sexta-feira, 30 de abril de 2010

Projeto Baú de Leitura da Unicef

Projeto que conta com o apoio do UNICEF é uma 20 ações que mais contribuíram, em 2009, para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

O Projeto Baú de Leitura é uma das 20 experiências vencedoras da 3ª Edição do Prêmio ODM Brasil, iniciativa do governo federal e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em parceria com empresas do setor privado. Desde 2004, o prêmio reconhece as ações que mais contribuíram para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs). O Movimento de Organização Comunitária (MOC), que realiza o projeto na Bahia, receberá a certificação no próximo dia 24 de março, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, DF.

O projeto foi desenvolvido com o apoio técnico e financeiro do UNICEF no Brasil. A iniciativa foi criada em 1999, na Bahia, com o objetivo de qualificar as atividades complementares à escola oferecidas para estudantes de 6 a 16 anos de idade atendidos pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), nas chamadas Unidades da Jornada Ampliada (UJA). Com os bons resultados alcançados, ultrapassou as fronteiras do Estado: além de ser realizada em 98 municípios da Bahia, também acontece em 43 municípios do sertão sergipano, promovida pelo Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), e em 18 municípios alagoanos, como parte das atividades de um novo Pontão de Cultura, em Palmeira dos Índios, coordenado pelo Movimento pró-Desenvolvimento Comunitário.

A experiência do Baú de Leitura na Bahia foi selecionada entre 1.477 práticas inscritas por organizações da sociedade civil e prefeituras municipais como uma das mais bem-sucedidas experiências de educação integral e contextualizada do Brasil. Na seleção dos projetos vencedores, a comissão julgadora utilizou critérios como contribuição para o alcance dos ODM, impacto no público atendido, participação da comunidade, existência de parcerias, potencial de ser multilplicada e complementaridade e/ou articulação com outras políticas públicas.

O projeto contribui para o desenvolvimento e a capacidade de escrita e de interpretação de textos de crianças que estudam em escolas públicas da zona rural da Bahia, Alagoas e Sergipe. Monitores capacitados desenvolvem atividades com meninas e meninos, utilizando o conteúdo do Baú, que dispõe de material didático, dicionário e dezenas de livros de histórias infanto-juvenis. A ideia é contribuir para que essas crianças melhorem seu desempenho escolar e estimular sua capacidade crítica.

A iniciativa também promove a capacitação continuada de técnicos municipais, professores e educadores sociais, o fortalecimento da gestão da educação e a participação das crianças e adolescentes na comunidade e no município, por meio de sua atuação em conselhos, associações e sindicatos.

Desde seu lançamento, o projeto já garantiu o direito de aprender a mais de 30 mil crianças e adolescentes na Bahia, beneficiando cerca de 1.600 famílias de comunidades rurais.

Atualmente, cerca de 1.200 baús transitam por escolas municipais e espaços alternativos de aprendizagem. São mais de 50 mil livros infanto-juvenis em circulação no Estado.

Um dos fatores de sucesso da iniciativa é o modelo de parcerias estratégicas firmadas com o governo federal (por meio dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social), o governo da Bahia (Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte e Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza), prefeituras municipais, universidades, organizações da sociedade civil e as próprias famílias.

Esta é a segunda vez que o MOC recebe a premiação. A primeira, em 2004, contemplou o Projeto Mãos que Trabalham.

Políticas públicas – Recentemente, o Projeto Baú de Leitura também ganhou status de política pública. Em 2009, alcançou escolas da rede municipal de 47 municípios da Bahia, com muitas prefeituras assumindo parcial ou integralmente as despesas com aquisição de material e capacitação de pessoal.

Em fevereiro, um convênio assinado pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia e o MOC garantiu a ampliação da iniciativa para os 51 municípios do Semiárido baiano que apresentam indicadores sociais mais críticos. O compromisso foi articulado dentro do Comitê Gestor Estadual do Pacto Nacional Um mundo para a criança e o adolescente do Semiárido. É resultado de uma ampla discussão sobre educação no campo, que culminou em dois seminários com a participação de gestores da educação, técnicos municipais, professores de escolas públicas e educadores atuantes em ONGs e/ou projetos sociais.


Mais informações:
Assessoria de Comunicação do UNICEF
Andréia Neri – E-mail: aneri@unicef.org  –
Telefone: (71) 3183 5700
Assessoria de Comunicação do MOC
Lorena Amorim – E-mail: lorena.amorim@moc.org.br  –
Telefone: (75) 3322 4444

Fonte: Unicef

Felipe Massa incentiva leitura para projeto da Unicef


A Campanha de incentivo à leitura de 2008 da Unicef. Achei interessante a peça criada pela DM9DDB, um carro de F1 feito de livros.

Projeto Entre na Roda: leitura na escola e na comunidade

O projeto Entre na Roda difunde o hábito da leitura em instituições educacionais, em seu entorno e em outros espaços educativos, propiciando a convivência em ambiente
letrado para crianças, jovens e adultos. Aprender a ler os mais diferentes gêneros textuais, adquirindo o gosto pela leitura, pode garantir aos estudantes sucesso ao longo de toda a trajetória escolar. Nesse sentido, o projeto Entre na Roda propõe-se a apoiar secretarias municipais ou estaduais de educação para formar orientadores de leitura entre educadores e colaboradores da comunidade.

O que é?
Programa de formação para educadores, técnicos, gestores e voluntários, com oficinas
de capacitação. Fornecimento de material de apoio à formação e acompanhamento,
em duas versões: educação infantil e ensino fundamental. As oficinas contemplam desde a organização das rodas de leitura, do acervo, até o trabalho com diferentes gêneros discursivos. Além da vivência das rodas e de outras atividades de leitura, são promovidos momentos de reflexão e discussão da teoria e da prática.

Quais os objetivos?
- Formar educadores e voluntários da comunidade para desenvolver rodas de leitura;
- Estimular o prazer pela leitura e ampliar capacidades leitoras por meio do trabalho
sistemático com diferentes portadores e gêneros textuais;
- Ampliar o universo cultural de crianças, jovens e adultos;
- Fortalecer a parceria entre unidades educacionais e comunidade, na perspectiva da educação integral; e
- Conhecer e valorizar a cultura local.

Para quem?
Educadores, gestores educacionais, bibliotecários, agentes sociais e voluntários da comunidade que atuem com crianças, jovens e adultos.

Sobre o gosto da leitura na escola

Miriam Mermelstein


A autora enumera alguns pressupostos para a introdução dos alunos no mundo da literatura, como a importância de ter um ambiente cultural no qual o livro esteja presente, de ampliar o repertório do aluno apresentando-o a uma diversidade de gêneros textuais, de ensinar a ler com prazer, de respeitar as escolhas dos jovens diante do universo desvelado pelos livros. Aborda ainda a estreita ligação entre o ler e o escrever, oferecendo sugestões de exercícios para o desbloqueio da escrita criativa.

O professor de literatura e crítico literário, C. F. Moisés, com quem estudo há 10 anos, na apresentação de seu livro “Poesia não é difícil” cita questões muito comuns de serem ouvidas na escola: ‘Como posso gostar de poesia se não a entendo?’ ‘E como entender sem gostar?’ (1)

Ficamos em um círculo vicioso, uma armadilha, afirma o autor, pois como saber se gostamos (ou não) se não a conhecemos? Aí entra o papel do professor educador e mediador da cultura em introduzir novos conteúdos e novas experiências no mundo do aluno.

Mas como? Eis a questão crucial. O objetivo deste texto é enumerar alguns pressupostos e algumas atividades de linguagem como idéias a serem adaptadas por vocês, professores, em seus planos.

