para novas edições e conteúdos presentes e futuros não há um projeto descrito ou tão benevolente a ponto de imaginar-se que a intenção edificante destas corporações visa exclusivamente a universalização do acesso à informação.

Iniciativa pioneira e que se mantem há 40 anos de forma voluntária, o Projeto Gutenberg é o exemplo vivo de que iniciativas não comerciais emperram em limites de expansão por falta de investimento. Contando com donativos e sem o apoio de grandes bibliotecas ou de seus consórcios, mesmo assim guarda a semente de um plano ousado: reinventar em formatos não-proprietários o sonho de uma fonte livre de consulta e leitura. Mesmo iniciativas que contam com o apoio do governo no caso brasileiro, e destinado a pesquisa de ponta, como a produção científica da pós-graduação patinam ainda em dificuldades técnicas para levar a idéia de uma Biblioteca Digital de Teses a ser popularizada entre instituições menores, como faculdades do interior do Brasil.

Em 2003, o jornalista Élio Gaspari já advertia ironicamente que o único banco que não dá certo no Brasil é o banco de teses. Passados sete anos, nem o MEC nem a CAPES forneceram sequer uma explicação remota acerca das razões pelas quais o projeto mantem-se sem acesso a conteúdo integral e é realizado em separado a outras iniciativas particulares de divulgação científica. Talvez sejam razões semelhantes as que levam a Google manter indefinidamente em versão beta seu projeto Schoolar. O que pode estar custando a ser percebido é a necessidade de democratizar as fontes antes de fomentar-se o acesso e de o meio acadêmico comprometer-se a dar o exemplo abrindo mão de direitos comerciais e a sociedade, por sua vez, desconsiderar propostas que visam o monopólio ou uso terciário da informação, oferecida como subproduto de iniciativas essencialmente comerciais.

Um desenho universal para os e-readers

Reclamado principalmente pelas pessoas com deficiência visual, que vêem os livros em braille sendo progressivamente relegados à edições especiais e a perspectiva de que novos recursos tecnológicos venham a possibilitar seu acesso a conteúdos de outra maneira indisponíveis, os recursos de acessibilidade dos e-readers são duramente criticados por esta parcela da população. No Brasil, iniciativas como o MOLLA – Movimento pelo Livro e Leitura Acessíveis no Brasil , são pertinazes na denúncia de práticas editoriais discriminatórias e realizam um trabalho que procura garantir que o acesso à informação, como um direito universal, seja efetivado através de compromissos sociais que atendam às especificidades humanas como um todo, como recomenda o conceito de desenho universal. Nessa perspectiva, tem chamado atenção quanto a algumas dificuldades de uso dos e-readers, como a inacessibilidade das telas de toque (touchscreen) e incapacidade de conversão texto-áudio, fatores limitantes do acesso por pessoas com deficiência visual ou mobilidade reduzida.

Umberto Eco e a obsessão terminativa

O semiólogo e escritor italiano Umberto Eco lançou no começo deste ano o livro-entrevista “Não contem com o fim do livro” no qual discute algumas questões como a segurança de dados dos conteúdos digitais, a fidedignidade e a história da humanidade e seus registros. Em dado momento da entrevista, Eco comenta que não entende as razões pelas quais iniciou-se o que ele chamou de “obsessão” pelo fim do livro. Para ele os livros continurão a existir porque não trata-se de uma experiência, mas de um produto com uma credibilidade de 500 anos, ao passo em que os recursos tecnológicos tem sido substituidos pelo menos a cada cinco anos. No seu caso, diz que não trocaria sua biblioteca por outra digital pela simples razão de que nada o asseguraria de que as informações estivessem disponíveis a qualquer momento e a salvo de bugs. Uma leitura sem risco de bugs ou perdas maiores para Eco continua a ser um privilégio exclusivo dos impressos.

Do hipertexto à hipoleitura

É possível que estas palavras, cada uma delas, jamais sejam gravadas na celulose do papel, matéria-prima dos impressos de um modo geral, sejam livros, revistas ou jornais. A bem da verdade, nem uma prova em rascunho para revisão será impressa numa simples impressora doméstica. Seu único registro estará no meio digital, no código binário e na memória de quem, ao lê-las, decida por utilizá-las em algum tipo de raciocínio que possa somar ou contestar alguma informação previamente assimilada. O registro da informação é uma necessidade que a capacidade de atenção e memória humana exigem. A medida em que evoluiu, a humanidade foi criando mecanismos acessórios para estes fins. Dicionários, enciclopédias e outras formas sistematizadas de informação que hoje convergem, aparentemente de forma inexorável, para os recursos digitais.

