sexta-feira, 2 de julho de 2010

Acervo portátil

A onda começou lá fora. Os Estados Unidos, maiores consumidores de tecnologia do Ocidente, arriscaram: e se transformássemos um acervo imenso de livros em arquivos pequenos que pudéssemos carregar por aí? Nasceram daí os formatos de eBooks.

À época, por volta de 2004, o mundo ainda não estava preparado para tanto avanço e a ideia adormeceu um pouco. Só um pouco. Hoje, cinco anos depois daqueles momentos iniciais da “biblioteca portátil”, o livro eletrônico volta à baila.

A inovação é apenas mais um desdobramento da constante digitalização dos meios de consumo de cultura. O MP3, o compartilhamento de filmes, a transformação da internet em 2.0... Todos os sinais foram emitidos pela tecnologia da informação para os próximos passos a serem dados e o mais perfeito design [ref. Umberto Eco] foi digitalizado para fazer surgir o eBook. Seguindo o curso do riacho – que apostam os entusiastas, há de virar caudaloso rio –, a digitalização de livros tem atingido bibliotecas seculares, sendo vendida como a solução para enormes volumes. “Os eBooks estão se espalhando de maneira mais rápida e eficiente do que na primeira onda de sua disseminação. Não ficarão restritos somente a consumidores ávidos por novidades eletrônicas. Hoje, eles têm maior poder de penetração”, indica Daniel Pinsky, editor que estudou os livros eletrônicos para seu mestrado.

Agora em abril, a Livraria Cultura passa a vender livros eletrônicos em seu site, cerca de 120 mil títulos na primeira etapa, entre nacionais e importados. “Estamos caminhando com as tendências do mercado digital. Não podemos negar que é um teste. Veremos como vai funcionar, até porque é algo recente, que vai se moldando aos poucos. Queremos aprender com o nosso pioneirismo”, explica o diretor de operações da Cultura, Sergio Herz.

O campo livre para crescimento deste mercado não é só a quantidade de títulos lançados, mas também o serviço mais amplo e acessível. “A gente trabalha com dois formatos: o PDF e o ePub. Este é mais indicado para os leitores de eBook, porque é um formato que se rediagrama com o tamanho da letra, diferente do PDF, que mantém uma diagramação física e isso demanda navegar pela página para a leitura”, esclarece Mauro Widman, coordenador do departamento de eBooks da Livraria Cultura. O formato ePub é, também, o mais recorrente entre os leitores, que já chegam a 30 modelos. “Assim que um desses modelos for fabricado no Brasil, passaremos a vender leitores também”, prevê Herz.

O temor da extinção dos livros físicos com o crescimento dos eBooks, no entanto, perde força quando se pensa no prazer tátil de segurar um volume preferido, que não quebra nem depende da bateria. “O interessante é que teremos no site a correspondência do livro físico e do eBook. Se você vê o livro em eBook, e se existir o mesmo físico, ele oferece a compra do outro como opção”, revela Widman. Os trabalhos para tamanha oferta de títulos vêm se desenrolando desde outubro de 2009, quando os contratos começaram a ser fechados com as editoras nacionais e os primeiros livros foram convertidos. “Algumas editoras já estão mandando os livros pra gente em formato ePub ou no próprio formato PDF, já que podemos proteger os dois contra cópia. Nem copy paste nem impressão”, informa Widman. No lançamento, serão cerca de 500 títulos em português.

E os smartphones? Grande atrativo atual, os celulares turbinados também estão na mira de ofertas da Livraria Cultura. “Por enquanto, os smartphones ainda não têm o programa para apresentar os livros eletrônicos protegidos, mas isso deve ser resolvido em dois ou três meses”, garante Widman. Agora, é escolher o seu leitor, baixar os títulos escolhidos e se deliciar com a leitura.

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