Um pressuposto refere-se à significação de um ambiente cultural na formação do leitor. Desde muito pequenos, os alunos podem ‘ler’ textos, entendido o verbo de forma não literal: quando o professor lê para a classe, quando o aluno conta suas vivências na roda, quando o aluno ouve o colega contar ou descrever algo, quando o aluno ouve uma cantiga e sua letra, quando o aluno ‘lê’ ilustrações de um livro, quando ele tem acesso constante aos livros da sala ou da biblioteca, quando sabe que a leitura é uma atividade valorizada pelo professor.

Sabemos das dificuldades de obtenção e veiculação de livros nas escolas. Bibliotecas sem bibliotecários, livros não tombados e, portanto, não passíveis de circulação, mas sabemos também que existem outras formas de contornar essa situação. Saraus, pedidos em editoras, mutirões do livro, de organização das salas de leitura, feiras culturais, intercâmbios entre classes, cartas a autoridades competentes, etc. são alguns dos recursos que a escola deve utilizar para garantir o acesso do aluno ao livro.

Outro pressuposto refere-se ao grau de complexidade dos textos e das atividades com textos. Não devemos poupar os alunos de novos desafios. A função da escola é ensinar novidades, ampliar o repertório do aluno com exposição de maior diversidade de gêneros textuais. A dosagem e as exigências serão planejadas considerando que a formação do leitor é um processo de amadurecimento. Quanto antes começar, mais sentido fará na vida do aluno-leitor.

O livro é um objeto inserido em um contexto. Tem autoria, propósito, um tempo e um espaço delimitado (de criação e de circulação). Saber sobre o autor e sua época, conhecer suas condições de produção ajuda a inferir sobre outros tempos e outros espaços. Um exercício interessante é o de comparar textos literários de uma mesma temática, mesmo local e épocas diferentes, ou textos oriundos de culturas diferentes abordando o mesmo tema. “É a polifonia e a pluralidade contra o monólogo e a palavra autoritária”. (Sonia Kramer) (2) Intertextualidade. Por exemplo, mixar conteúdos da História com textos literários também é um recurso em que ambas as áreas ficam enriquecidas.

Sabemos que a escola tem um plano a cumprir e dentro dele as atividades de linguagem que devem ser realizadas e avaliadas. Ensinar a ler com prazer, a tirar proveito pessoal da leitura esbarra quase sempre na questão do número de alunos na sala para acompanhar e na dificuldade em avaliar objetivamente o aproveitamento, o prazer e a fruição. Mas sem paixão não avançamos. Principalmente quando pisamos na seara da literatura. Ensinar as características estruturais dos gêneros, as combinações lingüísticas possíveis em um texto, a organização das palavras, a comunicação de idéias não devem matar o prazer, não podem impedir que a leitura faça sentido pessoal e íntimo na vida do aluno.

Outro pressuposto é respeitar a escolha do aluno. Imaginem uma pequena cidade em que seus habitantes só conhecem comida brasileira. Vivem tranqüilos sem saber ou sem querer saber o que existe de diferente lá fora. Aí chega um grupo de imigrantes do Oriente trazendo seus costumes, temperos e especiarias. O que pode acontecer?

A – os dois grupos não se comunicarem.

B – os dois grupos trocarem suas especificidades e criarem um terceiro grupo.

C – os dois grupos aceitarem as mútuas contribuições, mas manterem sua identidade.

Esse é um exemplo do que pode acontecer com quem tem contato com o conhecimento. Transformação. Mas não acontece de imediato, nem uniformemente. É um processo e, como tal, é variável. Especificamente na arte, e dentro dela na literatura, esse processo tem finalidade de aumentar a autoconsciência humana. “A literatura é um autêntico e complexo exercício de vida, que se realiza com e na linguagem”. Nelly N. Coelho (3)

As possibilidades combinatórias são muitas e cada um responde de acordo com sua história, seus sentimentos e possibilidades.

Imaginem agora se todas as pessoas da mesma cidade só conhecessem histórias de saci e lobisomem. Chega na cidade o grupo do Oriente trazendo histórias de califas e odaliscas, nunca antes ouvidas.

Respondam: o que pode acontecer?

Essas analogias nos permitem entender o que muda quando o novo penetra em nosso mundo, as dificuldades de aceitação, o acréscimo que pode significar e a mudança que pode provocar.

Existe uma estreita relação entre produção de textos e leitura. Segundo Citelli (5), a escrita constante pode despertar maior interesse pela leitura. O pressuposto subjacente é que durante o percurso da escrita, os alunos tendem a se expressar cada vez melhor com menos clichês e mais identidade.

Nem tudo que nos apresentam ou que conhecemos tem unanimidade. Podemos falar em tendências, cada classe social, cada bairro, cada sala de aula têm características próprias pois vivem histórias de vida similares. Assim, o professor pode dizer: ‘- minha classe gosta de livros de aventuras’, ou ‘minha classe adora gibis’, como um bloco, mas devemos oferecer opções e respeitar as diferenças.

A leitura e a escrita são, portanto, construídas ao longo da vida escolar com respeito à individualidade, incentivo à narração pessoal, desejo de ser lido ou ouvido.

Os passos da escrita criativa:

1 – narrar e escrever tudo e sempre como uma rotina escolar.

2 – encontrar com o professor e colegas um assunto de interesse para escrever.

3 – começar com o que Lucy McCalkins (4) chama de ensaio, uma primeira escrita.

4 – esboço ou desenvolvimento da escrita. “Ponha no papel”, diz o escritor W. Faulkner, “aproveite a chance. Pode ser mau, mas este é o único modo pelo qual você poderá fazer algo realmente bom”.

5 – revisão – ver novamente, ler para os colegas e professor e reescrever em todas as etapas.

6 – edição – fazer o texto excrito circular, mesmo entre os colegas. Quem escreve, escreve para ser lido e, às vezes, a escola engaveta e só corrige os escritos e esquece do seu autor.

Vamos descrever alguns exemplos de exercícios de desbloqueio da escrita criativa:

1 – o professor sugere: “Abri a gaveta e encontrei...”. O aluno continua o texto escrevendo com: palavras que tenham 2 ou 3 sílabas, comecem com p, m ou s, rime, etc.

2 – o professor leva um texto com ausência de pontuação para os alunos lerem e pontuarem.

3 – o professor dá um poema e pede paráfrase com modificações do personagem, do cenário, etc.

4 – imaginar um personagem não humano, descrevê-lo com características humanas.

5 – pensar o que existe no mar e adjacências e escrever um período combinando palavras pelo parentesco sonoro, ex: areia com ceia, alga com algo.

6 – o professor escolhe algumas palavras, ex. – dia – e os alunos devem atribuir um sentido comum e um sentido figura à palavra.

7 – ad-verso: o professor dá dois versos de uma quadra e pede que os alunos emendem com outros dois versos de um outro assunto.

Esses exercícios podem ser trocados, completados em duplas, dramatizados, tec. Nessa etapa ainda não está em pauta o conteúdo, mas o desbloqueio da escrita.

Referências bibliográficas e sugestões de links:

1 – Poesia não é difícil, Moisés, Carlos Felipe ed. Artes e Ofícios 1996
2 – Diálogos com Bakhtin, Castro, Faraco, Tezza (org) cap. 7 Kramer, Sonia ed. UFPR 2001
3 – Literatura: arte, conhecimento e vida, Coelho, Nelly Novaes ed. Peirópolis 2000
4 – A arte de ensinar a escrever, Calkins, Lucy McCormick ed. Artmed 1986
5 – Produção e leitura de textos, v. 7, Citelli, Beatriz ed. Cortez 2001
6 – Trabalhando com poesia, Beraldo, Alda ed. Ática 1990
7 – Oficina de linguagem, Condemarín, M., Galdames, V., Medina, ª ed. Moderna 2002

*Miriam Mermelstein é pedagoga e autora de obras de Literatura Infantil, tendo ministrado as oficinas “A poesia em sala de aula” e “Abraçando a palavra” no CRE Mario Covas, durante o 1º semestre de 2004

sábado, 24 de abril de 2010

Passagens Literárias: biblioteca na Rodoviária de Curitiba

Foto: Luiz Cequinel / FCC

A Prefeitura lançará nesta sexta-feira (23) mais um programa de incentivo à leitura, o Passagens Literárias. Todas as sextas-feiras à noite, passageiros que aguardam embarque na Rodoviária de Curitiba poderão emprestar livros de todos os gêneros, para todas as idades.