A internet é formada essencialmente por recursos digitais interconectados e multiplicados em uma desrazão. Muitas das pessoas que afirmam tratar-se de bilhões de páginas não erram, mas não acertam jamais em saber o quanto de informação repetida ou informação incompleta é armazenada e acessada permanentemente. Por muito tempo soube-se que a Bíblia e o Manifesto Comunista foram os livros mais impressos do mundo. Hoje sabe-se que muitas páginas da internet superam este número em n vezes. Por muito tempo soube-se que quem lia o Novo Testamento ou o Manifesto Comunista teriam conhecido a vida de Cristo ou as idéias centrais do comunismo. Hoje é impossível saber o que todas as pessoas que acessaram determinada página da internet, como por exemplo a página de pesquisa do Google, foram até lá buscando, o que leram e o que conheceram efetivamente a partir daí. A distinção fundamental entre os exemplos supra são os suportes de inscrição. No primeiro, o texto e a estrutura convencional, circunscrita. No outro, o hipertexto e a estrutura aberta, diametral.

Seria um tipo de limite absurdo imaginar um novo recurso tecnológico capaz de fazer o processamento e exibição de um texto e ao mesmo tempo compartilhar uma conexão com a internet que não contasse com esse tipo de recurso e que não tivesse por base alguma forma derivada de hipertexto. Quando pensa-se em dispositivos capazes de ler o livro digital somente um purismo radical pensaria num dispositivo que imitasse o livro em papel. Já houve quem sugerisse que os e-readers devessem inclusive emitir o odor produzido pelos ácaros, para preservar-se a leitura como se tratassem de brochuras antigas. São devaneios curiosos mas que não interessam ao principal, que é sobrevivência da leitura, apesar das tecnologias.

Antes que o livro mudasse, a própria leitura mudou. Em uma época marcada pelo exagero do uso da imagem, a palavra está em decadência e o discurso fragmentado e cada vez mais dissociativo. Mesmo assim, o desafio da leitura continua a ser como uma busca por consistência no acesso aos bens culturais. Maiores ainda são as dificuldades de concretizar uma leitura on-line porque há sempre uma forma de que anúncios publicitários resolvam sacudir as telas de leitura e inúmeras portas de saída convocando a atenção do incauto leitor. As pessoas que estão atualmente preocupadas em saber qual tecnologia vai consolidar-se em lugar do livro nos próximos cinco anos poderiam parar de pensar um pouco em aparelhos e pensar mais em como a leitura e seu acesso poderão ser garantidos e ampliados a todas as pessoas porque, do contrário, não haverá evolução a encontrar neste processo, mas uma ainda maior elitização do que a já existente.

Publicado em 26/08/2010

Fonte: Inclusive

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Projeto Leitura Nota 10

O Projeto Leitura Nota 10 inicialmente foi idealizado pela autora infantojuvenil Patrícia Barboza e desde 2007 realiza palestras em escolas do Rio de Janeiro, de ensino público e particular, incentivando a leitura. Visando uma melhor qualidade na elaboração dos livros, a autora realizou cursos de especialização em Literatura Infantojuvenil e Produção Editorial.


O Projeto agora recebe a realização da Editora Carrossel, com o apoio da Editora Ciranda Cultural.

A Feira do Livro na Escola, de iniciativa da Editora Carrossel, tem como objetivo incentivar a leitura, levando o livro ao aluno para que este possa ter um contato mais próximo com ele e adquiri-lo a um preço mais acessível.


A Editora Carrossel coloca ao seu dispor a sua longa experiência na distribuição de livros para crianças e jovens, tornando esse evento um sucesso junto de toda a comunidade escolar.

As sessões com os autores e o trabalho com os alunos sobre as sua obras – que naturalmente antecede a sessão – revelam-se muito importantes no fortalecimento do interesse das crianças e jovens pelo livro e pela leitura, bem como no sucesso das próprias Feiras do Livro. Assim, sempre que possível, aconselhamos que a Feira do Livro seja realizada simultâneamente com a visita de um(a) autor(a).


