terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Os “ratinhos de biblioteca” viram exemplo para o país

Tatiana Duarte

A taxa de leitura entre os pequenos é superior à de adultos, aponta pesquisa. A média entre 5 e 10 anos fica em 6,9 livros por ano.

acervo de títulos lidos por André Vinícius Zicka Schmidt é digno de dar inveja a qualquer adulto acostumado com o mundo das letras. Com 6 anos, o menino contabilizou a leitura de 154 livros. Ele lê desde os 4 anos e neste período a sua média de leitura foi sete vezes maior do que a observada nesta faixa etária. Segundo a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, entre os 5 e 10 anos de idade, a criança brasileira lê, em média, 6,9 livros por ano. No caso de André, essa média sobe para 51,3 livros por ano.

O menino se destaca também pela complexidade de suas escolhas. Entre as obras lidas por André, nem todas são classificadas como literatura infantil. A façanha literária colocou André como o mais jovem brasileiro a concluir o módulo de Língua Portuguesa do método Kumon. De acordo com a gerente da filial Curitiba do Kumon, Márcia Augusta Torres, alguns adultos não conseguem concluir essa etapa. “O adiantamento do André é comparável a oito anos escolares”, diz.

Desafio

Gostar de ler não é incomum no universo infantil. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, as crianças leem mais que os adultos. Juntos, os gêneros “Li­­te­ratura Infantil” e “Livros Di­­dáticos” representam 66% na escolha dos leitores brasileiros. O estudo feito no ano passado é o último desse tipo divulgado no país.

De acordo com a gerente de projetos do Instituto Pró-Livro, Zoara Failla, o maior desafio é fazer com que as pessoas continuem a ler após a idade escolar. “A literatura como disciplina da escola é um ganho pedagógico, mas os educadores devem ter o cuidado de fazer com que a leitura ocorra de forma prazerosa”, diz.

No caso da pequena Giordana Zanetti Silva, 10 anos, a diversão veio aliada à responsabilidade. De tanto gostar de ler, a menina foi apelidada de “ratinha de biblioteca” pelos colegas da escola e passou a ser referência de leitura em sala de aula. A influência foi tanta que Giordana foi convidada por uma editora para avaliar o conteú­­do dos livros traduzidos que serão lançados. Ao menos uma vez por mês, Giordana vai até a editora palpitar sobre a capa, imagens e, principalmente, sobre o texto dos livros a se­­rem lançados dentro da categoria infanto-juvenil. “Acho legal. Gos­­to de ler. Minha mãe contava his­­tórias para mim desde quando eu tinha 4 anos. Comecei a ler livros com poucas páginas, de­­pois fui aumentando. Leio mais ou menos três li­­ vros por semana”, diz.

De casa

Crianças que têm hábito de leitura geralmente seguem a influência que recebem dos pais, de algum parente ou até mesmo do professor. No caso dos gêmeos Danilo e Vinícius Ferreira, 8 anos, o gosto pela leitura veio com indicações dadas por um primo, Vítor, de 10 anos, que mora em Ribeirão Preto, cidade do interior de São Paulo. “Ele lia bastante, falava que era legal e a gente começou a se interessar”, conta Danilo.

O hábito ganhou um empurrãozinho dos pais, que presenteiam os meninos com pelo menos um livro por mês. A quantidade não é suficiente, segundo relata a mãe dos gêmeos, a funcionária pública Odisséia Lobrigatte Ferreira, 40 anos. “Os dois são verdadeiros devoradores de livro. Em um ou dois dias, eles leem um livro inteiro”, diz. Cada um tem preferências diferentes. Danilo tem gosto bem eclético. Já Vinicius gosta mais do gênero suspense. “As escolhas deles nem sempre estão dentro da faixa etária. Mas leio tudo antes para ver se é adequado”, diz Odisséia.

André e Giordana também foram incentivados em casa, antes de se tornarem leitores vorazes. André é sempre presenteado pelos parentes com livros e revistas. Já Giordana escutava e observava as histórias contadas pela mãe, a enfermeira Marli Vieira Zanetti Silva, 42 anos, desde pequenininha. “Agora ela é a maior incentivadora de seus colegas de escola”, comenta a mãe.

Na opinião da professora de Redação Doralice Araújo, mestre em Metodologia de Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), quando o incentivo à leitura ocorre dentro de casa, é muito difícil que essa criança deixe o hábito de lado, mesmo depois de acabada a idade escolar. “Essa fome, voracidade pela leitura, vem do exemplo que as crianças têm em casa”, diz.

Estímulo



Veja algumas dicas para estimular seu filho a tomar gosto pela leitura:

Ambiente

> Crie ambientes favoráveis à atividade. Deixe livros próximos à cama, revistas e jornais no banheiro e na sala. Uma iluminação adequada é essencial. Cuidado ainda com o silêncio.

Exemplo

> Seja exemplo de leitura. Pais, professores e outros adultos mais próximos da criança que se mostram leitores apaixonados são modelos a serem seguidos.

Escolas

> Escolas onde há bibliotecas fartas e livros dentro da própria sala de aula estimulam o hábito da leitura. Além disso, é preciso criar tempos específicos para estimular o contato das crianças com os livros.

Estímulo extra

> Presenteie as crianças com livros ou assinaturas de revistas de histórias em quadrinhos. Sempre procure a indicação de idade e, quando possível, veja a obra antes de entregá-la à criança.

Passeios

> Leve os pequenos desde cedo às bibliotecas, estimule a confecção das carteirinhas e empréstimos de livros. Também é recomendável levar os pequenos aos espaços onde há contadores de histórias, como em shoppings.







Fonte: Gazeta do Povo

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