A minibiblioteca é uma parceria entre a Prefeitura, por meio da Fundação Cultural e da Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), a Fundação Sidônio Muralha e Ministério da Cultura.

Na sexta-feira passada (16), o prefeito Luciano Ducci lançou o programa Curitiba Lê e inaugurou a primeira Estação da Leitura da cidade, no Terminal Pinheirinho, e mais uma Casa da Leitura.

O programa Passagens Literárias em Curitiba é uma iniciativa inédita no país, por ser a primeira vez que a minibiblioteca percorrerá um terminal rodoviário. "O programa incentiva pessoas de todas as idades e níveis de escolaridade a descobrir mundos novos através da leitura, enquanto esperam no saguão de embarque", diz Rubico Camargo, diretor de Desenvolvimento da Urbs.

A minibiblioteca ficará na sala de espera central de cada bloco da Rodoferroviária. O empréstimo de livros será feito com ajuda de três monitoras todas as sextas-feiras, das 19h às 20h30 no bloco interestadual e das 20h30 às 22h, no bloco estadual.

"O programa Passagens Literárias se inspira ns bibliotecas ambulantes, o diferencial é que o livro chegará ao leitor de forma lúdica, permitindo ao mediador encontrar no leitor uma cumplicidade em relação à poética do texto", explica uma das mediadoras do programa, a professora de arte Priscila Angélica Santos Sehnem.Priscila, também contadora de histórias, participa do programa ao lado do mestre em Filosofia Cláudio Sehnem e de Tatjane Garcia Albach, mestranda em Literatura e produtora cultural.

Como funciona - O Programa Ponto de Cultura - Passagens Literárias foi idealizado em julho de 2008, com o objetivo de aplicar um projeto de literatura com a comunidade local. No terminal rodoviário de Curitiba, a proposta é incentivar a leitura durante o tempo ocioso de passageiros que esperam para embarcar, e também das pessoas que aguardam a chegada de ônibus. Para isso, os monitores irão percorrer os corredores com estantes móveis de livros de todos os gêneros, como crônicas, fábulas, contos, poesias e literatura infantil, entre outros.

Nos saguões dos dois blocos da Rodoviária, os passageiros serão abordados pelas monitoras, que perguntarão aos leitores o tipo de livro que gostaria de emprestar. "O objetivo é criar uma interação entre os passageiros e as mediadoras, para que a escolha do livro seja rápida e, com boa orientação, de acordo com o gosto do leitor", diz Priscilla.

Às sextas-feiras, no primeiro horário, 19h às 20h30, os livros estarão disponíveis no setor interestadual. No segundo, das 20h30 às 22h, no bloco estadual. "No bloco interestadual, onde embarcam passageiros para diversas regiões do país, os livros são mais escolarizados, seletivos e procuram leituras específicas", diz Priscila Sehnem. "Para a ala estadual, escolhemos pequenas crônicas ou contos rápidos, já que os passageiros viajam predominantemente ao Litoral paranaense e região de Ponta Grossa", acrescenta.

Empréstimo - Todos os livros da minibiblioteca da Rodoviária trazem textos curtos. São adquiridos pela Fundação Sidônio Muralha, de Curitiba, e a relação de títulos ofertados é constantemente atualizada.

O passageiro, ao emprestar o livro, irá preencher uma ficha com dados pessoais e contato. Se não conseguir terminar a leitura até o embarque, ficará registrada na ficha do passageiro a página onde a leitura foi interrompida, para que em outra oportunidade o leitor possa retomar o livro da página onde parou de ler.

Fonte: Urbs

No Dia Mundial do Livro, professor mostra devoção à literatura

O professor pernambucano aposentado Rafael de Menezes, de 80 anos, se dedica a levar cultura e conhecimento às pessoas.

Esta sexta é o Dia Mundial do Livro, uma data perfeita pro Jornal Nacional apresentar a você o professor aposentado Rafael Menezes. Ele tem 80 anos e uma vontade imensa de ajudar as pessoas.

O velho ônibus, com jeito de sucata, leva um tesouro feito de papel, tinta e letras. A biblioteca ambulante vai ao encontro dos leitores, em locais movimentados do Recife. Na estação central do metrô, a surpresa. “Literatura de graça, não paga nada. Pode acreditar”.

Só um presente assim é capaz de atrair quem tem tanta pressa. Tem gente que enche os braços de livros. “Cinco. São pra mim e pras minhas irmãs. Eu tenho quatro irmãs e elas adoram ler também”.

Só no metrô, são distribuídos 800 por dia. As crianças descem o morro para embarcar nas aventuras dos livros.

Professor, ele seguiu a profissão dos pais e dos nove irmãos. Aos 80 anos, Rafael de Menezes se orgulha em ser um semeador de livros.

“É uma semeadura. Estes livros são plantados e frutificam e estas frutas realmente reanimam e alimentam. A educação faz a pessoa crescer”.

Os livros foram ocupando mais e mais espaços na vida do professor. A casa que ele morava se transformou numa biblioteca com cerca de 10 mil exemplares. O corredor foi tomado pelas prateleiras e a antiga cozinha ficou lotada. São tantos livros que o professor teve que procurar outro endereço pra morar.

Ele compra a maior parte dos livros, mas quando precisa de reforço, é só convocar os ex-alunos. São mais de 25 mil voluntários. “Espero que seja de bom proveito para as pessoas que precisem”.

O professor já montou dez bibliotecas em vários estados do Nordeste e faz doações para outras 20. Aposentado, ele nem pensa em parar.

“Isso não para nunca. Isso vai passar para os meus filhos, se quiserem, para os meus amigos, descendentes. Nós temos que fazer com que o povo abra a mente”.

Veja o vídeo

Fonte: Jornal Nacional

domingo, 11 de abril de 2010

A leitura segundo Sartre

Artigo publicado na revista DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.11 n.2 abr/2010

Por Clarice Fortkamp Caldin
Resumo: Expõe o pensamento sartriano a respeito da leitura: um exercício de liberdade, um pacto de generosidade, um engajamento no mundo. Aponta a exigência do autor e do leitor quanto à continuidade da escrita e da leitura. Mostra como Sartre privilegia o leitor e sua consciência imaginante, pois, para o filósofo, o texto só se concretiza no momento da leitura, quando o leitor lhe confere sentido estético. Apresenta a capacidade do leitor em conjeturar sobre o texto, realizando antecipações; tal é possível pelas lembranças e percepções comuns; assim, em Sartre, o tempo é histórico. Menciona a idéia sartriana sobre a prosa ser uma objetividade criada pela consciência a partir de um corpo. Indica o processo de descentramento no ato da leitura, que acontece tanto na produção, quanto no desvelamento do objeto literário; dessa maneira, a leitura transcende o texto. Infere, pela análise de extratos literários selecionados do livro Que é a literatura, que a leitura pode ser considerada um fenômeno temporal, corporal, descentrado, transcendental .