Conheça o vídeo institucional da Editora Carrossel:


Projeto Ler para Crer

 Parabenizo a iniciativa Professora Doutora Lídia Eugenia Cavalcante e aos alunos do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará.

Desejamos muita prosperidade ao Projeto Ler para Crer.
A marca visual do Ler Para Crer foi inspirada na história de “Dom Quixote”. E não poderia haver história melhor para ilustrar esse projeto que visa, acima de tudo, formar bons leitores. Afinal, Dom Quixote é um grande leitor que traz para a realidade os personagens da sua imaginação.

O Projeto Ler Para Crer surgiu com o objetivo de levar aos municípios cearenses a semente da leitura em forma de biblioteca. No ano de 2009 foram premiados três municípios cearenses para participar do Projeto: Aquiraz, Itaitinga e Redenção. Os municípios receberam dos professores da UFC dois dias de oficinas preparatórias para a implantação do Projeto. Após esse momento, surgiram as movimentações das comunidades para a criação das bibliotecas comunitárias como procura por espaço, doação de livros, participação de voluntários, dentre outros. A partir daí aos poucos a comunidade cria mecanismos para movimentar a biblioteca.

Aquiraz - Profª Lídia com bolsistas trabalhando no acervo
da Biblioteca da comunidade de Patacas
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O que é o Projeto:
Universidade Federal do Ceará / Departamento de Ciências da Informação
A/C Profª Dra. Lídia Eugênia Cavalcante - E-mail: lidia@ufc.br  - Fone: (85) 3366-7696 - Endereço e FAX: Av. da Universidade, 2853 - Benfica, CEP 60020-180, Fortaleza-Ceará-Brasil
http://projetolerparacrer.blogspot.com/

Aquiraz - Chegada do Projeto

Descrição Sumária:
O Projeto Ler para Crer - oficinas itinerantes para a implantação de bibliotecas investe na formação de mediadores de leitura da região e também na implantação de novas bibliotecas comunitárias em municípios cearenses.

Data/Início: 02/01/2009

Descrição:
O Projeto Ler para Crer - oficinas itinerantes para a implantação de bibliotecas desenvolve metodologias para a gestão participativa e formação de mediadores de leitura, mediante a implantação de bibliotecas comunitárias em municípios cearenses. Acontece atualmente em três municípios: Aquiraz, Redenção e Itaitinga. É um projeto do Departamento de Ciências da Informação, da Universidade Federal do Ceará, aprovado pelo Edital ProExt Cultura 2008 e conta com a participação de seis professores e uma equipe de aproximadamente 25 estudantes, entre bolsistas e voluntários.

Estudantes de Biblioteconomia da UFC e voluntárias

Justificativa:
Sabe-se que nos últimos anos muitas foram as iniciativas populares de criação de bibliotecas comunitárias no Brasil. Empiricamente ações individuais e coletivas vão se constituindo, visando o enfrentamento das dificuldades surgidas no cotidiano pela falta de acesso à informação e à leitura. De certa forma, é no compartilhamento das dificuldades enfrentadas que os moradores se unem para potencializar recurso, cultura, talento, criatividade e força política para o empoderamento comunitário. A criação de bibliotecas comunitárias é, portanto, movimento colaborativo de partilha e convivência entre seres plurais, de rica competência cultural e humana, para o combate à exclusão informacional. Mediante a constituição de acervos, com a face de cada um e o reconhecimento de que a leitura de livros, histórias, imagens, textos, sons e movimentos é capaz de transformar o cotidiano e a vida daqueles que vivem em comunidade, pode-se desenvolver mecanismos de combate às desigualdades sociais a partir da articulação local. Neste contexto, a presença da universidade, em suas vertentes técnicas, socioculturais e pedagógicas, pode contribuir no que tange ao desenvolvimento de metodologias para o aprimoramento das ações, principalmente com relação à elaboração e implementação de projetos a médio e a longo prazo. Em consonância com essas motivações comunitárias, surge o Projeto Ler para Crer, desenvolvido por professores e estudantes da UFC, com o intuito de fortalecer as iniciativas das comunidades, mediante competências metodológicas e técnicas acadêmicas e do potencial existente em cada localidade.

