terça-feira, 3 de agosto de 2010

Livros levam mais longe

Estudo internacional analisa a relação entre leitura e escolaridade em 27 países. O resultado indica: quanto mais livros houver em uma casa, mais anos de escolaridade tenderá a ter a criança que nela crescer.

Por: Larissa Rangel  - Publicado em 20/07/2010

Segundo o estudo mundial, crianças que crescem com 500 ou mais livros
em casa têm em média sete anos de escolaridade a mais do que as criadas
longe das bibliotecas (foto: flickr.com/Ozyman – CC NC-SA 2.0).

Crianças que crescem rodeadas por livros podem ter até três anos a mais de escolaridade, independentemente da formação ou ocupação de seus pais. Esse foi o resultado apontado pelo maior estudo já feito sobre a relação entre os livros no ambiente doméstico e a educação escolar.

O artigo, publicado na revista Research in Social Stratification and Mobility, mostra que pessoas que cresceram em casas com até 500 livros têm 33% a mais de chance de concluir o ensino fundamental e 19% de se graduar numa universidade. Para chegar a esses números, pesquisadores americanos ouviram mais de 70 mil pessoas em países como China, Rússia, França, Portugal, Chile e África do Sul.

Liderados por Mariah Evans, da Universidade de Nevada, eles defendem que o atual modelo de educação busca uma cultura erudita, baseada no estímulo à leitura. “Uma das conclusões mais importantes é que fazer as famílias lerem mais pode trazer recompensas substanciais para a educação mundial”, diz a socióloga à CH On-line.

A partir da pesquisa, eles defendem que políticas de estado sejam desenvolvidas para incentivar a educação.

A proposta é que se meça a quantidade de livros em cada casa de família e, de acordo com o resultado, o governo providencie mais exemplares para onde houver poucos. No trabalho, a socióloga argumenta que tal medida seria eficaz até mesmo para o desenvolvimento educacional e econômico de algumas comunidades rurais.

‘Aproximadamente quantos livros existiam na sua casa quando você
tinha 14 anos?’ A pergunta foi feita às 70 mil pessoas que
participaram da pesquisa (foto: John Martin – CC NC-SA 2.0).

Cada livro conta

Para observar os diferentes hábitos pelo mundo, o estudo ouviu pessoas em 27 países. Naqueles onde as diferenças entre classes sociais e a segregação eram muito fortes, como África do Sul e China, os pesquisadores separaram os dados de acordo com os grupos, analisando separadamente as diferentes camadas de cada sociedade.

“Aproximadamente quantos livros existiam na sua casa quando você tinha 14 anos?” Essa era a pergunta feita a cada entrevistado. Os que cresceram sem nenhum livro por perto atingiram, em média, sete anos de estudo.

Aqueles com mais ou menos 12 livros em casa completaram onze anos de escolaridade – indicando que mesmo uma quantidade pequena de títulos já faz diferença. Já os que vieram de famílias letradas, com cerca de 500 livros nas estantes, registraram uma média de 14 anos de estudo, tempo padrão de um estudante universitário nos Estados Unidos.

O estudo mostrou ainda que, do ponto de vista do impacto sobre a escolaridade dos filhos, a diferença entre uma família sem livros e outra com 500 livros é praticamente a mesma que ocorre entre famílias de pais pouco letrados (com até três anos de estudo) e de pais com diploma universitário.

Ou seja, o bônus de escolaridade de uma criança criada por pais com o terceiro grau completo é o mesmo de outra que cresceu rodeada de livros – cujos pais podem ser mais escolarizados ou não. Apenas 3% daqueles que não cresceram com livros conseguem entrar na universidade, enquanto 13% dos que têm essa cultura em casa atingem o terceiro grau.

Em países marcados por um sistemas de repressão, como China e a África do Sul do apartheid, verificou-se que o costume de leitura era maior. Os autores sugerem uma razão para tal: o livro poderia ser visto como uma alternativa à repressão que os indivíduos sofriam.

Piso para a leitura: pesquisadores defendem que governos ajam
para garantir um mínimo de livros em casas de famílias
(foto: Yoshiyasu Nishikawa – CC BY-NC-ND 2.0).

De geração para geração

Além de proporcionar mais conhecimento, uma grande biblioteca em casa indica que os integrantes da família podem ter ligação mais forte e maior capacidade para discussões intelectuais.

Uma cultura mais formal e erudita, caracterizada pela presença de livros, é capaz também de aumentar o interesse dos filhos pela educação em longo prazo. Sucessivamente, esses filhos levarão esse hábito para suas casas e será formado um ciclo baseado numa cultura letrada.

Os responsáveis pelo estudo garantem que uma vida cheia de livros fornece habilidades essenciais ao desempenho escolar e profissional das crianças: vocabulário, informação, imaginação, familiaridade com a boa escrita e raciocínio lógico.

Quanto aos avanços tecnológicos e ao surgimento de livros virtuais, Mariah Evans responde que o importante é o conteúdo, e não o formato. “Só poderemos saber ao certo quando a geração da internet crescer, mas o importante é facilitar o acesso aos livros”, defende a socióloga.

Fonte: Ciência Hoje Online

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