Leia aqui na íntegra

Leitura

Por Frederico Barbosa

Muitas campanhas são feitas, no Brasil, para incentivar a leitura. No entanto, antes de nos perguntarmos como fazer os brasileiros, principalmente os mais jovens, lerem mais, temos que nos questionar sobre o significado da leitura em si. Se indicamos a leitura aos nossos jovens, é porque queremos que a tomem como hábito. Logo, consideramos o ato de ler uma prática salutar e recomendável. Até aí, isso pode parecer óbvio. Mas vejamos como começamos a patinar quando nos perguntam: mas afinal, por que ler é saudável? Por que ler faz bem? Alguns professores e muitos defensores da leitura terão respondido, seguindo a ideologia romântica de Castro Alves ("Bendito o que semeia ideias a mancheias e manda o povo pensar"): porque, lendo, o jovem adquire conhecimento e pode almejar um futuro melhor na vida, quiçá até ascender socialmente... Será?

Como incentivar a leitura numa sociedade que não lhe dá, na prática, o menor valor? Certo, o Brasil não é um país de leitores. Nunca o foi. Poucos foram os momentos em que a literatura conseguiu atingir, entre nós, um público mais amplo do que um pequeno grupo intelectualizado e fechado. Mesmo os nossos mais celebrados e consagrados escritores, como Gonçalves Dias, Machado de Assis ou Carlos Drummond de Andrade, foram e continuam sendo lidos apenas por uma pequena elite mais interessada e informada.

A maior parte dos leitores dos clássicos da nossa literatura parece estar reduzida, hoje, a colegiais que apenas os leem para cumprir uma enfadonha tarefa escolar. Leem obrigados, pela nota, e não pelo prazer da leitura. Grandes criadores de ficção, como Machado de Assis, José de Alencar ou mesmo o próprio Monteiro Lobato, transformam-se, na escola, em verdadeiros monstros, ainda que sagrados. Viram sinônimo de tortura, de chatice, de leitura imposta e cobrada. Um monstro é sempre um monstro: assustador. Um ser sagrado não deve ser tocado, curtido, lido. Deve ser reverenciado à distância, no altar ou na estante — intocado e fechado.

Perde-se de vista que um Machado ou um Alencar, que sempre procuraram deleitar e divertir os seus leitores, escreviam para serem consumidos, não para serem reverenciados. Para que o leitor se aproxime de um clássico, sem medo e sem reservas, é preciso que saiba que nem sempre foi um clássico. Muitas vezes foi um livro revolucionário e polêmico. Alguns foram até obras extremamente populares no seu tempo, como as peças de Shakespeare, que chegou a ser acusado, por seus contemporâneos, de ser um escritor apelativo e popularesco. Aquele que, ainda que muito bem intencionado, procura estimular a leitura de clássicos afirmando que são “fundamentais para se adquirir cultura” não tem, ele mesmo, qualquer prazer na leitura. Como pode querer estimular alguém a ler? Nas palavras do professor Sírio Possenti: "Na escola, praga mesmo é o professor que não lê. Quem não lê não sabe o que está perdendo, e, portanto, não tem por que aconselhar ou criar oportunidades para que outros leiam." (1)

Transformar os clássicos em “monstros sagrados”, em “altares do saber”, só pode afastar os jovens. Ler Camões para se fazer análise sintática, ou, como o fazem os destruidores de leitores mais modernos, Machado de Assis para analisar a conjuntura capitalista de sua época, só pode “enojar” qualquer leitor. No entanto, a sociedade brasileira substituiu, nas últimas décadas, a leitura enfadonha e autoritária (porque mal dirigida) dos clássicos pela leitura superficial e inconsequente da literatura infantojuvenil ou dos best-sellers acéfalos que dominam o mercado. Foi de mal a pior. Ainda segundo Possenti, “Os livros infantis em geral oferecem menos do que a criança já tem, numa forma menos interessante do que os próprios leitores já conhecem. A linguagem repetitiva e supostamente clara e simplificada só pode merecer dos leitores mirins o desprezo." (2)

De que adianta formar leitores de subliteratura, dos manuais de autoajuda, das narrativas lineares e moralistas ditas “espíritas” e de tantas outras formas apelativas e fáceis de sedução do leitor inocente? A leitura de tais obras em nada acrescenta aos seus leitores. A leitura por si só não faz alguém crescer ou pensar. Basta lembrar do quanto lemos exatamente para não pensar: para passar o tempo, para reforçar nossas ideias, para nos distrairmos. Boa parte do sucesso de escritores como Paulo Coelho se dá exatamente porque eles apenas reafirmam, com ares de grande descoberta, o óbvio mais ululante, o lugar-comum que, de tão evidente, torna-se mesmo incontestável e, portanto, cria um elo imediato entre os leitores e o autor, já que os primeiros concordam totalmente com as colocações, irrefutáveis de tão evidentes, do autor.

É uma total ilusão crer que os leitores de Paulo Coelho irão se transformar, um dia, em admiradores de Machado de Assis ou James Joyce. Sem provocação, sem estímulo, nunca irão. Não basta ler muito para ler bem ou para sofisticar o gosto. É possível sim, com a imensa oferta que há no mercado, passar toda a vida lendo apenas a literatura mais apelativa e indulgente. Sem uma mediação eficiente que estimule a passar de um tipo de leitura a outros, este passo simplesmente inexistirá.

Deveríamos voltar aos clássicos sim, mas fazendo deles uma leitura alegre, criativa e estimulante. Será tão difícil ler Sófocles? Que adolescente não há de se fascinar pelo drama de mistério que é Édipo Rei? Que adolescente de hoje não se identificará com os conflitos familiares de Antígona? Que adolescente não entenderá as oscilações de humor de Hamlet, ou rirá com A Megera Domada? É preciso lembrar, de novo, que Shakespeare foi um poeta popular, assim como Sófocles, o Goethe do Werther, Alexandre Dumas, Victor Hugo, José de Alencar...

Creio que o mediador de leitura, deve, em primeiro lugar, procurar conhecer bem seu público, observar o seu grau de maturidade para a leitura, seus interesses, seus preconceitos etc. A partir dessas informações, deve escolher obras que possam estimular o interesse e a curiosidade dos envolvidos. Nunca recomendar um livro apenas “por ser um clássico”, mas porque esse “clássico” pode contribuir para que os leitores se tornem mais maduros, mais interessados, menos preconceituosos; em suma, melhores. Não creio que existam livros “impossíveis”, há aqueles que são, de fato, muito difíceis para leitores muito jovens, por requererem, além da maturidade de leitura, conhecimentos de mundo e da própria literatura que eles ainda não têm. Por outro lado, um livro “difícil” pode sempre, dependendo muito de como for trabalhado por um mediador eficiente, tornar-se um estímulo para que o jovem procure aprender mais.

Assim, não parece existir uma idade certa para ler um clássico. Não podemos fazer generalizações neste campo, já que tudo depende somente da individualidade do leitor. Generalizações nesse (e em qualquer) campo são muito perigosas e tendem a ser um tanto autoritárias. Podem, e frequentemente o fazem, afastar o leitor jovem de livros que lhe poderiam ser fundamentais. Não acredito que a questão seja exatamente de idade, e sim de maturidade para a leitura. Digo maturidade para a leitura e não “do leitor” porque tendem a ser coisas diferentes, embora muitas vezes correlatas. Por maturidade para a leitura, entendo a capacidade de observar os jogos e as sutilezas de um texto e, portanto, sentir prazer na leitura. A capacidade de observação e o prazer, por sua vez, em muito dependem da curiosidade, do interesse do leitor, criança ou adulto. É isso que os mediadores deveriam estimular nos jovens leitores, e não tentar estimular a leitura através da reverência aos clássicos.