Objetivos:
- Desenvolver metodologias para a implantação de bibliotecas comunitárias, mediante movimento colaborativo e de gestão participativa dos indivíduos em suas comunidades, universidade e poder público municipal;
- Dar subsídio para a formação profissional dos estudantes do curso de Biblioteconomia, de modo a fortalecer o papel sociocultural do futuro bibliotecário junto à sociedade, ampliado as relações entre ensino, pesquisa e extensão;
- Capacitar os moradores de cada município atendido para tornarem-se mediadores de leitura, compreendendo o papel que a biblioteca comunitária deve exercer em relação à democratização do conhecimento e a formação cidadã do indivíduo e do grupo no qual está inserido.

Parte do acervo reunido nas bibliotecas após
trabalho de restauração e catalogação

Estratégias:
Todo o trabalho desenvolvido no projeto parte de metodologias geradoras de processo dinâmico para a realização das ações, mediante competências que vão se constituindo de modo reflexivo, articulado, político e técnico para o desenvolvimento local e em âmbito sociocultural. Em cada município, realizou-se seminário para sensibilização e explicação da metodologia do projeto, de três dias cada, com as comunidades e apoio das prefeituras locais. Após a realização dos encontros, democraticamente as comunidades se manifestavam sobre o interesse em implantar bibliotecas em suas localidades, discutindo possibilidade de espaços, formação dos acervos, reuniões entre os moradores e constituição de grupos de trabalho. A organização do acervo e a realização de atividades nas comunidades, para a efetiva implantação das bibliotecas, ocorreram por meio de mutirões. Semanalmente, agenda-se uma visita da equipe da Universidade Federal do Ceará, constituída por docentes e alunos do Curso de Biblioteconomia, com aproximadamente 15 pessoas, para cada uma das bibliotecas. Ao final de cada dia, contabilizara-se aproximadamente 300 livros prontos para o empréstimo e a formação dos colaboradores da biblioteca.

Parte do acervo reunido nas bibliotecas após
trabalho de restauração e catalogação

Público Alvo:
O Projeto é destinado a todos os moradores das comunidades onde encontra-se inserido, no caso, moradores dos municípios de Aquiraz, Itaitinga e Redenção no Estado do Ceará.

Beneficiados:1.500 pessoas.

Realizadores:
- Departamento de Ciências da Informação / Universidade Federal do Ceará.
- Moradores das comunidades atendidas.

Patrocinadores:
- ProExt - Edital 2008
- Pró-Reitoria de Extensão - Universidade Federal do Ceará
- Secretaria de Educação de Aquiraz - CE
- Secretaria de Cultura de Itaitinga - CE
- Secretaria de Cultura de Redenção - CE
- Parceiros Secretaria de Cultura do Estado do Ceará.

Fonte: Projeto Ler para Crer

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Livros que puxam outras histórias

Cristiane Rogerio

Ler um livro é mesmo como puxar um novelo de lã. Mas eu penso mais como um novelo de lã que está amarrado a outro novelo, de outra cor, que por sua vez está enganchado em outro, e em outro, até ir nesse embalo para sempre.

Uma história puxa outra. A gente lê uma frase e lembra de outra em outro livro. Ou lembra de um livro do mesmo escritor ou ilustrador. E corre para a estante, doido de vontade de rir de novo ou emocionar-se com a releitura. É como ouvir uma boa música no rádio: você é pego pela memória que transporta você a outro momento da vida, ótimo para mergulhar na lembrança. Acontece comigo o tempo todo. E isso só é possível por termos referências. E as referências só ocorrem quando temos oportunidades.

Tive esta reflexão lendo o A Cicatriz, o novo livro do escritor Ilan Brenman, ilustrado pela Ionit Zilberman e lançado pela Companhia das Letrinhas. Ilan conta a história de uma menina que levou um tombo, preciso ir ao hospital levar pontos e, claro, ganhou uma bela de uma cicatriz. Poderia ser apenas um relato de cotidiano, mas por meio da cicatriz a menina descobre que outras pessoas que ela conhece também carregam cicatrizes e, que – lembrem-se todos! – cicatrizes são o quê??? HISTÓRIAS!