Dito isso, fica claro que a escola ou a biblioteca ideais trabalhariam com a leitura de cada indivíduo, caso a caso, já que a experiência pessoal conta muito para a fruição literária. Conta, mas não é tudo. Só quem se transformou em inseto pode ler Kafka? A criança que não quer levantar da cama para ir à escola não pode entender muito bem como se sente Gregor Samsa? Claro que pode. Ou estaríamos irremediavelmente condenados ao que chamo de “reality books”, praga análoga à dos “reality shows” televisivos. Um leitor de 15 anos, bem estimulado e interessado, pode, sim, entender qualquer livro de Thomas Mann muito bem. O fascínio de Aschenbach pelo jovem Tadzio... será tão distante assim dos adolescentes de hoje? Não poderia nos ajudar a entender Michael Jackson? Ou ajudar os adolescentes quando confrontados com situações análogas? É claro que, ao reler Morte em Veneza aos 20 lerá outro livro, e aos 30, aos 40... Ler é uma forma de viver outras vidas. A leitura pode e deve estimular a percepção de outras realidades, ajudar os jovens a sair da casca do egocentrismo que lhes é natural. O adolescente que está na fase do “ficar” tem muito a aprender e se deleitar com a tragédia sentimental de Emma Bovary.

É importante salientar, também, que, com frequência, o que o leitor encontra na leitura é um mundo bem diferente do seu. O que o atrai, muitas vezes, é exatamente o estranhamento, a possibilidade de, por meio dos livros, conhecer realidades (ou irrealidades) distantes. E assim, voltamos à questão do início: por que ler? Certamente há inúmeras respostas a esta questão. Mas quase todas são variações sutis de um denominador comum: para sentir. O grande romancista francês Marcel Proust nos ensina que “talvez não haja na nossa infância dias que tenhamos vivido tão plenamente como aqueles que pensamos ter deixado passar sem vivê-los, aqueles que passamos na companhia de um livro preferido.” Já a nossa Clarice Lispector aproxima o ato da leitura de uma “Felicidade Clandestina”, conto que se encerra com a constatação de que, ao conseguir o seu sonhado livro de Monteiro Lobato, a jovem e ávida leitora “não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.”

Se o poeta escreve para fazer os leitores sentirem a dor “que eles não têm”, como já o disse Fernando Pessoa, o leitor busca não apenas reconhecer no texto lido seus próprios sentimentos, mas também vivenciar, por meio da leitura, sentimentos por vezes desconhecidos, que, com frequência, projeta nas palavras ou mesmo na figura do poeta, ou do famoso “eu lírico”. Assim, a leitura amplia não só a bagagem cultural, mas, melhor ainda, até o repertório emocional e a experiência sentimental do leitor. Lendo uma obra realmente significativa, aprende-se a sentir mais e melhor, refina-se o gosto, o prazer, o sexo e até o amor.

1 - Sírio Possenti. Pragas da Leitura. Série Ideias, n.13. São Paulo: FDE, 1994.
2 - Idem.

Frederico Barbosa é poeta e diretor executivo da POIESIS - Organização Social de Cultura / Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura - http://www.fredericobarbosa.com.br/ e http://www.poiesis.org.br/

Projeto Livro Falado


Trabalha pela inclusão cultural, artística e educacional da pessoa com deficiência visual. Atua desde o ano de 2000 com diversas ações, especialmente no Estado do Rio de Janeiro, graças ao patrocínio e apoios culturais de alguns parceiros. O Projeto Livro Falado foi idealizado e é coordenado por AnaLu Palma.

Nasceu com o objetivo de unir pessoas com deficiência visual e videntes através da literatura e do teatro. Somos apaixonados pelo livro e pela linguagem cênica. Acreditamos que a única coisa que podemos fazer nesta vida é nos humanizarmos, mas não se trata de humanidade por humanidade.

A base estrutural deste PROJETO é a qualificação tanto da pessoa com deficiência visual para a atuação na cena quanto do ledor voluntário para a feitura de livros falados. Nestes caminhos. buscamos criar encontros que primem pela riqueza artística onde o homem se eleve de sua condição básica. É disso que se trata este PROJETO: encontros que enriqueçam nossa humanidade.
Analu criadora do projeto, mestre em teatro
da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ

Para acessar os livros gravados, as pessoas cegas devem entrar no site. Para obter a gravação de um livro específico, é preciso enviar e-mail paralivrofalado@livrofalado.pro.br.  A remessa é gratuita.

sábado, 10 de abril de 2010

Incentivar a Leitura

Por Gabriel Chalita

"O maior acontecimento de minha vida foi, sem sombra de dúvida, a biblioteca de meu pai". A frase impactante e, ao mesmo tempo, grandiosa, por tudo o que traz implícita, foi proferida pelo escritor argentino Jorge Luis Borges.

"O maior acontecimento de minha vida foi, sem sombra de dúvida, a biblioteca de meu pai". A frase impactante e, ao mesmo tempo, grandiosa, por tudo o que traz implícita, foi proferida pelo escritor argentino Jorge Luis Borges. Sua paixão pelos livros seguiu avassaladora até o final de sua vida, quando já estava cego e dependente de amigos ou familiares que liam para ele todos os dias. Borges sofria de um problema congênito na visão, proveniente de seus ascendentes paternos. Mesmo assim, isso não foi empecilho para que ele se tornasse um dos maiores escritores de todos os tempos, autor de preciosidades como "Ficções" e "O Aleph". Todavia, sua história poderia ter sido outra se, desde menino, não tivesse tido acesso ao maravilhoso e encantado mundo dos livros. Clássicos como "As mil e uma noites" ajudaram a fazer com que o menino tímido e retraído da Buenos Aires romântica do início do século 20 pudesse dar asas a uma imaginação já privilegiada, originando o escritor fenomenal em que se transformaria mais tarde. Mudemos, agora, de cenário. Brasil. Recife. No conto "Felicidade Clandestina", Clarice Lispector narra, de forma primorosa, o sofrimento de uma menina pobre cujo sonho era ler "Reinações de Narizinho", clássico de Monteiro Lobato. No final da narrativa, após ter conseguido seu tão desejado exemplar, a menina permanece abraçada ao livro, em êxtase, sem abri-lo por um bom tempo, tamanho é o seu respeito e admiração pelo tesouro recém-adquirido. Entre os grandes escritores, o que não faltam são histórias relatando o amor que devotavam aos livros, ao conhecimento, ao aprendizado... O que seria desses homens e mulheres das letras não fosse o contato precoce com a literatura? Teriam eles seguido rumos diferentes? Teriam se tornado os grandes mestres que conhecemos? Possivelmente, não. Daí a importância crucial de as escolas incentivarem a leitura e a familiarização dos estudantes com o espaço fantástico que são as bibliotecas. Cabe aos diretores e professores organizarem visitas das classes a esses centros do saber em suas escolas. A prática, com certeza, fará toda a diferença na vida das crianças e adolescentes. Para os mais novos, podem ser organizados leituras de histórias em rodas, com direito a interatividade e atividades que, já em sala de aula, complementem o trabalho iniciado na biblioteca. Quando o assunto é o estímulo à leitura, a criação de programas de incentivo é fundamental. Programas como o "Leia Mais" e campanhas como Tempo de Leitura são exemplos bem-sucedidos. Só o "Leia Mais" atendeu mais de 2 milhões de alunos do ensino médio com 3 milhões de livros de literatura. Foram investidos 20 milhões de reais com o envolvimento de 1.245 escritores e 1.934 títulos diferentes para a escolha das próprias escolas. Já a campanha "Tempo de Leitura" teve como palavra-chave o compartilhamento. Mais de 8,5 milhões de alunos do Brasil inteiro, de 4ª e 5ª séries do Ensino Fundamental, levaram para casa uma das seis coleções compostas de cinco volumes do projeto "Literatura em Minha Casa", do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). O PNBE está disponibilizando 30 títulos literários diferentes, contabilizando um total de 12,18 milhões de coleções. Livros de Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Ângela Lago. Luís Fernando Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro, Oscar Wilde, Mark Twain, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e outros escritores e poetas nacionais e internacionais vão fazer parte da biblioteca particular dos alunos. Parafraseando Monteiro Lobato: um país se faz com homens e com livros. É assim que se constrói o futuro e se garante às novas gerações, uma sociedade e um mundo mais condizente com o sonho de todos os grandes escritores e poetas. O verdadeiro educador deve trabalhar em seus aprendizes o desenvolvimento desses valores. Este texto tem como objetivo ser um convite para que reflitamos sobre livros, bibliotecas, sonhos e o quanto eles podem ser fundamentais na vida de todos nós. E para salientar esse conceito, nada mais adequado do que lembrar um trecho do poema O Livro e a América, de Castro Alves: "Oh, Bendito o que semeia/Livros... livros à mão cheia.../E mando o povo pensar!/O livro caindo n alma/É gérmen que faz a palma,/É chuva que faz o mar".

Fonte: Gabriel Chalita

Ações para gostar de ler

Por Gabriel Chalita


Há muito que se pode fazer para desenvolver a leitura. Como a Semana Nacional da Leitura.
Num conto denso, apesar de econômicas duas páginas, Clarice Lispector mostra a expectativa de uma menina que sonha com a leitura de Reinações de Narizinho, que uma colega prometeu emprestar e não emprestava nunca, de pura maldade. O conto se chama Felicidade Clandestina, e sintetiza a paixão pela leitura. A frase que comove pela expressividade é esta: "Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o."

Foi centrada sobre esta paixão que se desenvolve, a cada ano, em Passo Fundo, a chamada Capital Brasileira da Leitura, a Jornada Nacional de Literatura, que na semana de 27 a 31 de agosto cumpriu a sua 12ª edição. Concebida por Josué Guimarães, o escritor passo fundense autor de "Dona Anja" e de "Camilo Mortágua", a Jornada Nacional de Literatura é uma das mais louváveis iniciativas que o Brasil encontrou de divulgar este maravilhoso objeto de desejo que é o livro.

Sabemos que o Brasil lê pouco, e não é nossa intenção bater de novo nessa mesma tecla. É melhor saltar a etapa da constatação vazia e passar para soluções. Afora eventos como o de Passo Fundo, belíssimo no seu conceito e na sua forma, há muito mais que é possível fazer, no dia-a-dia, em casa mesmo, com nossos filhos ou com qualquer criança do nosso relacionamento, para desenvolver o hábito da leitura.

A primeira providência é dos pais, ao estabelecer o hábito de ler histórias para os filhos. Nietzsche relatou, em seus "Escritos autobiográficos", que sua mãe o ensinou a ler e escrever, antes mesmo que ele ingressasse na Escola Primária de Naumburg. E o ensinou tão cedo porque uma das recordações mais vivas de sua primeira infância foi a do escritório onde seu pai preparava suas pregações destinadas à pequena igreja luterana da cidade de Röcken. No escritório, estantes repletas de livros, muitos deles com numerosas ilustrações, as quais faziam daquele lugar o seu preferido na casa.

As escolas devem assumir estratégias de incentivo à leitura, também, como a leitura de contos em voz alta pelas crianças, para incentivar a expressividade e a oralidade. E dramatizações, a cargo de contadores de histórias.

Os professores, por sua vez, devem escolher livros que despertem a atenção das crianças, evitando livros que bloqueiem o desejo da leitura. Todos os autores são fascinantes, mas é necessário planejar o caminho da leitura.

A mídia pode participar ativamente, como fazem Gilberto Braga, Walcyr Carrasco e outros, divulgando em suas novelas autores nacionais e incentivando a leitura. Os programas jornalísticos também podem apoiar, divulgando, por exemplo, iniciativas populares de criação de bibliotecas nas comunidades.

E, ao final, o governo pode e deve executar ações como programas que estimulem a criança a levarem livros para a casa. Desta forma, poderemos ter mais crianças como a personagem de Clarice Lispector, que às vezes se sentava na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. "Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante." Este é o tamanho da paixão que a leitura desperta.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Mais cartazes

"Ler é viajar no tempo"
 
"Ler ilumina"
 
"A leitura leva a sua imaginação às alturas"
"Quem lê, viaja pelo mundo"
 
"O livro e você.
Um pas de deux perfeito"
"Pode mergulhar de cabeça"
"Quem lê, voa."
Droga Raia

Escola e família: parceria na formação de leitores autônomos

Um dos principais objetivos da Escola da Ilha é contribuir para a formação de leitores autônomos. Sabemos que as práticas que geram o gosto pela leitura têm início antes da chegada da criança à escola e vão além do tempo que ela passa na escola. Entretanto, temos clareza da importância das ações desenvolvidas pela instituição escolar com relação ao ensino da leitura e ao gosto pela leitura.
Por isso, listamos algumas das atividades mais presentes no cotidiano dos nossos alunos e outras que poderão ser vivenciadas em casa ou ainda desenvolvidas em parceria entre a escola e a família:

» Garantia de horário de leitura em sala, na biblioteca ou em casa (todos lendo, sem cobrança de atividades relacionadas, mas com espaço para comentar as leituras feitas);

» Ciranda de livros com títulos propostos pelos professores;

» Ciranda de livros com livros trazidos pelos alunos;

» Leitura de livros feita pelo professor ou pelo colega;

*Leitura de livros por capítulos;

*Projetos literários com atividades diferenciadas dentro da temática do livro lido;

*Rodas de conversa sobre um livro lido por todos os alunos;

*Leitura de reportagens interessantes;

*Leitura de textos científicos (relacionados aos projetos ou conforme os interesses dos alunos);

*Oficina de poesia;

*Oficina de escrita e reescrita de textos;

*Leitura na biblioteca da escola;

*Contação de histórias;

*Reconto de histórias;

*Escolha de livro para empréstimo;

*Comentários (propagandas) sobre livros lidos, que estimulem o desejo de ler;

*Fazer um resumo do livro lido;

*Ler para a criança, quando possível, causar suspense, dramatizar, aguçar a curiosidade;

*Ler com a criança fazendo um rodízio (o adulto lê uma página e a criança outra);

*Ler sobre temas estudados;

*Ler notícias de jornais, enfatizando a parte cultural;

*Ouvir a leitura feita por outros leitores;

*Freqüentar bibliotecas, museus e galerias de arte;

*Freqüentar cinemas, teatros, eventos culturais e ler nos jornais notícias e críticas relacionadas;

*Freqüentar livrarias para conferir lançamentos, ler e comprar livros;

*Contar para os alunos/filhos experiências pessoais com a leitura vividas na infância e na adolescência;

*Deixar livros à disposição das crianças (mini-biblioteca);

*Assinar e/ou comprar jornais e revistas adequadas à faixa etária dos filhos;

*Mostrar que a leitura faz parte do seu dia-a-dia.
Concordamos com Jean Hébrard, quando ele afirma que: “... a capacidade de ler ultrapassa consideravelmente a capacidade de decifrar”.