A gente tem por cultura dar peso às palavras. Minha mãe, por exemplo, não me deixava pronunciar nem a palavra “maldita”, nem a “inveja”. Cicatriz é uma destas que têm um peso pelo significado que nos carrega, nos transmite. A filha de um amigo meu ao invés de dizer “cicatriz” dizia “cicatriste”! A palavra vem da dor. Mas a dor traz também a história, a maturidade, a experiência. O mais bonito desse livro é ver a menina indo atrás das histórias das cicatrizes das pessoas e dar valor a isso. Porque uma história puxa outra, que puxa sentimento, puxa referência, opinião, conversa. É para isso que livro está entre nós. Para ficarmos juntos, o mundo todo, por suas histórias.

Cristiane Rogerio é editora de Educação e Cultura da Crescer e adora se perder entre os livros.

Livro é coisa de amigo, sim!

Personagens e histórias que falam sobre amizade e estimular a troca de livros entre as crianças: que jeito gostoso de homenagear o bom de ter um amigo


Cristiane Rogerio

Hoje, 20 de julho, é dia de amigo e, quando fui pensar em escrever a coluna só pude lembrar de histórias que nos relembram do gostoso que é ter amigos. O primeiro livro que me veio à mente foi Pedro e Tina (Ed. Brinque-Book), do australiano Stephen Michael King. Na história, duas crianças bem diferentes se unem pela amizade para “ensinar” um e outro como é possível vivermos de um jeito diferente.

Mas são tantas histórias! Bem, não poderia deixar de lembrar de O Menino Maluquinho (Ed. Melhoramentos), em que Ziraldo põe lá para nós uma turma de amigos inesquecível, que a gente nunca cansa de ler e esperar novas aventuras. Há também aqueles em que a amizade não nasce assim tão fácil, como em Eles que Não se Amavam (Ed. Nova Fronteira), texto de Celso Sisto e ilustrações de André Neves. Nesta emocionante história, Alberto e Bernardo são dois meninos que simplesmente se odiavam. Tudo que um gostava, o outro desgostava. A situação era tão feia que a turma toda tinha que se dividir: ou ficava amigo de um, ou de outro. E a raiva foi crescendo, crescendo, crescendo até que tudo foi destruído. E, diante desse extremo – só depois de tudo acontecido – eles decidem fazer as pazes. O livro, claro, põe em questionamento: poderiam ter resolvido tudo antes? E, pela metáfora do exagero, já nos dá um toque sutil sobre até onde devemos levar as nossas discussões ou desavenças.

Eu adoro um bem recente que se chama Matias Quer um Amigo (Larousse Júnior) e tem texto e ilustrações da pernambucana Elma. Ela conta a história de uma toupeira que sai pela floresta na certeza de encontrar um ‘verdadeiro amigo’. Vai perguntando de bicho em bicho e, nas andanças, descobre o valor da amizade.

Enfim, são somente inspirações. Mesmo porque, amigo é coisa de a gente homenagear todos os dias. E compartilhar leituras pode ser uma maneira muito criativa e saudável de fazer. Eu aqui adoro contar para todos cada livro incrível que chega ou que eu encontro. Dou de presente, empresto. É minha forma de carinhar. A gente pode também estimular esse hábito nas crianças. Compartilhar livro é compartilhar emoção, uma forma de dizer que ama, que se importa. Feliz dias dos amigos! Sempre.

Cristiane Rogerio é editora de Educação e Cultura da Crescer e adora se perder entre os livros.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Biblioterapia pode ser mais eficaz que antidepressivo

Hélio schwartsman
Articulista da folha

Livros de autoajuda na área médica vendem horrores por uma razão muito simples: eles funcionam.


Num trabalho publicado em 2004 no periódico "Psychological Medicine", Peter den Boer e seus colegas da Universidade de Gronigen, na Holanda, compararam vários estudos que avaliaram a eficácia de livros de autoajuda (biblioterapia) em casos clínicos de ansiedade e depressão.

Concluíram que a biblioterapia é significativamente mais eficaz do que placebos ou inclusão em lista de espera para terapia, e praticamente tão eficaz quanto tratamentos curtos ministrados por um profissional. Ainda mais interessante, ela se mostrou medianamente mais eficaz do que o uso de antidepressivos.