Sendo assim, não é apenas o aprendizado do sistema de representação da língua materna que está em jogo, mas, principalmente, o uso social que os nossos alunos venham a fazer da leitura como ferramenta para conhecer, para se informar, para compartilhar, para apreciar, para se emocionar, para se encantar, para se divertir... enfim, para saber mais.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Quadros de Romero Britto sobre o tema Leitura







Encantados pela leitura

Professora concretiza um sonho de criança e cria, na Escola Classe 04 da Vila Buritis, uma sala de livros onde os estudantes praticam um exercício dos mais saudáveis: trabalhar com a imaginação

Ana e Jane entre as crianças: viagem ao mundo da literatura e
das revistas em quadrinhos mudou a rotina da escola.
Quem não gostava de ler adquiriu o hábito de forma prazerosa

Desde a primeira vez em que colocou os pés na escola, Ana dos Reis Pereira de Sousa - na época, com sete anos - decidiu que seria professora. Apaixonou-se pelos livros de literatura e pelas poesias de Cecília Meireles(1): “Troc… troc… troc… troc… Ligeirinhos, ligeirinhos / Troc… troc… troc… troc… Vão cantando os tamanquinhos…”, já decorava a pequena Ana em uma escola rural no interior de Unaí, Minas Gerais. Quando entoou pela primeira vez a chamada Canção dos tamanquinhos, o gosto pela leitura criou asas e a menina encantada com as coisas finalmente conseguiu realizar o sonho de ensinar. O tempo passou e, agora, aos 46 anos, e depois de 25 em sala de aula, Ana quis voar mais alto e há duas semanas abriu uma sala de leitura na Escola Classe 04, na Vila Buritis, em Planaltina. A professora passou a fazer o que fizeram com ela: estimular as crianças a entrar no mundo da imaginação.

Nem mesmo uma artrose foi suficiente para desanimar Ana, readaptada pela Secretaria de Educação do Distrito Federal para desenvolver atividades extracurriculares que exijam menos esforço físico. Ao contrário, a jovem senhora de cabelos curtos e vermelhos demonstra irreverência e força de vontade para trabalhar. Foi ela quem montou a sala de leitura, acompanhada pela colega de profissão Jane Marques Bacelar, 41 anos. “E com sinal verde da direção da escola”, fez questão de mencionar.

A sala de leitura, há cinco anos, era um desejo tanto das crianças quanto dos professores. Como não havia espaço para ler, um armário de ferro com rodinhas e cheio de livros era passado de sala em sala. “Era o chamado Bibliocar. Eles escolhiam o livro que queriam e devolviam depois que terminavam de ler”, contou a diretora, Sueleny Teles Pires Ghillioni. As prateleiras onde estão os livros de literatura ficam em uma salinha de poucos metros quadrados, mas ninguém precisa se espremer para ficar à vontade. Algumas carteiras e cadeiras ficam no canto da parede para quem quiser ler sentado, mas dois tapetes ao centro são ainda mais chamativos. Antes de entrar na sala, as crianças tiram os sapatos e logo se espalham pelo chão.

Mundo infantil
Tudo é muito divertido na salinha batizada de Mundo Encantado da Leitura. As mesas são revestidas de papel de bichinhos e as paredes receberam pintura colorida para receber os alunos. Ao fundo, destaca-se o desenho de Peter Pan e Sininho saindo de um livro. Um pouco mais abaixo, vem a mensagem: “Tenha pensamentos felizes”. É como se, ao entrar na sala, as crianças entrassem na própria história contada nos gibis e livros infantis. Pelas paredes, também não podiam faltar as poesias de Cecília Meireles. Aluna do 4ª ano, Sara dos Santos, 9 anos, se entusiasma com toda a decoração: “Acho aqui muito lindo. O tapete é bem macio”. A coleguinha Raviny Kaylen do Carmo, da mesma idade, emenda: “Tem também muitos desenhos e as tias ensinam para a gente um monte de brincadeiras”.

Cerca de 500 alunos de quatro a 10 anos frequentam a sala pelo menos uma vez por semana. Para a Páscoa, as professoras organizaram um concurso para eleger o desenho mais bonito a partir da leitura de um livro. Uma centopeia de brinquedo é a mascote da turma e passeia pelas estantes. Nesse concurso, os pequenos terão de escolher um nome criativo para o bicho. Quem vencer ganhará um ovo de Páscoa. “Uma mãe já veio à escola para conhecer a centopeia e ajudar o filho a escolher um nome para ela”, contou Sueleny.

Prazer de estudar
A inauguração da sala de leitura serve de incentivo até mesmo para aquelas crianças que não têm o hábito de ler. Várias brincadeiras são realizadas durante o tempo em que meninos e meninas usam o espaço. “Tem até guerra de almofadas”, contou a professora Ana dos Reis. Tudo para deixar o ambiente escolar ainda mais prazeroso. Mas ir para a sala de leitura não é sinônimo de bagunça: as crianças têm de obedecer regras, como falar baixo e colocar o livro no mesmo lugar onde o pegaram. Aquele que insistir em desrespeitar as normas é levado para uma cadeirinha amarela, como em Supernanny(2), onde fica sentado para refletir.

Por enquanto, apenas alunos da Escola Classe 04 frequentam a sala de leitura, mas a intenção é abrir o espaço à visitação da comunidade. Para a professora Jane Marques, a iniciativa tem dado certo e pode beneficiar mais crianças. “É uma atividade prazerosa. A gente vê a alegria das crianças em virem para a sala.” Aliás, toda a decoração foi custeada pelas professoras da sala de leitura. Ana dos Reis teve de fazer um empréstimo. “Isso aqui não foi um gasto. Todo diamante, ouro e riqueza do mundo é pouco para esse investimento”, resumiu. Mas o melhor ainda está por vir. “Queria na verdade montar uma biblioteca com computador e todos os recursos, mas um dia eu chego lá”, garantiu a mulher dos sonhos encantados.

1 - Cecília Meireles
A poeta, pintora e professora nasceu no Rio de Janeiro em 9 de novembro de 1901. Teve importante atuação como jornalista, com publicações diárias sobre problemas na educação. Ela, inclusive, foi quem montou a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro, no ano de 1934. Cecília Meireles teve três filhas com o pintor Fernando Correia Dias, entre elas a atriz Maria Fernanda Meireles. Cecília morreu aos 63 anos, vítima de câncer.

2 - Supernanny
É um programa de televisão criado na Inglaterra e adaptado em outros países, entre eles o Brasil, onde é exibido pelo SBT e apresentado pela psicopedagoga Chis Poli. A ideia é mostrar ao público como lidar com crianças difíceis, estabelecendo limites e agregando noções básicas de disciplina.

O número 500
Número aproximado de alunos, entre quatro e 10 anos, que frequentam a sala de leitura

Colabore
A Escola Classe 04 de Planaltina está aceitando doações de livros de literatura atualizados. Quem puder ajudar pode ligar para 3901-4439

As primeiras leituras na pré-escola

Fazer de cada criança um leitor requer atividades diárias em que a garotada tenha a oportunidade de ler, trocar idéias, comentar notícias e muito mais

Maria Fernanda Ziegler novaescola@atleitor.com.br


Fotos: Fernanda Sá;
Agradecimentos: Green e Avanti Tapetes

É dever de todo professor, desde a Educação Infantil, incentivar o desenvolvimento de comportamentos leitores antes mesmo de a turma aprender formalmente a ler. Comentar ou recomendar algum texto, compartilhar a leitura de um livro, confrontar idéias e opiniões sobre notícias e artigos com outras pessoas - tudo isso ajuda a estabelecer gostos, reconhecer finalidades dos materiais escritos, identificar-se com o autor ou distanciar-se dele, assumindo uma posição crítica. No mundo todo, crianças que vivem em ambientes alfabetizadores (ou seja, aqueles em que as pessoas fazem uso regular do ato de ler e escrever) têm a oportunidade de construir esse conhecimento naturalmente ao imitar as ações dos parentes e amigos. Já os que não vivem cercados de "letras" precisam (e muito) da ajuda da escola. O fato é que essa ainda não é a realidade do nosso país. Os números do Censo Escolar 2005, feito pelo Ministério da Educação, revelam que apenas 19,4% dos colégios públicos do Ensino Fundamental têm biblioteca: só 27 815, de um total de 143 631 unidades.

Daí a importância de iniciar esse trabalho ainda na Educação Infantil. Além de aproximar as crianças do mundo letrado, a leitura alimenta o imaginário e incorpora essa experiência à brincadeira, ao desenho e às histórias que todos os pequenos gostam de contar. Não é raro ver bebês manuseando livros, apreciando as ilustrações e até virando as páginas, como se estivessem realizando uma leitura silenciosa. Isso é mais uma prova de que é possível formar comportamentos leitores desde muito cedo. Para os menores de 3 anos, é fundamental escolher atentamente as obras por causa das imagens: elas precisam ser grandes, claras e atraentes, pois estimulam a participação. "Ler para as crianças é igualmente importante para elas se familiarizarem com o hábito da escuta. Os temas, é óbvio, devem estar de acordo com os interesses mais genuínos da idade, como afazeres cotidianos, bichos etc.", afirma Ana Lúcia Bresciane, formadora do Instituto Avisa Lá.

A psicopedagoga e especialista em educação especial Daniela Alonso explica que, assim como os deficientes físicos precisam de rampas para se locomover, os deficientes auditivos e mentais também precisam de ferramentas para participar de atividades de leitura. "Não podemos deixar que essa criança só participe da aula. Se ela é surda, trabalhe com livros cheios de figuras. Se ela tem uma deficiência mental e não consegue se concentrar, dê um exemplar para ela acompanhar a tarefa", diz Daniela.
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Uma cidade de leitores

Em São Miguel do Oeste, Santa Catarina, os livros usados nas atividades de leitura tinham pouca qualidade literária. Após um projeto de formação de professores e coordenadores, em 2004, tudo mudou. Hoje as rodas são usadas para divertir, encantar, promover o contato com textos melhores e dar asas aos sonhos e às fantasias das crianças. A coordenadora de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação, Terezinha Osmari, conta que, além de ler por prazer, muitos professores passaram a trabalhar com textos informativos e científicos, ligados a temas de interesse das crianças. E também a mesclar grupos de diferentes idades e envolver a comunidade. "Os que já sabem ler fazem isso para os que ainda não sabem. Coordenadores pedagógicos e diretores lêem na pré-escola. Pais passam a levar livros para ler para os filhos em casa", diz Terezinha. No Grupo Escolar Pedro Aurélio Bicari, a professora Neiva Hauzz promove leituras diárias na classe de 4 anos. "Se as crianças comentam que o dia está frio, pego o jornal e mostro a previsão do tempo para todos compreenderem o sentido dessa leitura."
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Ao alcance de todos

Para formar futuros leitores, é fundamental que a leitura faça parte da rotina diária. O ideal é que não só a escola disponha uma biblioteca mas também todas as salas tenham espaço reservado para livros, revistas e outros materiais impressos - onde todos possam manusear o material livremente e comecem a entender o sentido que o mundo letrado tem para todas as pessoas já alfabetizadas. Por isso, os especialistas dizem que não cabe exigir atividades complementares depois da leitura. Ao contrário. Nessa fase, é melhor não escolarizar a tarefa e esperar algum resultado da parte das crianças. Portanto, nada de questionários sobre a história. O melhor é bater papo e trocar impressões sem compromisso. Ao estabelecer como rotina que cada texto lido seja seguido de perguntas preestabelecidas, você pode criar a sensação de que o ato de ler está necessariamente vinculado a essas respostas (ou à produção de desenhos), o que não é verdade.

"O que fazer depois da roda de leitura deve estar a serviço da construção desse comportamento. Conversar sobre as impressões de cada um abre espaço para que as crianças digam do que mais gostaram ou lembrem de algum episódio já vivido e, assim, se apropriem do uso social do ler", diz Léiva Sousa, coordenadora de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Itupiranga, no norte do Pará, que transformou as aulas de leitura do município.

Antes mesmo de o projeto ser instituído, em 2005, as atividades de leitura eram parte da rotina das escolas. O problema é que elas não serviam para formar leitores. As propostas eram soltas, com muita produção de desenhos sobre temas livres e datas comemorativas. Havia também uma mistura entre o ato de ler e o de contar histórias. A solução foi mudar as práticas em sala para aproximar as crianças dos diferentes gêneros literários e mostrar como há importantes distinções entre a linguagem escrita e a falada. Hoje, as professoras da rede explicam claramente o motivo pelo qual aquele texto foi escolhido e, durante a leitura, respeitam a versão original, não substituindo palavras nem simplificando a narrativa (leia nos quadros outras experiências bem-sucedidas em pré-escolas de Cajamar, na Grande São Paulo, e São Miguel do Oeste, em Santa Catarina).

Ao fazer leituras em voz alta, o professor obtém vários benefícios, que são o que os especialistas chamam de desenvolver comportamentos leitores:
- permitir a interação da garotada com as práticas de leitura,
- fazer com que todos se aproximem e se familiarizem com a linguagem escrita,
- aumentar a curiosidade pelos livros e outros materiais escritos,
- mostrar as diferenças entre a linguagem escrita e a oral,
- ampliar as referências literárias,
- e mostrar que a leitura é sempre fonte de prazer e entretenimento.

E então, vamos começar a promover cada vez mais atividades de leitura para a turma?
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O segredo está na entonação

Jaqueline conta histórias para a
turma e as crianças com os livros

A professora Jaqueline Thomaz, da EMEI Emerson Cruz Machado, em Cajamar, na Grande São Paulo, adora contar histórias para suas turmas. Ela mostra as ilustrações do livro e lê todos os dias antes do lanche para as crianças de 3 e 4 anos. Sempre que pode, se fantasia, usa fantoches, monta um verdadeiro teatro - tudo para garantir um interesse maior do grupo, já que se manter concentrado não é exatamente o forte nessa faixa etária. Por isso, a atividade dura de cinco a 15 minutos, no máximo. À medida que o ano vai avançando, a garotada se familiariza com esse momento e passa a esperar por ele. "Tem mãe que conta que o filho junta os bonecos, faz uma roda e começa a contar uma história com o livro na mão, imitando o que ocorre na sala. Nessas horas, eu vejo que o trabalho está surtindo efeito", comemora Jaqueline.
Escolher títulos de qualidade
literária aumenta o interesse

Além de escolher bons títulos, privilegiando sempre a qualidade literária, a professora acredita que a chave para obter sucesso em atividades de leitura com classes de Educação Infantil é a entonação. Ela conta que, quando está lendo, altera a voz a cada mudança de personagem. E ensina: as obras precisam ser manuseadas livremente pelas crianças. "No início, muitos nem sequer conhecem livros e mordem, amassam, empilham. Mas, se a escola não der essa oportunidade aos pequenos, quem vai dar?", pergunta. Ao ampliar a curiosidade da turma pelo material escrito, a professora permite que todos comecem a entender o sentido das práticas de leitura, se aproximem do mundo das letras e ganhem familiaridade com ele.
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Quer saber mais?

CONTATOS
EMEI Emerson Cruz Machado, Av. Antonio Cândido Machado, 251, 07760-000, Cajamar, SP, tel. 4447-3037
Grupo Escolar Municipal Aurélio Pedro Vicari, R. Terezinha Basso, 183, 89900-000, São Miguel do Oeste, SC, tel. (49) 3622-6164
Terezinha Osmari

BIBLIOGRAFIA
Ler e Escrever na Escola - O Real, o Possível e o Necessário, Delia Lerner, 128 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 32 reais
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