Esses resultados estão em linha com o que foi apurado em outras metanálises feitas principalmente nos anos 90, e também com as conclusões de uma força-tarefa que a Associação Psicológica Americana (APA) montou em fins dos anos 80.

Antes, porém, de trocar seu psiquiatra (R$ 400 a sessão) e seu Prozac (R$ 145 a caixa com 28 cápsulas) por um livro (R$ 19,90 o exemplar de 'Como Curar a Depressão', Ed. Sextante), convém fazer algumas ponderações sobre esses achados.

Parte do efeito positivo da biblioterapia pode ser atribuído a um viés de seleção. Deprimidos que buscam ativamente uma mudança de comportamento -ou seja, aqueles que compram os livros- são melhores candidatos à cura do que os pacientes que sucumbiram à apatia.

Outro problema é que os estudos de eficácia normalmente avaliam obras de boa qualidade, escritas por profissionais gabaritados. Essa, evidentemente, não é a regra num mercado que lança milhares de títulos por ano.

E, como os remédios, livros errados envolvem alguns riscos. Num trabalho publicado em 2008 em 'Professional Psychology', Richard Redding e colegas avaliaram 50 obras de alta vendagem nos EUA relativas a transtornos de ansiedade, depressão e trauma.

Como era de esperar, a qualidade e os problemas variam muito. Há desde aqueles livros que apenas esquecem de avisar que o tratamento pode falhar (50% dos títulos) até os que dão conselhos capazes de provocar efeitos adversos (18%).

A boa notícia é que, prestando atenção a alguns poucos itens, como se o autor é um profissional de saúde mental e se tem títulos acadêmicos, é possível fugir das piores arapucas. Em princípio, essa regra deve valer também para o Brasil.

Ressalvas à parte, a literatura médica de autoajuda é um fenômeno que deveria ser olhado com mais carinho por profissionais e autoridades. Ela tende a funcionar ao menos em alguns casos, permite atingir grandes populações, e apresenta a melhor relação custo-benefício.

Matéria publicada em 31/08/2010

Projeto de leitura abre nova biblioteca

DIADEMA - O sucesso do programa cultural e voltado ao incentivo de leitura tem sido tão expressivo e atraído tantas empresas que mais uma companhia acaba de receber o projeto 'Leitura nas Fábricas'. Os funcionários da empresa Apis Delta terão, a partir desta terça-feira (31), um importante acervo de livros que ficará disponível para os empregados.

Realizado pela Prefeitura de Diadema e o Ministério da Cultura, o projeto também conta com o envolvimento de sindicatos e empresas. A iniciativa tenta incentivar no trabalhador o hábito da leitura, e o Ministério da Cultura já investiu cerca de R$ 200 mil para a realização do projeto.

A prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, cuida da implantação e acompanhamento, como a formação dos agentes de leitura, que são indicados entre os trabalhadores. As indústrias cadastradas foram encaminhadas ao projeto por meio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Os Sindicatos dos Químicos do ABC e Construção Civil também participam da iniciativa. Estarão presentes na abertura da nova biblioteca o prefeito de Diadema, a secretária municipal de Cultura e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sergio Nobre, entidade parceira do programa. A primeira biblioteca foi entregue aos trabalhadores no dia 28 de julho, na fábrica IGP, também no município. Ao todo, dez fábricas já aderiram ao programa nesta primeira etapa.

Kits

Para compor o projeto e organizar a biblioteca, cada entidade recebeu um kit com cerca de 650 livros, que envolvia ainda duas estantes e outros móveis para organizar de maneira a oferecer algum conforto aos usuários dos espaços. Segundo os organizadores, além dos livros e das estantes, o kit envolve também uma mesa, uma cadeira, três puffs, um computador completo e uma impressora. Farão parte deste acervo, exemplares de literatura brasileira, estrangeira, infantil e juvenil, além de DVDs, livros didáticos e enciclopédias, entre outros.

Nesta etapa, dez fábricas aderiram ao projeto. São elas: a Apis Delta, Delga, IGP, Autometal, além da Legas, Grupo Papaiz, Uniforja, e também a TRW, Uniferco e a Metalpart.

Em cada empresa foi implantado um ponto de leitura, onde o trabalhador terá à sua disposição uma "minibiblioteca" em seu local de trabalho.

Expectativa

A expectativa é que nesta fase o programa atenda mais de 20 mil pessoas, entre trabalhadores e familiares, com acesso ao acervo para leitura e empréstimo. As outras fábricas terão seus pontos de leitura inaugurados até o fim do ano. Dezoito funcionários das primeiras dez empresas parceiras passaram por processo de capacitação que começou em 17 de maio no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Os futuros agentes de leitura foram escolhidos com o interesse pessoal para se tornarem orientadores dos pontos de leitura em seus ambientes de trabalho. Nas aulas de capacitação, os agentes receberam orientação sobre a organização do acervo que as fábricas irão receber, de como atender os companheiros que farão uso do espaço e como despertar o interesse pela leitura. Cada empresa indicou datas de instalação, inauguração e horários de funcionamento do ponto de leitura.

Fonte: DCI

História sem fim


Contar histórias, lidas em um livro que vocês amam ou inventadas por você, é uma ótima maneira de passar mais tempo colado no filho. A gente te ajuda a descobrir aquele talento literário que nem você sabia que tinha... até agora

por Amy Debra Feldman / Tradução de Samantha Melo, filha de Sandra e Tião

Uma noite, meu filho, Nathan, de 3 anos e meio, não quis que eu lesse um livro para ele antes de dormir, como era nosso ritual diário. Em vez disso, ele me pediu para lhe contar uma história sobre a mamãe e o papai. Pensei em minha lua-de-mel na Tailândia, então me lembrei de uma foto do meu marido e eu sentados em cima de um elefante e fui atrás dela no meio da bagunça. Nathan agarrou a imagem e a estudou enquanto eu contava a ele sobre a nossa aventura naquele dia, andando através de uma pequena aldeia e parando para o almoço com pratos exóticos, claro. Ele adorou a história e pediu para contá-la de novo e de novo. Cada vez que eu a contava, acrescentava um outro detalhe. Depois de ouvir várias vezes o conto, Nathan começou ele mesmo a aumentá-lo em alguns pontos.

Claro que ler com seu filho é uma experiência maravilhosa e de ligação essencial para o desenvolvimento de suas habilidades de linguagem, mas inventar histórias proporciona uma espécie de magia. "Quando você olha nos olhos de uma criança e usa gestos, inflexões de voz e expressões faciais, isso aprofunda a ligação", diz Martha Hamilton, co-autora de Children Tell Stories: Teaching and Using Storytelling in the Classroom (Crianças contam Histórias: Ensino e Uso de Histórias na Sala de Aula, em tradução livre).

A gente nem se dá conta, mas ouvir você contar (e recontar) uma aventura familiar pode aumentar o vocabulário do seu filho, trabalhar a memória dele e a capacidade de compreender conceitos como começo, meio e fim, habilidades básicas que, mais tarde, ajudam no processo de alfabetização. Além disso, inventar histórias é uma ótima maneira de aumentar a imaginação e as habilidades de linguagem do pequeno e encorajá-lo a criar seus próprios contos. Mesmo que você ache que não leva o menor jeito para ficcionista e seja do tipo que travava diante de um tema de redação tipo “Minhas férias”, acredite: todos os pais podem se tornar contadores de histórias geniais com um pouco de prática. A gente dá uma força.

Transforme seu filho em protagonista

Ele vai adorar ouvir histórias sobre si mesmo. Explique como você escolheu o nome dele ou conte histórias engraçadas sobre quando ele era um bebê. Você também pode inventar um conto de fadas em que seu filho sobe em um pé de feijão, prova o mingau do urso pai ou perde um sapatinho de cristal...

Compartilhe histórias de família

Fale sobre sua própria infância – o seu brinquedo favorito, os erros que você cometeu, e memórias de grandes eventos, como aniversários ou o seu primeiro dia de escola. Além disso, veja fotografias recentes. Ajude a construir as habilidades de memória da criança, descrevendo a visita ao zoológico ou aquela viagem à praia. Depois, peça para que ele reconte a história. Enquanto você ouve, faça perguntas ("o que aconteceu depois?") para incentivá-lo a criar sua própria versão.

Banque o bobo

Uma noite, eu estava cansada da história da aventura do elefante, então inventei outra sobre os personagens de Vila Sésamo. Você pode fazer a mesma coisa com os Backyardigans ou Charlie e Lola, criando rimas, tipo: a Lola bancou a tola quando resolveu plantar uma flor na cartola. Betty Bardige, psicóloga de desenvolvimento e autora de Talk to Me, Baby! How you Can Support your Children´s Language Development (Fale comigo, bebê! Como apoiar o desenvolvimento da linguagem das crianças), diz que o enredo não é fundamental: "Fazer piada com as palavras, para as crianças, é uma das coisas que fazem uma história ser boa. E se todo mundo está rindo é ainda melhor."

"Leia" imagens

Você pode inventar qualquer coisa com as ilustrações de livros que têm pouco ou nenhum texto. Conte histórias e incentive seu filho a criar. “Pergunte o nome dos personagens e peça para ele descrever o que está pensando e sentindo", diz Tanya Turek, autora de um blog sobre livros infantis (books4yourkids.com). Cada vez que você "ler" aquela história, tente inspirar seu filho a deixar a imaginação rolar.

Para gostar de ler

Cada criança tem seu próprio gosto. Seu trabalho é encontrar o gênero que seu filho mais gosta e alimentá-lo. Aí vão algumas dicas para fazer o pequeno ficar viciado nos livros

Até 12 meses

Aconchegar seu bebê enquanto você olha os livros ilustrados o faz associar a leitura a conforto

Desacelere: os pais têm uma tendência a ler muito rapidamente. Pronuncie cada palavra e pause entre cada frase. Isso ajuda a estabelecer um ritmo confortável e dá mais tempo às crianças para absorverem a história, o que irá estimular sua imaginação.

Seja um narrador: ajude seu filho a ligar-se às palavras, nomeando as coisas ao redor da casa e explicando suas ações ("eu estou colocando seus brinquedos dentro da caixa").

Encontre o ritmo: risadas ou aplausos à medida que lê provocam os sentidos do seu bebê. Tente livros com sons.

Interprete: leia de um modo atraente, uma vez que seu filho pode não estar recebendo muito da narrativa.

Repita a história: reler contos favoritos constrói a confiança de um bebê. Além disso, seu filho vai aprender mais a cada vez que você contar a história.

1 a 2 anos

Como seu filho está começando a se locomover sozinho, deixe livros infantis pela casa toda, para que ele possa pegá-los sempre que quiser.

Coloque-o no controle: pegue um livro, segure-o, vire as páginas, feche-o e devolva-o à prateleira. Então, veja se seu filho faz o mesmo.

Mostre seus dons artísticos: use vozes diferentes, faça ruídos de animais. Isso vai deixar seu filho animado com a história.

Faça relação com a rotina dele: quando seu filho for se vestir, leia um livro sobre a roupa.

Pergunte: "Qual roupa o urso vai vestir?" e "Você vai usar camiseta azul hoje também?"

Crie um livro do bebê: use fotos de seu filho e escreva legendas simples e repetitivas ("bebê dorme, bebê come, bebê sorri, bebê cresce e cresce e cresce").

Transforme em diversão: livros com textura e som fazem o maior sucesso. Seu filho provavelmente vai rasgar aquela página linda com pop-up, mas deixe: este é um investimento a longo prazo!

3 a 4 anos

Como a coordenação de seu filho está melhor, ele já pode desenhar e fingir escrever. Isso o ajuda a compreender o complexo processo de leitura.

Aponte as palavras enquanto as lê. Seu filho vai começar a perceber os sons associados a elas.

Questione-o com perguntas que evocam uma resposta pensada. Explique as palavras novas.

Faça um passeio de escuta: visite um parque com muito ruído ou um canto tranquilo da sua vizinhança. Instrua seu filho a avisá-lo quando ouvir um barulho. Então, faça-o imitar o som e tentar escrevê-lo.

Sirva-se: prepare um alimento que se relacione com a história que você está lendo.

Deixe-o rabiscar: dê para seu filho lápis e papel e peça para ele escrever uma história.

Faça bom uso da TV: quando seu filho assistir ao desenho animado preferido, ative as legendas. Isso o fará se conectar com as palavras.

Construa um recanto do livro: um canto com almofadas e bichos de pelúcia fará muito bem.